De vilã a parceira na luta contra os gases do efeito estufa

Renato Fonseca - Hoje em Dia
11/11/2014 às 07:21.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:58
 (Dione Afonso)

(Dione Afonso)

Responsável por dispersar 49 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, ou 39% das emissões mineiras ao ano, o setor agropecuário representa um dos principais desafios na redução dos Gases de Efeito Estufa (GEE). Porém, pesquisas acadêmicas e incentivos fiscais podem transformar o vilão em um importante colaborador contra as mudanças climáticas. A solução viria de ações permanentes de reflorestamento e até alterações na alimentação do gado.
Na edição dessa segunda-feira (10), o Hoje em Dia mostrou que gases produzidos em atividades da pecuária e da agricultura contribuem para o aquecimento global. Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que mudanças climáticas, como a extrema seca vivida neste ano, serão ainda mais severas se nada for feito.
Em Minas, mais de 60% do dióxido de carbono dispersado no setor agropecuário vêm da pecuária. Atualmente, o Estado tem 550 mil estabelecimentos rurais e uma área ocupada de 33 milhões de hectares. São mais de 24 milhões de bovinos.
A fermentação entérica do gado, nome dado aos gases produzidos durante a digestão dos alimentos, representa um dos principais obstáculos na redução das emissões dos GEE. Formas de amenizar os impactos do gás metano produzido por bois, vacas e outros mamíferos, têm sido alvo de estudos.   Em Minas, a Universidade Federal de Lavras (Ufla), no Sul do Estado, é referência em pesquisas acadêmicas no setor rural. Professor do Departamento de Medicina Veterinária, João Chrysóstomo de Resende Júnior avalia formas de acrescentar produtos naturais, como frutas, à alimentação do gado. A ideia é modificar a fermentação intestinal do bicho e reduzir a concentração de metano.
“Os ruminantes, neste caso os bovinos, têm um estômago complexo, que potencializa os efeitos do gás metano produzido após a digestão. Estou analisando como alterar a dieta desses animais com outros alimentos que ajudam na redução de colesterol sanguíneo em humanos e animais”, afirma Chrysóstomo Júnior.
  O trabalho foi iniciado recentemente e envolve outros professores e alunos de mestrado e iniciação científica da Ufla.   Lucro com boas práticas agrícolas de baixo carbono   Outras medidas integram o Plano de Energia e Mudanças Climáticas, da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam). Técnicos e ambientalistas visitarão áreas rurais para sensibilizar produtores. Capacitações e treinamentos serão oferecidos. O foco será incentivar a recuperação de pastagens.   “Pode até parecer uma simples conscientização. Porém, todo produtor prioriza mais ganho, lucro. Isso é possível com a adoção de boas práticas agrícolas de baixo carbono”, disse o gerente de energia e mudanças climáticas da Feam, Felipe Nunes. “Uma área recuperada representa um retorno mais rápido do gado ao local. Consequentemente, aumenta a produção”.
  Também serão criadas linhas de crédito rural para quem adota medidas sustentáveis. Hoje, o principal programa é o Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC), do Ministério da Agricultura. Produtores que adotam medidas como o tratamento de dejetos animais podem contar com o incentivo fiscal.   Recuperação de áreas degradadas   Outra importante bandeira na redução dos gases na agropecuária é a regeneração de áreas degradadas. A recuperação possibilita que o carbono seja aproveitado na composição da nova vegetação, impedindo a dispersão na atmosfera. A remoção dos gases por meio de plantios florestais ocorre pelo processo de fotossíntese. É o chamado “sequestro do carbono”.   De olho neste potencial, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) desenvolve pesquisas por meio do sistema de integração de lavouras, pecuária e florestas. O potencial do sequestro de carbono, com a implantação do manejo integrado, pode ser de até 40%. Outra pesquisa, também da Epamig, é feita em uma fazenda da Zona da Mata. Na propriedade, foram plantadas seringueiras geneticamente melhoradas. As árvores são resultado do cruzamento de algumas espécies e teriam maior capacidade de absorção de carbono.

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