Cesarianas 'precoces' crescem em Minas e podem comprometer a saúde do bebê

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
14/08/2018 às 20:28.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:55
 (Divulgação)

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Quatro em cada dez bebês nascidos em Minas em 2018 tiveram menos de 39 semanas de gestação, período considerado ideal para o parto segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Desse total, 62% nasceram por meio de cesáreas, de acordo com informações da Secretaria de Estado de Saúde (SES). 

O número comprova dados nacionais apresentados nesta semana em uma pesquisa das universidades Católica e Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e preocupa especialistas. Crianças nascidas precocemente tendem a apresentar mais problemas de saúde no futuro. 

Coordenador do estudo, o médico e professor Fernando Barros explica que a explosão de cesáreas nos últimos anos produziu uma mudança visível na curva da idade gestacional. Para ele, o Brasil está “perdendo a oportunidade de que as crianças nasçam no melhor momento”.

“Em todo o mundo, vários trabalhos mostram que nascidos antes das 39 semanas necessitarão de atendimento especial em saúde e educação. É claro que os riscos são moderados, mas estamos falando de 900 mil crianças brasileiras em um ano”.

Professora do Departamento de Pediatria da UFMG, Maria Albertina Santiago Rego destaca que os perigos são ainda maiores para crianças nascidas com menos de 37 semanas. Nesses casos, os bebês têm capacidade para respirar fora do útero, mas não possuem as potencialidades de se desenvolver da maneira ideal. “Há riscos mais elevados mesmo nos primeiros anos de vida, sendo que, mais tarde, podem aparecer problemas escolares e até mais graves, como deficiências motoras”.

Segundo informações do Ministério da Saúde, fetos com 37 a 38 semanas de gestação, quando comparados a outros de 39 a 40, possuem 120 vezes mais chances de terem algum tipo de insuficiência respiratória

Desinformação

Hoje, segundo o Ministério da Saúde, mais de 50% dos partos realizados no país ocorreram por meio de cirurgias. O índice coloca o Brasil em segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas da República Dominicana. A recomendação da OMS, no entanto, é que esse tipo de intervenção não represente mais do que 15%. 

Para o obstetra e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Mário Dias Corrêa Júnior, os motivos estão ligados, dentre outras razões, à desinformação da própria comunidade médica. Ele explica que a partir da década de 1960 normas mundiais estabeleceram que uma criança de 37 semanas não seria considerada prematura. “Porém, nos últimos dez anos, estudos mostraram que elas teriam pequenas chances de desenvolver problemas respiratórios e, em uma grande população, isso se torna muito perigoso”, pondera.

Assistência

Em Belo Horizonte, dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) apontam que 7.400 partos realizados em 2018 – 47% do total – foram cesáreas. Já os registros de crianças nascidas com menos de 37 semanas, incluindo os dois tipos de procedimento, já somam 1.676 casos no mesmo período. 

Por nota, a SMSA informou que desenvolve várias ações para incentivar o parto normal. Dentre elas, está o acompanhamento mensal da taxa de cesáreas das sete maternidades que fazem o procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS-BH) e um curso gratuito para doulas voluntárias.

A SES reforçou, também por nota, que apoia a realização do parto normal de forma acolhedora e humanizada. “Por meio do programa (Rede Cegonha) é assegurado às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada durante o período da gravidez, parto e puerpério. Além disso, através do programa, é garantido à criança o direito a um nascimento seguro, crescimento e desenvolvimento saudáveis”.

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