Crianças desenvolvem doenças de gente grande em Belo Horizonte

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
22/04/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:12

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Obesidade acomete 41 milhões de crianças ao redor do mundo, afirma OMS

 A vida moderna regada a refeições industrializadas e pouco tempo para brincadeiras têm afetado a saúde das crianças belo-horizontinas. Entre 2013 e 2015, foram 537 internações de pequenos de zero a 14 anos acometidos por sete doenças típicas de adultos. Entram na lista até cirrose e hipertensão arterial.

Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e não mostram a evolução das internações a cada ano. No entanto, especialistas confirmam que as crianças estão cada vez mais sofrendo com problemas de saúde de “gente grande”. 

Para esse crescimento, há explicações, relata a presidente da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), Maria do Carmo Barros de Melo. “Uma delas é o novo ritmo de vida a que estão expostas. Mas tem também a questão do diagnóstico, que agora está mais preciso”, afirma.

Análise

Das 537 internações ocorridas, 84 foram registradas entre crianças de zero a quatro anos. Desse grupo, os mais novo apresentaram agravamento em todas as doenças analisadas, com exceção da depressão.

A enfermidade que mais levou pequenos a serem internados em BH foi o diabetes, com 353 casos no total. As chamadas artropatias inflamatórias, ou artrites, também levaram muitos ao hospital. Foram 108, sendo 11 bebês.

“O diabetes do tipo 1 é mais comum na infância e não tem causa esclarecida. Mas a do tipo 2, que começa a aparecer com maior frequência nos menores de 14 anos, está associada a uma alimentação incorreta”, observa o pediatra e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cássio Ibiapina. 

A hipertensão arterial, que afeta muitos adultos, também está mais frequente que antes nos consultórios pediátricos. A doença foi o motivo da internação de 31 crianças nos três anos levantados pela SMS.

“As crianças precisam de mais diálogo, atividades físicas e menos tempo de tela, que é como chamamos uso de celular, televisão e tablet. Aconselhamos ao menos uma hora de brincadeiras como bola, corrida e pique-pega”Cássio IbiapinaPediatra

Agravamento

A cirrose hepática, que na fase adulta está muito associada à ingestão de alto volume de bebidas alcoólicas, afeta crianças. Nesse caso, não existe um consenso sobre as reais causas, porém os médicos acreditam que o aparecimento da enfermidade esteja ligado ao consumo exagerado de açúcar. 

Independentemente das causas, sabe-se que 19 crianças foram hospitalizadas com a doença do fígado na capital. Dez delas tinham entre zero e quatro anos. 

Outras 11 apresentaram agravamento de úlcera, 14 depressão e uma de dislipidemia, ou seja, níveis anormais de colesterol no organismo. 

“As crianças estão sofrendo o impacto da alimentação à base de muito açúcar e gordura saturada e da total falta de tempo para a realização de atividades físicas. E olha que na infância atividade física está associada ao lado lúdico, ao brincar”, afirma Ibiapina. 

Obesidade e depressão afetam menores e são porta de entrada para outras doenças

Considerada como uma doença epidêmica global do século 21 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade está cada vez mais presente entre os menores. A entidade estima que existam 41 milhões de crianças com menos de cinco anos obesas no mundo. 

No Brasil, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23,2% dos alunos do nono ano do ensino fundamental, com 14 anos, estão com sobrepeso ou obesos. Em Belo Horizonte, o percentual é de 21,7%. 

Uma das explicações é a má alimentação. Em outra pesquisa, o IBGE mostra que 64,3% dos bebês com idade inferior aos dois anos comem biscoitos ou bolos. Outros 34,2% consomem refrigerantes e sucos artificiais

“Muitos pais recorrem à alimentação mais fácil. Porém, o aconselhável é a escolha pelo saudável”, afirma a presidente da SMP, Maria do Carmo Barros de Melo.

Ela lembra que também pesam sobre isso o sono e a rotina da criança.

A mesma correria diária que tem deixado as crianças obesas colabora para que elas fiquem deprimidas.

Na capital mineira, 14 crianças foram internadas com a doença entre 2013 e 2015. Treze delas com idades de 10 a 14 anos. 

Hábitos

Segundo a psicanalista e pedagoga Maria Íris Mendes, até os bebês de um ano podem sofrer de uma pré-depressão, que é quando começam a mudar os hábitos. Os motivos são vários, mas muitas vezes passam pela falta de atenção e carinho dos pais e por uma dificuldade de aceitação de regras. 

“É preciso que os pais fiquem próximos dos filhos dando não somente amor, como também limites. Porque muitos deles ficam deprimidos pois não estão preparados para a vida”, afirma.

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