Dificuldade em encontrar doador aumenta espera por transplante de medula óssea

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
03/03/2017 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:47

Encontrar um doador de medula óssea compatível é um desafio para pacientes que lutam contra a leucemia, assim como a mato-grossense Nádia Andrade. O caso da bióloga ficou nacionalmente conhecido depois que ela iniciou, nas redes sociais, uma campanha para achar quem pudesse lhe salvar a vida.

Ela chegou a identificar um doador mineiro compatível cadastrado no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), mas, apesar da expectativa, ele não foi encontrado.

O episódio chama a atenção para a importância do cadastro de novos doadores. Em Minas, esses registros reduziram em 12% de 2015 para 2016. “O percentual no Brasil de (doadores) indisponíveis, ao serem selecionados, está em torno de 20%”, revela Alexandre Almada, gerente de relacionamento do Redome.

A queda de novos registros agrava o cenário já marcado pela dificuldade em localizar doadores compatíveis para quem aguarda pelo transplante. Hoje, as chances são de 1 em cada 100 mil pessoas, conforme o Redome. 

“A situação no país ainda é muito razoável se comparada com outros, que já alcançaram os 60% de indisponibilidades. Há mais de 4 milhões de doadores no Redome, que é o terceiro maior registro do mundo, e cerca de 28 milhões no planeta. A busca é realizada em todos os lugares, simultaneamente”, explica Alexandre Almada.

Agravantes

O doador ideal, como um irmão compatível, só está disponível em 25% das famílias brasileiras. Ou seja, 75% dos pacientes precisam buscar doadores voluntários, bancos públicos de sangue de cordão umbilical ou familiares parcialmente compatíveis. 

O médico coordenador do Serviço de Oncologia do Hospital das Clínicas da UFMG, André Murad, explica que a queda de doadores está diretamente ligada à falta de campanhas de conscientização. 

Ele explica que, há dez anos, os números começaram a crescer no país, mas, hoje, o esforço de divulgação é proporcionalmente menor.

“O tempo de espera pelo doador pode aumentar muito. Isso também é um problema porque as famílias cada vez têm menos filhos. Logo, se você não tem irmãos, é muito mais difícil encontrar um doador compatível. Antigamente, com famílias de 6 ou 7 irmãos, era muito mais fácil resolver essa questão”, observa André Murad. 

A atualização do cadastro de doadores em bancos de dados é uma demanda necessária. De acordo com o Redome, muitos doadores permanecem de 20 a 25 anos inscritos e devem rever os dados. Hoje, os cadastrados podem fazer alterações pelo redome.inca.gov.br/doador

Garra e determinação são parte essencial do processo de busca pela compatibilidade

A maratona para encontrar o doador ideal exige do paciente muita força de vontade. E é esse o sentimento que acompanha Nádia Andrade, que chegou a passar por um transplante em 2014, tendo como doador o próprio pai. 

“Fiz em junho, mas em setembro houve a rejeição. Agora vou tentar de novo e receber a doação da minha mãe. Não posso mais esperar para encontrar outro doador”, explica. 

Foi por saber dessa urgência que a jornalista Flávia Freitas iniciou o projeto “Quinta do Bem”, que busca incentivar o cadastro de doadores de medula óssea em Belo Horizonte.

“A ideia nasceu após dois casos de leucemia na minha família. Meu irmão, que faleceu antes da fase do transplante, aos 18 anos, e minha prima, que chegou à essa fase, mas teve rejeição pós-transplantes e faleceu”, conta.Flávio Tavares / N/A

Eliane Santos saiu de BH para Natal, no Rio Grande do Norte, para doar a medula para um paciente; “me senti realmente abençoada”, revela


Incentivo

O projeto, iniciado em 2011, não demorou a ganhar adeptos. Um dos casos de destaque foi o da funcionária pública Eliane Santos, que foi contactada pelo Redome pouco tempo depois de realizar o cadastro.

Em junho de 2015, ela viajou para Natal, no Rio Grande do Norte, para finalizar os exames que comprovariam a compatibilidade dela com um paciente do Nordeste. 

“Eu até me arrepio e fico emocionada quando lembro. Faria tudo de novo. É gratificante demais saber que ajudei a salvar a vida de alguém. A pessoa tem uma chance em 100 mil. É algo muito forte. Me senti realmente abençoada. Não nos custa nada e a recuperação é super rápida”, comemora Eliane.

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