Cidade que se propõe turística oferece só 4 banheiros públicos

Hoje em Dia
23/08/2014 às 08:04.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:54
 (Lucas Prates/Hoje em Dia)

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

Para uma cidade que pretende explorar todo seu potencial turístico, principalmente depois da Copa do Mundo, Belo Horizonte ainda peca em um serviço básico para quem caminha pelas ruas: não oferece banheiros públicos em quantidade suficiente. São apenas quatro endereços no Centro, para atender a uma população flutuante estimada em 515 mil pessoas ao dia.   A capacidade total é de 141 usuários, o que dá uma média de 3.600 pessoas por sanitário.Além da desproporção e do fato de a entrada ser cobrada na maioria deles – somente um é gratuito –, pouca gente sabe da existência desses lugares. Urias Júnior trabalha em uma banca de revistas na esquina da rua Caetés com avenida Afonso Pena e todos os dias ouve pedidos de orientação sobre banheiros na região.   Ele mesmo sente na pele o efeito da falta de opções. “Tenho um amigo que deixa eu usar o banheiro da loja dele. Se não fosse isso, teria que urinar na calça ou pagar cerca de R$ 2 por dia”     Incoerência   Nesta semana, uma proposição de lei para a criação de novas unidades chegou a ser apresentada na Câmara Municipal, mas foi vetada pelo prefeito Marcio Lacerda, por ter o mesmo conteúdo da Lei 8.616, de 2003. O texto prevê a construção, manutenção e exploração de sanitários públicos nos locais de maior trânsito de pedestres.   Questionada sobre o evidente déficit na cidade, a prefeitura limitou-se a dizer, por meio da assessoria de imprensa, que existem “alguns banheiros” na Regional Centro-Sul. Alegou que, durante a realização de eventos, disponibiliza banheiros químicos.   Mas para quem frequenta o hipercentro todos os dias, a sensação é de que não houve avanço nos últimos anos. O taxista Gustavo Antônio Scarponi Spíndola diz que passa aperto todos os dias e precisa pedir ajuda a comerciantes. “Toda hora temos problemas com isso. Onde tem banheiro, a gente vai. Eu já ando com duas chaves: da minha casa e da casa da minha mãe. No caminho, a que estiver mais perto, eu uso”.     Tentativa frustrada   Na área hospitalar, o problema se repete. A situação se agravou depois do fechamento de um sanitário público subterrâneo, na década passada, na avenida Bernardo Monteiro, nas proximidades do Hospital das Clínicas. Hoje, quem passa pelo local é incapaz de acreditar que, ali, era possível até tomar banho.   O banheiro era todo em granito e foi construído por causa dos parentes de pacientes internados na região. “A empresa que venceu a licitação acabou abandonando a iniciativa, e o lugar virou ponto de uso de drogas e de frequentes brigas, até que a prefeitura resolveu aterrar”, lembra o comerciante Ricardo Freitas, que trabalha próximo ao extinto sanitário, hoje um canteiro.      Urbanista desaconselha instalações isoladas   Na avaliação do urbanista e professor da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade Fumec Jacques Lazzarotto, Belo Horizonte não tem infraestrutura suficiente para abrigar novos sanitários públicos em locais de grande concentração de pessoas, principalmente se o serviço for gratuito.   “Sem cuidados, é pura ilusão achar que esse tipo de medida vai ser implementada na base da lei. Essa situação não se sustenta se for de graça. Nem iluminação pública nós temos sem pagar”.   Segundo ele, o ideal seria que os banheiros fossem associados a outras construções já existentes, como o Mercado das Flores, na avenida Afonso Pena, e as estações do Move na avenida Santos Dumont, ambos na região Central.   Além da escolha adequada do endereço de instalação, o urbanista destaca a importância de realizar a manutenção e a conservação das estruturas.   “Os sanitários públicos não são meramente um mobiliário urbano, como uma travessia de pedestres elevada ou uma cabine telefônica. São um equipamento que precisam de ocupar muito espaço para ser eficiente. É preciso que seja uma construção de alta resistência, com manutenção diária, limpeza e saneamento constantes, senão, vai haver um ambiente extremamente contaminado”.     Exemplo   Para a arquiteta Susana Meinberg, um modelo que deveria ser copiado é o de Paris, onde há grande oferta de sanitários públicos em ótimo estado de conservação e higiene.   “Em Belo Horizonte, até que havia alternativas nos anos 60, em cinemas e grandes lojas, mas os espaços de uso comum da cidade foram se esgotando. Hoje, a avenida Afonso Pena, que se transformou na espinha dorsal da capital, não tem opções. No entanto, seria muito interessante ampliar essa oferta”.      PONTO A PONTO     Banheiros públicos de BH   Galeria da Praça 7 (rua Rio de Janeiro, 630)  Banheiro masculino: 1 Banheiro feminino: 1 Capacidade: 30 pessoas Preço:R$ 0,50   Rodoviária (Praça Rio Branco) Banheiros masculinos: 2 Banheiros femininos: 2 Capacidade:68 pessoas Preço: R$ 0,50   Parque Municipal René Gianetti (av. Afonso Pena) Banheiros masculinos: 3 Banheiros femininos: 3 Banheiro infantil:Capacidade: 31 pessoas Preço: gratuito     Shopping Caetés (Rua Rio de Janeiro, 224) Banheiro masculino: 1 Banheiro feminino: 1  Capacidade: 12 pessoas Preço: R$ 0,40

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