Diabetes cresce entre homens; comportamento de risco favorece salto de 160% da doença em BH

Flávia Ivo
fivo@hojeemdia.com.br
06/08/2018 às 06:00.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:46
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

O comportamento relapso do sexo masculino em relação à própria saúde e o avanço da medicina no caminho de diagnósticos mais precisos foram fatores decisivos para uma estatística alarmante. Em Belo Horizonte, o número de homens com diabetes cresceu 160% nos últimos 11 anos, conforme pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. O percentual é quase três vezes superior à média do país, onde a doença aumentou 54% entre eles.

Para a presidente da Regional Minas Gerais da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), Beatriz Rocha, até a chegada da meia-idade – quando geralmente ocorre o aparecimento da enfermidade – homens raramente vão ao médico, exceto nos casos em que algo parece errado.

“Estão muito ligados ao trabalho, a prover a casa e a família, construir a carreira. Tudo isso gera ansiedade, descuido com a alimentação, o consumo de alimentos rápidos e não saudáveis e, claro, aumento de peso. Além disso, não têm tempo para exercícios físicos”, descreve a endocrinologista.

Em relação às demais capitais do país, Belo Horizonte ocupa o segundo lugar na estimativa de homens com diabetes, perdendo o topo do ranking apenas para Boa Vista, em Roraima

Experiência

A falta de atividade física e os maus hábitos alimentares foram determinantes para o aparecimento do diabetes, aos 33 anos, na vida do professor aposentado do Cefet Minas Wellington Luiz Borges, de 61. 

“Considero que tenho uma alimentação saudável, apesar de sair da linha em festas e reuniões de família, estou um pouco acima do peso e não tenho me exercitado por causa dos pés. Já operei duas vezes, tudo relacionado ao diabetes. Também tive retinopatia (mal que pode causar cegueira)”, relata o professor, que precisa de aplicações diárias de insulina.

O caso de Wellington é similar ao de outros pacientes que convivem com o diabetes, afirma o diretor da Sbem, Paulo Augusto Carvalho Miranda. “Com o avançar da idade, o impacto da doença na vida das pessoas é gradativo. Por isso é tão importante a manutenção do peso em níveis adequados, alimentação saudável, acompanhamento médico regular e atividade física constante”.

Avanços

Os especialistas relacionam a estatística preocupante também aos diagnósticos mais precoces e a um avanço nos serviços de saúde na capital mineira.

“Apesar de estar ainda distante do ideal, o acesso à saúde em Belo Horizonte está bem melhor em relação à época em que a pesquisa Vigitel começou a ser feita (2007). Os homens descobrem mais a doença hoje que antes”, explica o médico.

O especialista diz, ainda que a medicina tem melhorado na metrópole. “O diagnóstico tem sido feito com mais precisão, precocemente”, completa a médica Beatriz Rocha.

Ambos dirigentes da Sbem acreditam que uma mudança comportamental, tanto masculina quanto feminina, começou. “Nos últimos dois anos, a população parou de engordar e, de forma geral, tende a melhorar a alimentação e a prática de atividades físicas”, coloca Miranda.

Já Beatriz relaciona as alterações de hábitos ao uso da tecnologia. “As pessoas estão muito mais antenadas por questões de acesso, de mídia, de saúde. Isso é importante agora para tentar evitar as doenças no futuro”.

Congresso

O diabetes será um dos principais temas tratados na 33ª edição do Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia (Cbem), que acontece em BH, no Expominas, entre esta terça (7) e 11 de agosto. Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais (Sbem-MG), Beatriz Rocha, essa é uma oportunidade para aprofundar as discussões.

“Nosso foco será em formas de diagnóstico e a subclassificação do tipo 2 do diabetes. Além disso, abordaremos as medicações. Hoje são mais de 15 disponíveis, de classes diferentes e efeitos colaterais diversos”, explica a médica.

Outra temática atual a ser tratada é a transexualidade. “Teremos palestras abordando o tratamento endocrinológico de pessoas transgêneras, um assunto em pauta”, coloca Paulo Augusto Carvalho Miranda, diretor da Sbem e presidente do Cbem.

A expectativa é receber cerca de 4 mil médicos durante os cinco dias da programação em cursos de qualificação, workshop, conferências e palestras. Osteoporose, deficiência de testosterona e tumores endócrinos são outros assuntos destacados pelos médicos.

 Leia mais:

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por