Contenção de gastos compromete fiscalização da PRF em Minas

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
06/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:24
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

Sem dinheiro nem para pagar a gasolina usada pelos próprios agentes, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) terá postos de fiscalização fechados e redução da carga horária dos servidores. A medida é implantada em pleno período de férias, quando as estradas ficam historicamente mais cheias. 

Caminho livre para a violência, negligência ao volante e, consequentemente, aumento dos acidentes e roubos de carga em Minas, estado com a maior malha rodoviária do país.

O plano de contingência imposto irá acabar com os grupos táticos de fiscalização e operações da PRF no território mineiro, segundo fontes ligadas ao processo. Serão priorizados casos de acidentes graves e criminalidade.

Na sede da corporação, em Contagem, na Grande BH, conforme nota da PRF, a carga horária será reduzida de 8h às 17h – com intervalo de uma hora para o almoço – para 9h às 15h. 

O tempo restante, de acordo com fontes consultadas pela reportagem, será descontado do banco de horas dos agentes. A corporação não apresentou o número dos postos que serão fechados em Minas. O Sindicato dos Policiais Rodoviários do Estado não comentou o assunto.

Cenário

Com as mudanças, é esperado grande impacto nas rodovias federais. “Sem dúvida teremos abusos. Não haverá mais fiscalização das condições do automóvel o que facilitará, por exemplo, a travessia de drogas e armas. Vai reduzir muito a segurança dos motoristas, principalmente à noite”, afirma o presidente da ONG SOS Rodovias Federais, José Aparecido Ribeiro. 

No período de recesso escolar, no qual as estradas ficam lotadas, os acidentes se multiplicam. O primeiro fim de semana deste mês já apresentou aumento no número de mortes nas rodovias. Segundo a PRF, foram 12 óbitos. No fim de semana anterior, havia sido seis.

Outro possível problema é o roubo de cargas. “Para nós, esse contingenciamento é um caos. Aumenta espaço para as quadrilhas especializadas atuarem livremente”, observa o consultor técnico do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de Minas Gerais (Setcemg), Luciano Medrado.

O que já é um problema mesmo com o atual número de postos. Dados da Federação das Empresas de Transportes de Carga de Minas Gerais (Fetcemg) dão conta de 450 roubos de cargas registrados nas rodovias mineiras, de janeiro a maio de 2017. No mesmo período de 2016, havia sido 320.

“A crise econômica tem tornado as estradas mais perigosas. Era hora de reforçar o policiamento”, aponta o assessor de segurança da instituição, Ivanildo Manuel dos Santos. 

Contenção

As mudanças têm explicação econômica. Para custear as operações até o final do ano, a PRF tem apenas R$ 50,7 milhões em todo o país. Levando em conta que a instituição gastou R$ 207,1 milhões até agora, seriam necessários, em média, R$ 29 milhões por mês. Assim, o valor que sobra não é suficiente nem para dois meses de trabalho. 

Tudo isso, segundo o Ministério da Integração, porque o Ministério da Justiça reduziu em 44% o valor previsto para instituição neste ano. “Todos os ministérios estão passando por um processo de contenção na execução dos gastos dada a limitação orçamentária”, explicou a pasta, em nota.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por