Por todo lado: camelôs invadem as ruas das cidades-polo de Minas Gerais; situação preocupa

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
26/06/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:14
 (MAURICIO VIEIRA)

(MAURICIO VIEIRA)

Frutas, doces, capas de celular, eletrônicos, vassouras, panos, brinquedos... A lista de produtos vendidos nas ruas por ambulantes ilegais não tem fim. A cada dia, cresce a presença deles nas cidades mineiras. 

A invasão dos camelôs, que vem sendo combatida na capital, é realidade também em cidades-polo do interior do Estado e na Grande BH. Fruto da crise econômica e, em alguns municípios, da seca, a informalidade avança em Minas e desafia o poder público.

É assim, por exemplo, em Governador Valadares, no Leste do Estado. Lá, parte dos ambulantes deixam barracas montadas constantemente nos passeios. Além de limitar a passagem de pedestres, a ocupação gera insegurança. Passado o horário comercial, o espaço é tomado por moradores de ruas e usuários de drogas. JORNAL DIARIO DO RIO DOCE / N/A

Em Valadares, barracas ficam constantemente montadas e, à noite, local é ocupado por usuários de drogas

Intervenção

O caso é tão sério que o Ministério Público chegou a propor uma Ação Civil Pública para tentar solucioná-lo. “Tem um inquérito aberto. O MP quer que busquemos uma solução para o aumento de ambulantes”, afirma o gerente de fiscalização de posturas da prefeitura local, Marcos Wendell. 

Procurado, o promotor responsável pela ação não quis comentar o assunto. Mas, segundo Wendell, ficou acordado que seria feito um cadastramento dos trabalhadores irregulares. Eles passarão a pagar pelo uso do espaço urbano e seguirão regras já estabelecidas em legislação em vigor desde o ano 2000.

Já foram identificados 331 camelôs apenas na área central. “A ideia é organizar o comércio de rua. Porque acabar com os camelôs é impossível, principalmente no meio de uma crise, quando as pessoas precisam trabalhar”, pondera.

Seca

Em Montes Claros, no Norte de Minas, a seca que assola a região nos últimos seis anos agrava a situação. “Além das pessoas que perderam o emprego por causa da crise, temos aqui aqueles que viviam do agronegócio e perderam renda com a seca”, destaca o secretário municipal de Serviços Urbanos, Vinicius Versiani. VITOR COSTA/JORNAL O NORTE / N/A

A seca agravou a situação dos camelôs nas ruas de Montes Claros; muitos perderam renda com a estiagem

Por ser polo regional, a cidade recebe, inclusive, ambulantes que moram no entorno. O que vem aumentando nos últimos meses. Para frear o avanço, a prefeitura mapeia os camelôs. 

“Depois de saber o tamanho do problema, vamos pensar soluções. Até lá, vamos fiscalizando para conter abusos como obstrução de calçadas e venda de produtos ilegais”, observa. 

Os comerciantes pedem urgência. “A situação é tão absurda que os ambulantes ficam nas portas das lojas, inclusive, atrapalhando a entrada de compradores”, conta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Montes Claros, Ernandes Ferreira. 

Em Juiz de Fora, onde existem 227 ambulantes regulares, as calçadas têm ficado lotadas, com um número bem maior de vendedores. Por isso, o Executivo local tem fechado o cerco com aumento das fiscalizações, segundo a prefeitura. “Meu sonho era que tivesse um resultado. É igual rato e gato. Uma caça que nunca vai acabar”, afirma o presidente da CDL da cidade, Marcos Casarin. 

Mesmo regulares, ambulantes retornam aos passeios

Tentativas de legalização dos camelôs em diversas cidades mineiras tiveram efeito por tempo limitado. Passado um período, novos surgiram, em um ciclo infindável que mostra o quão difícil é o combate ao comércio informal nas ruas.

Em Betim, em abril deste ano, foi criada a “Feira Bem Popular” para concentrar os ambulantes do município. Mas quem passa pelo espaço, percebe que a ideia não “pegou”. Várias barracas estão vazias, uma vez que parte das pessoas já voltou para as ruas. 

É o caso de Emerson Teixeira, de 37 anos. Ambulante há 15 anos, ele viu as vendas caírem pela metade quando foi transferido para a feira. “Tenho filho para criar. Tenho que ficar em lugares mais movimentados para conseguir vender”, afirma. 

Em resposta a essa migração, a prefeitura vai colocar a Guarda Municipal nas ruas para fazer a fiscalização nos próximos dias. E outros ambulantes cadastrados serão encaminhados para a feira, diz o chefe da divisão de feiras e ambulantes de Betim, Camilo Silva. “Vai ter uma fiscalização ostensiva porque foi pensado na inclusão e pessoas não aproveitaram a oportunidade”, observa. 

Na capital, a prefeitura quer retirar, pelo menos, 1.143 trabalhadores irregulares do hipercentro e realocá-los em shoppings populares ou feiras

Para o presidente da CDL da cidade, José Barbosa, a presença dos ambulantes nas ruas agrava a crise para o comércio legal. “As pessoas estão comprando pouco. Nós ainda temos que conviver com uma concorrência desleal. Muitas lojas estão fechando”, salienta. Enerson Cleiton/Jornal de Uberaba / N/A

Centro de Uberaba, no Triângulo Mineiro, tem as ruas estreitadas pela presença dos ambulantes irregulares

Fiscalização

Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, existe uma lei, de 2015,legalizando a atuação dos ambulantes. Na época, eles foram cadastrados e passaram a pagar pela ocupação de praças e áreas públicas. Mesmo assim, a cidade já está lotada de irregulares novamente. “Nós temos nos esforçado para combater isso”, coloca o prefeito da cidade, Paulo Piau. Mauricio Vieira / N/A

A Prefeitura de Contagem contratará novos agentes de fiscalização para tentar reordenar ruas

Em Contagem, onde a prefeitura estima a presença de 2 mil ambulantes, as ruas também estão cada dia mais cheias. “Estamos ficando aqui porque tem uns 12 dias que a fiscalização não passa”, conta Jorge Correia, de 52 anos, que trabalha há dois nas ruas. Ele conta que partiu para a atividade depois que perdeu o emprego. “Preciso sobreviver”. 

Segundo a assessoria da prefeitura, cinquenta auxiliares serão contratados para ajudar na fiscalização a partir de julho. Atualmente, 30 servidores fazem o serviço. 

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