Defesa de seguranças diz que laudo de necropsia de fisiculturista indica lesão no pescoço

Da Redação
portal@hojeemdia.com.br
24/10/2017 às 15:16.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:22
Fisiculturista Allan Guimarães Pontelo morreu dentro de boate em setembro de 2017 (Reprodução/Facebook)

Fisiculturista Allan Guimarães Pontelo morreu dentro de boate em setembro de 2017 (Reprodução/Facebook)

O advogado de defesa dos seguranças da boate Hangar 677, Ércio Quaresma, afirmou, nesta terça-feira (24), que teve acesso ao laudo de necropsia de Allan Guimarães Pontelo, de 25 anos, e que o documento indica uma lesão no pescoço do fisiculturista. "Ele teria sido alvo de um mata-leão, talvez por ter tentado uma fuga e precisou ser imobilizado; talvez a lesão tenha sido provocada por um conjunto de duas forças, uma que tentava conter e outra que tentava evadir", justificou. 

Segundo a defesa, o laudo não aponta nenhuma fratura no pescoço, a cervical não foi rompida. A causa da morte indicada no laudo, porém, não foi revelada por Quaresma, que representa a empresa CY Security, responsável por fornecer os funcionários que estavam trabalhando no dia em que Allan morreu. 

Pela manhã, três seguranças da boate foram presos. As prisões temporárias por 30 dias foram ordenadas pela Justiça e confirmadas por Quaresma. Mas a Polícia Civil não deu detalhes das prisões nem dos resultados dos laudos. "As investigações seguem em sigilo e outras informações serão repassadas somente na conclusão do IP (Inquérito Policial)", limitou-se a corporação.

Já Quaresma, que defende dois dos suspeitos, alega que as prisões são arbitrárias e desnecessárias, que todos são primários, têm residência e emprego fixo. "Não vi nenhum elemento que justificasse as prisões", declarou.

Segundo o advogado, quatro seguranças foram indiciados, mas somente três foram encontrados neste manhã. Um deles, que portava uma arma no dia do caso, e que não é cliente de Quaresma, chegou a ser preso à época, mas foi solto pelo delegado. Os outros haviam prestado apenas depoimento.

Cetamina

Quaresma também questiona a substância cetamina, encontrada nas vísceras e no sangue do fisiculturista, de acordo com laudo da Polícia Civil. No início de outubro, após dúvidas levantadas em torno do laudo, a PC divulgou nota informando que "a substância detectada no laudo, a cetamina, é usada como anestésico para procedimentos cirúrgicos, sedação e analgesia, sendo de uso estritamente médico", não sendo considerada, portanto, droga.

Mas, na ocasião, a empresa responsável pela segurança da boate afirmou que, "ela (a substância) não é uma droga qualquer, é potencialmente destrutiva. Para se ter uma ideia dos riscos que oferece, os médicos orientam a pessoa que fizer uso da Ketamina, a ficar sob a vigilância de outra pessoa por pelo menos 24 horas, tal a quantidade de efeitos colaterais nocivos que pode causar a quem dela fizer uso". 

Quaresma disse que ainda mensurar a quantidade ingerida, já que o laboratório responsável pela análise não tinha meios para isso. Um perito foi contratado para assessorar a defesa.

A reportagem do Hoje em Dia conversou com a coordenadora da Comissão Assessora de Farmácia Clínica do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais, Mariana Gonzaga, que esclareceu que a susbtância não é ilícita, mas está na lista dos medicamentos potencialmente perigosos da ONG ISMP Brasil, referência nacional ao uso seguro de medicamentos. "Não é ilícita, é um anestésico, uma susbtância de controle especial, de uso exclusivo hospitalar, mais utilizado nas anestesias de animais e menos nas anestesias de humanos, por causa do efeitos adversos", explicou. 

Mariana Gonzaga ainda explicou que a substância causa sensações como flutuação do corpo, confusão mental, fala desconexa, pesadelos e alucinações. Ainda segunda ela, a substância é usada, por algumas pessoas, como droga, para recreação. Em outros casos, até na bebida para sedar a outra pessoa, como o "boa noite cinderela". "O risco para quem utiliza é alto, risco de efeitos cardiovasculares graves, infarto, AVC hemorráfico, pode aumentar pressão arterial, o batimento cardíaco, o fluxo de sangue cerebral e pressão intracraniana", esclareceu.

Relembre

Allan morreu durante uma festa na boate Hangar 677, no bairro Olhos D'água, na região do Barreiro, no dia 2 de setembro. A versão preliminar da Polícia Militar dá conta de que o jovem teria sido flagrado por seguranças usando drogas dentro do banheiro do estabelecimento. Ele então tentado fugir do local, saltando as grades de contenção, quando caiu no chão, já desacordado. 

Ao chegar no local, os policiais já encontraram o jovem sendo atendido pela assistência médica da própria casa de shows. Ele foi entubado e recebeu massagens cardíacas para ser reanimado, mas não resistiu. 

Amigos do jovem que também estavam no estabelecimento alegam que Alan foi levado por seguranças que tentaram forçar a saída dele da boate. Ele teria sido agredido por seguranças, o que teria motivado o óbito.

Em laudo divulgado pela PC, o exame toxicológico da vítima deu negativo para o uso de substâncias ilícitas, asssim como o exame de constatação de álcool. 

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