Educação em grupo: paredes caem em nome do saber

Raquel Ramos - Hoje em Dia
12/11/2013 às 07:25.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:05
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Esqueça a escola onde as turmas são divididas por idade, professores passam a matéria no quadro e alunos são submetidos a avaliações que apontam quem aprendeu o conteúdo. Fugindo de padrões adotados em todo o mundo, instituições de ensino de Belo Horizonte apostam em uma nova forma de ensinar.

É o caso da Escola da Serra, que se baseia no modelo construtivista defendido pelo pensador Jean Piaget. Lá, os estudantes sentam-se em grupo para compartilhar conhecimentos. Em vez de anos letivos de 200 dias, há ciclos de três anos para que os alunos tenham mais tempo para assimilar conteúdos.

Agora, a instituição se prepara para uma das maiores mudanças em duas décadas de existência: uma reforma que quebrará paredes para que as salas sejam substituídas por grandes ambientes de estudo.

“Assim, alunos de diferentes idades, mas do mesmo ciclo, ficarão juntos. Eles estarão à frente do próprio aprendizado, mas sendo orientados por professores, que deixam de ser os únicos detentores do saber”, afirma o dono e diretor da escola, Sérgio Godinho.

A experiência tem respaldo legal. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as escolas têm autonomia para definir o projeto pedagógico. São poucas, no entanto, que se arriscam a inovar.

Prazo de validade

O modelo convencional de ensino é alvo de críticas por parte de alguns especialistas. “Está ultrapassado, em desacordo com as demandas contemporâneas”, opina Alessandra Latalisa, coordenadora da graduação em pedagogia da Fumec.

Um novo jeito de educar, porém, exigiria mudanças até na formação dos professores. Via de regra, os cursos de pedagogia não abrem a possibilidade para métodos de ensino ousados.

“O percurso é longo. Mas já vejo experiências positivas no cenário mineiro, como a Escola da Serra, o Instituto Libertas, o Colégio Mangabeiras e a escola Balão Vermelho”, exemplifica.

Inspiração vem da Europa

O modelo adotado pela Escola da Serra tem como referência a Escola Básica da Ponte, colégio público fundado na década de 1970 em Portugal.

Como o prédio não tem paredes internas para separar estudantes por idade ou série, crianças e adolescentes compartilham o mesmo espaço físico. Além disso, os alunos têm autonomia para escolher o tema do estudo do dia. Eles se agrupam conforme a área de interesse a ser pesquisada, independentemente da idade.

No livro “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir”, o educador brasileiro Rubem Alves faz uma reflexão crítica sobre a experiência da Escola da Ponte.

Ousar, prática ainda distante das escolas públicas

Especialista e pesquisador em educação, Claudio de Moura Castro acredita que modelos pouco convencionais de ensino não se adaptariam à realidade das escolas públicas brasileiras. “Na teoria parece bonito. Mas estamos falando em milhões de alunos. Com cautela, alguns avanços até poderiam ser introduzidos. Mas a rigidez administrativa e as regras do jogo não permitiriam grandes mudanças”, afirma.

No entanto, ele também não condena o ensino tradicional que prevalece no Brasil e no mundo. “Esse é um modelo já polido, que formou pessoas importantes e de destaque. É mal aplicado em algumas escolas, mas tem muitos pontos positivos”.

Respeito a cada um

Com nove anos de existência, o Instituto Libertas também arrisca projetos pedagógicos diferenciados. “O currículo é o mesmo. Mas exploramos mais a individualidade dos alunos”, diz Andrea Zica, diretora pedagógica.

Estudantes com facilidade em português, por exemplo, têm a chance de aprofundar o conhecimento na área e extrapolar o que é exigido na grade curricular.

Por outro lado, alunos com dificuldade em uma disciplina têm “tempo extra” para assimilar o conteúdo. “Não fazemos esse recorte anual para determinar se um aluno é aprovado ou reprovado. Aqui, ele tem tranquilidade para aprender, sem ser punido”.

O próprio tamanho da escola – que prioriza turmas de até 20 estudantes – favorece que as inovações sejam colocadas em prática.
 

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