Custo bilionário com acidentes em rodovias federais

Gabriela Sales - Hoje em Dia
24/09/2015 às 06:43.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:50
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

O prejuízo humano com acidentes de trânsito nas rodovias federais do país é imensurável. Afinal, apenas em 2014, foram mais de 8 mil mortes e 26 mil feridos graves. No entanto, ao se considerar os gastos com atendimento hospitalar, deslocamento de veículos de socorro, pagamento de indenizações e danos materiais com os veículos envolvidos, o montante ultrapassou R$ 12 bilhões.

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgados na quarta-feira (23), esse prejuízo decorrente dos acidentes se igualou ao valor de investimentos na malha federal em 2014: R$ 12,4 bilhões, sendo R$ 890 milhões em Minas, de acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit).

O investimento ainda é pequeno. O aporte necessário para deixar todas as rodovias do país, inclusive a s estaduais, um “tapete” é estimado em R$ 293 bilhões, conforme a Confederação Nacional do Transporte (CNT).

“As melhorias nas rodovias federais diminuem consideravelmente o risco de acidentes, mas ainda são pequenas para o tamanho da necessidade”, diz o mestre em transporte da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Silvestre de Andrade Puty Filho.

No geral

Considerando toda a malha rodoviária (federais, estaduais, municipais), o prejuízo com acidentes no país, no ano passado, foi de R$ 40 bilhões. Ao todo, foram mais de 43 mil mortes e 160 mil feridos graves.

A maioria dos registros com colisão frontal ocorreu em pista simples (89,7%). E em mais de 90% dos casos houve morte.

O inspetor Aristides Júnior, chefe da assessoria de comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), informa que grande parte dessas colisões acontecem devido à imprudência ou à inexperiência dos condutores. “Alguns motoristas acham que sabem ultrapassar, mas acabam fazendo o cáculo de tempo errado”.

Violência

Na maioria das batidas frontais, o resultado é a morte ou a mutilação das vítimas. “São colisões fortes e com a velocidade muito acima do permitido para a via, o que agrava ainda mais a situação”, diz Júnior. A pesquisa do Ipea mostrou que, no país, ocorreram 169 mil acidentes nas estradas federais fiscalizadas pela PRF.

Consultor de trânsito, Osias Batista Neto reforça a necessidade de mais investimento em conscientização. “O governo federal precisa investir em equipamentos de fiscalização, policiamento e educação dos novos motoristas. Acredito que esses quesitos podem diminuir os riscos”.

O inspetor acredita que o rigor das punições ao motorista infrator, aliado a campanhas educativas, podem resultar na diminuição do índice de acidentes. “Nossas leis são rigorosas, mas a penalidade é lenta. A sensação de impunidade reduz a preocupação dos condutores, que acabam provocando acidentes”.

Média assustadora de 463 ocorrências por dia

Dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) mostram que, em 2014, ocorreram 463 acidentes de trânsito e 23 mortes por dia, em média, em todas as vias do país.

Esses acidentes, de acordo com o levantamento do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), envolveram 301.351 veículos. No estudo, Minas aparece com o maior número de acidentes (21.858) e mortos (1.162), enquanto o estado do Amazonas, tendo o menor índice de ocorrências, sendo 168 acidentes com 18 mortes. Minas tem a maior malha rodoviária, com 35 mil quilômetros.

Frontal

A família da funcionária pública Lúcia Silveira, de 58 anos, faz parte desta triste estatística. O que era para ser uma viagem de férias terminou em tragédia na BR-381. Em maio do ano passado, cinco pessoas viajavam de BH para o Espírito Santo, de carro, quando o veículo foi atingido por um caminhão desgovernado em uma das dezenas de curvas acentuadas entre Belo Horizonte e João Monlevade (Central).

O pai e a irmã de Lúcia morreram na hora. “Foi traumático e assustador. A imprudência de um motorista mudou a vida da minha família”.

o ano passado, 13.627 pessoas foram atendidas no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, vítimas de acidentes de trânsito. Segundo a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), 249 pessoas morreram.

Sem retorno

Para especialistas, os valores gastos em socorro de vítimas poderiam representar aprimoramento no atendimento à saúde, além de investimento nas estradas.

“A sociedade acaba arcando com um gasto que poderia ser aplicado em melhorias nas rodovias”, reforça o mestre em transporte da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Silvestre de Andrade Puty Filho.

A Polícia Rodoviária Federal tem 401 postos de fiscalização; nos últimos dez anos, a corporação apresentou uma expansão de 32% em seu quadro de policiais, com um total de 10.175 agentes em 2014.

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