De cada dez postos de saúde da capital mineira, dois não têm ginecologista

Bruno Moreno
bmoreno@hojeemdia.com.br
31/05/2017 às 20:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 15:37
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Mulheres que dependem da rede pública da capital para serem atendidas por um ginecologista estão com dificuldades para encontrar o profissional em 20% dos postos de saúde. Das 152 unidades da cidade, não há o médico da especialidade em 30. Conforme o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de BH (Sindibel), a área é a com o maior déficit no SUS–BH.

Há situações em que há mais de cinco anos o ginecologista não aparece. É o caso do Centro de Saúde Ouro Preto, na Pampulha. Lá, conforme constatou o Hoje em Dia, as pacientes nem tentam mais marcar consultas. O jeito é pagar por consultas particulares.

Já no Centro de Saúde São José, o ginecologista se aposentou há dois anos e a vaga não foi preenchida. Algumas mulheres, como a dona de casa Alessandra*, foram encaminhadas para outras unidades. “É muito fora de mão o posto de saúde para onde me mandaram”, diz, mostrando um documento da primeira consulta no bairro Serrano, de setembro de 2015.

Saúde comprometida

A falta desses médicos afeta a saúde da mulher, afirma o presidente da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Carlos Henrique Mascarenhas. “Pode ter atraso em diagnósticos, dificuldade no acesso a exames, não tratamento de patologias no momento adequado. Intercorrências que atrasam o tratamento eficaz”.

Para o especialista, mais concursos e a efetiva nomeação dos aprovados são alguns dos fatores para o déficit. “Em 2016, um concurso foi feito, mas não homologado”, disse.

Infraestrutura precária e carência no acesso a exames e procedimentos também motivam o quadro, alega Carlos Henrique. Ele também critica a insegurança no local de trabalho e a sobrecarga das atividades.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que as pacientes de postos onde não há ginecologistas são encaminhadas para outras unidades. O órgão garante que não há descontinuidade da assistência. A pasta ainda afirma que quatro dos dez ginecologistas nomeados no concurso de 2016 tomaram posse. Neste ano, foram contratados mais cinco médicos.

Modelo de contrato e salários afastam profissionais da rede

Para tentar suprir a falta de ginecologistas na rede municipal de Belo Horizonte, a prefeitura admite profissionais por meio de contrato administrativo. Porém, de acordo com a Secretaria de Saúde (SMSA), existem unidades sem esses profissionais devido à falta de interessados em ocupar as vagas nesse modelo de contratação.

Já a Sogimig também aponta a remuneração como empecilho para o interesse dos especialistas pela rede SUS-BH. De acordo com o presidente da entidade, Carlos Henrique Mascarenhas, o salário pago pela prefeitura da capital está abaixo da tabela defendida pela Federação Nacional de Médicos, que é de R$ 15 mil para uma jornada de 20 horas semanais.

Conforme a SMSA, os rendimentos variam de R$ 4.314 a R$ 5.214 para as 20 horas semanais, dependendo da classificação do centro de saúde onde o ginecologista está atuando. “Existe uma discrepância. O profissional teve uma formação de quase dez anos”, argumenta Carlos Henrique.

*Nome fictício

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