Castração e verba são entraves para o controle de cães e gatos de rua

Ricardo Rodrigues - Hoje em Dia
09/02/2015 às 08:20.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:57
 (Frederico Haikal-Hoje em Dia)

(Frederico Haikal-Hoje em Dia)

Alternativa para o controle da população de cães e gatos abandonados em Belo Horizonte, a castração está em um ritmo considerado aquém do ideal. O motivo é a falta de verba para ampliar o número de cirurgias, o que impede a redução da quantidade de animais errantes na cidade, vetores de males como a leishmaniose visceral. Em 2014, três pessoas morreram, vítimas da doença.

Entre 2008 e 2014, a prefeitura esterilizou 90 mil cães e gatos. O ritmo lento de castrações é reconhecido pela gerente de zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde, Silvana Brandão.

No entanto, de acordo com especialistas, não basta aumentar o número das cirurgias para solucionar o problema. “De nada adianta castrar o animal se ele vai morrer de cinomose, parvovirose, de fome ou atropelado após a cirurgia. Aí sim seria um investimento de recurso público em vão”, adverte a professora Danielle Ferreira, da Escola de Medicina Veterinária da UFMG.

Para ela, é necessário investir em atividades de educação e punir quem abandona. “Também é preciso promover políticas públicas de cuidados, incentivando a vacinação a custo acessível”, completou.

Segundo Danielle, a castração é um dos pilares para estabilizar a população canina, mas deve ser aliada à informação e guarda responsável. “Temos que investir muito em educação, em saúde, nas escolas, nas salas de espera dos consultórios, no trabalho diário dos agentes de saúde, mas também aumentar a fiscalização da compra e venda de animais, a penalização dos maus-tratos e do abandono”, observa.

BH não tem censo de animais em situação de rua nem estudo científico sobre o tema. Porém, de acordo com a Liga de Prevenção da Crueldade contra o Animal, o número supera 30 mil cães. A população pode ser maior, se somados os gatos abandonados.

Dados oficiais

A prefeitura informou que o número de cães domiciliados passou de 284.552 em 2011 para 276.091 em 2012. No ano seguinte, já eram 275.603. “A diminuição, no entanto, não se reflete na população canina encontrada nas ruas”, alerta Danielle. Segundo ela, o percentual de soropositivos é de 18% entre os animais recolhidos pela cidade.

Ampliação do atendimento sem recurso do Ministério da Saúde

Para ampliar a quantidade de castrações, a Prefeitura de Belo Horizonte pretende implantar três centros de zoonoses na cidade, mas esbarra na falta de recursos. Sem financiamento do Ministério da Saúde, o Executivo admite não ter verba própria para custear o material necessário para realizar cirurgias – R$ 6 por animal –, sem contar gastos com mão de obra, logística, infraestrutura física e operacional.

A Secretaria Municipal de Saúde segue o programa nacional para monitorar a leishmaniose visceral, enviando cães doentes para eutanásia. O procedimento com animais em situação de abandono levados para o centro de zoonoses é o mesmo: os sadios são castrados e voltam para as ruas. Os doentes, sacrificados.

BH é um centro urbano com transmissão ativa e em expansão da leishmaniose visceral, constituindo-se um desafio para o programa de vigilância e controle, que mantém 359 agentes nos centros de controle de zoonoses, além de uma unidade móvel.

Os primeiros casos em humanos na cidade surgiram há 20 anos. De 1994 a 2014 foram confirmados 1.650 ocorrências da doença. De acordo com a prefeitura, a incidência diminuiu nos últimos quatro anos: 131 casos em 2010, 83 em 2011, 66 em 2012, 42 em 2013 e 30 em 2014, com três óbitos.

Porém, o percentual de cães soropositivos é elevado: 18% entre os animais recolhidos na rua. “Cães de rua estão mais expostos ao vetor. Muitos foram abandonados pelos donos após manifestarem sinais clínicos da doença ou terem sido diagnosticados como soropositivos. Como muitos proprietários não têm coragem de autorizar o recolhimento para eutanásia, os deixam sozinhos por aí”, pondera a pesquisadora Danielle Ferreira.  

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