Despoluição da Lagoa da Pampulha pode trazer competição náutica de volta

Renato Fonseca - Hoje em Dia
27/07/2015 às 06:25.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:05
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Manhã de domingo, 27 de julho de 1975. Milhares de pessoas se espremiam nos gramados da orla da Lagoa da Pampulha, principalmente nas imediações do Iate Tênis Clube. Sob sol forte e muito calor, os espectadores assistiam às máquinas voadoras, como eram chamados os pequenos barcos a motor. Naquele dia, o cristalino espelho d’água recebia acirradas disputas da última etapa do Campeonato Brasileiro de Motonáutica.

Nesta segunda-feira, 27 de julho de 2015 – exatos 40 anos depois – um alento aos que sonham em ver o cartão-postal como palco de esportes náuticos ou mera recreação para as famílias mineiras. A novela em torno da despoluição da represa ganhou novos capítulos e, caso a promessa do poder público seja cumprida à risca, a obra ficará pronta no segundo semestre de 2017. A otimista previsão é da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa).
Segundo a estatal, começa nesta semana a implantação de cinco quilômetros de redes interceptoras de esgoto ao longo de bairros próximos ao córrego Sarandi, em Contagem, na Grande BH. As intervenções estavam paralisadas em função de processos judiciais de desapropriação. “A obra fica pronta em novembro”, garantiu o gestor da Copasa do Programa de Despoluição da Lagoa da Pampulha, Valter Vilela.

Sem o sistema, todo o serviço de desassoreamento, concluído no fim do ano passado, seria em vão, atesta o biólogo e consultor ambiental Diego Lara. “A despoluição sempre dependeu de uma série de fatores. Agora, com o fim do despejo de esgoto, é possível pensar no restante dos trabalhos, que envolve a limpeza da água”. Porém, ele ressalta que, mesmo após todas as etapas concluídas, dificilmente nadar e pescar na lagoa será uma realidade.
“Todo esse processo visa colocar as águas impuras na chamada Classe 3, ou seja, própria para a prática de esportes. O mau odor, por exemplo, será eliminado. Mas, lembrando que para isso é preciso ainda que as ações anunciadas pela prefeitura de Belo Horizonte sejam concluídas”, acrescenta Lara.

Próximas etapas

O biólogo se refere à retomada da licitação para selecionar a empresa que irá executar o serviço de limpeza dos córregos que deságuam na lagoa. De acordo com a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), está definida a implantação de uma Estação de Tratamento de Águas Fluentes (Etaf) e de jardins filtrantes para tratamento conjunto dos córregos Água Funda e Bom Jesus, próximo à enseada do zoológico.

O projeto está concluído e o orçamento em elaboração. A expectativa é a de que a obra seja iniciada ainda em 2015. A modernização de outra Etaf, existente na entrada dos córregos Ressaca e Sarandi, também está sendo avaliada por meio de uma parceria entre a Copasa e a Prefeitura de Belo Horizonte.

Clima festivo marcava as manhãs dos torneios na barragem

Nas árvores, potentes caixas de som. Em toda a orla, bares abarrotados e o vaivém de ambulantes que vendiam de tudo: cerveja, churrasquinho e até doces. Era uma festa para a família mineira, dizem os mais saudosistas ao se referirem aos campeonatos de motonáutica realizados na Pampulha.

As provas eram divididas em seis categorias conforme a potência das lanchas. Alguns barcos alcançavam mais de 150km/h. As disputas começavam por volta das 10h e seguiam até as 13h. Tudo era narrado pelo radialista mineiro Dirceu Pereira, morto recentemente. Os troféus eram entregues no Iate Clube, onde ocorria, na sequência, um almoço entre os atletas, organizadores e familiares.

Naquela manhã de 27 de julho de 1975, o jovem Silvinho Ximenes, que despontava como uma das promessas nacionais da categoria, foi um dos que subiu ao pódio. “Era uma espécie de Fórmula 1 das águas. Sem exagero, os barcos voavam”, conta hoje, aos 64 anos, o respeitado empresário do ramo imobiliário de Belo Horizonte.

No restante da década, Silvinho não parou de acumular títulos. Foi campeão mineiro, paulista, carioca, gaúcho e nacional. Ele conta que em todas as etapas do Mineiro e do Brasileiro, o evento na Lagoa da Pampulha arrastava multidões. “Era um acontecimento. Infelizmente, no início da década de 80 a lagoa já estava bastante suja e, naquela época, o alerta já tinha sido lançado. Mas nada foi feito e a situação atual é essa, lamentável”, afirma Silvinho.

As lembranças dele vão ao encontro das de Aparecida de Carvalho, de 74 anos. Moradora de Santa Luzia, na Grande BH, ela vinha com os pais e irmãos assistir aos torneios na represa. “Tinha que chegar cedo para garantir um bom lugar. A água pura e linda. As pessoas se divertiam. Um tempo bom que se foi e dificilmente voltará”, recorda Aparecida.

Cronologia

Com capacidade para 18 milhões de metros cúbicos de água, é inaugurada a represa. Porém, ao longo das décadas seguintes houve uma perda de cerca de 50% do volume devido à ocupação desordenada e aos escassos investimentos em saneamento.

Até o fim desta década, espelho d’água recebia grandes competições náuticas – mineiras e nacionais – e também era palco para diversas recreações em família.

Neste ano ocorreu a primeira intervenção de desassoreamento. Objetivo era retirar sedimentos como terra, areia e entulho do fundo da lagoa. Não há informações oficiais da quantidade de material dragado.

Toneladas de sedimentos são remanejadas para a construção do Parque Ecológico da Pampulha. Em uma ilha de 300 mil metros quadrados, próximo à desembocadura dos córregos Ressaca e Sarandi, foram plantadas 3 mil mudas de árvores.

1998
Mais de 200 toneladas de lixo foram retiradas após cinco operações de limpeza. Pneus velhos, garrafas, armários, sofás e colchões estão entre os materiais recolhidos.

2000
Plantas aquáticas que se proliferam com a presença de esgoto, os aguapés estavam tomando parte da superfície do espelho d’água. A maior parte estava concentrada no entorno da Ilha dos Amores. Uma intervenção foi feita.

2004
Nova operação de limpeza. Desta vez, cerca de 2 mil toneladas de lixo foram retiradas. No mesmo ano foi inaugurado o Parque Ecológico da Pampulha.

2012
Copasa dá início à implantação de cerca de cem quilômetros de redes coletoras e interceptoras de esgoto em bairros situados ao longo da bacia da Pampulha, em BH e Contagem.
2013
Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) inicia a principal obra de desassoreamento da Lagoa da Pampulha: dragagem de mais de 800 mil m³ de sedimentos. Na segunda etapa da obra, prevista para 2016, será feito o tratamento da água contaminada. 2014
Em outubro, a prefeitura concluiu a obra de desassoreamento. Foram retirados materiais orgânicos e inorgânicos sedimentados, carreados ao longo dos anos pelos afluentes da Bacia Hidrográfica da Pampulha. 2015
Em maio, são liberados os processos judiciais de desapropriação de áreas situadas em Contagem. Obras começaram neste mês e devem terminar em novembro. Na semana passada, a PBH anunciou a modernização da estação de tratamento de efluentes da Pampulha e a implantação de jardins filtrantes em alguns córregos.  

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