Enem deste ano terá recorde de alunos com atendimento especial para fazer o exame

Natália Portinari - Folhapress
01/10/2016 às 12:08.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:03

O sonho de Mayara Ferreira, 19, é cursar direito na USP. A sua adolescência foi turbulenta: há cinco anos, perdeu a mãe, e, há dois, descobriu um câncer na perna. "Passei três anos achando que a dor na coxa era dos jogos de futebol ou de andar de skate", conta a menina.

Após o diagnóstico, Mayara abriu mão das peladas com os amigos de Jandira (Grande SP) e passou a dedicar todo o tempo livre aos estudos.Ela é uma dos 30 estudantes que se inscreveram para realizar o Enem, em novembro, no Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graacc), na Vila Clementino (zona sul de SP).

Neste ano, o exame nacional bateu o recorde de inscritos que precisam de atendimento especial. São 170,2 mil alunos, entre idosos, gestantes, deficientes, sabatistas ou em classe hospitalar. O atendimento mais comum é a sala de fácil acesso, requisitada por 19.612 estudantes.

No Graacc, que recebe a prova todos os anos, há uma Escola Móvel com 21 professores que garante que pacientes não precisem interromper os estudos. São aulas individuais, com docentes que acompanham os alunos na internação ou na quimioterapia.

"Eles perguntam se queremos ter aula e respeitam nossos limites. Se a gente fica cansado, a aula para", afirma Heitor Motta, 18, que também vai prestar a prova no hospital e quer estudar ciência da computação ou design de games.

No caso de Vinicius Pereira de Souza, 17, que se mudou de Montalvânia (MG) para realizar o tratamento de leucemia em São Paulo, os professores seguiram o programa da escola em que o adolescente está matriculado, aplicando as mesmas provas feitas por seus colegas em Minas Gerais.

"Vou participar da formatura. Sinto um pouco de falta de lá", diz o estudante. Sua rotina de estudos, trabalho com o pai e aula de capoeira foram interrompidos com o diagnóstico em 2014. Ele cursou o segundo e o terceiro ano do ensino médio no Graacc.

Segundo a coordenadora pedagógica da Escola Móvel, Amalia Neide Covic, a ideia é que a escola seja "uma ponte entre o tratamento e a realidade da qual o paciente veio".

Atualmente, são 300 estudantes atendidos. O projeto existe desde 2000 e funciona em convênio com a Unifesp (Universidade Federal de SP). "Ninguém aqui se preocupa se vai passar de ano ou se tirou nota baixa. É outra dinâmica, os alunos entendem que fizeram o melhor possível e os pais têm orgulho de ver os filhos fazerem uma prova como o Enem", diz Amalia.

O Enem deste ano tem 17 mil estudantes inscritos com algum tipo de deficiência visual. Destes, 12.216 têm baixa visão e 1.211 são cegos. É o caso de Elaine Cristina Pereira Lopes, 42, que é cega e mora em Campo Limpo Paulista (SP). Suas duas filhas gêmeas, de 18 anos, estão ajudando a mãe a estudar aos fins de semana, quando ela tem folga da Fundação Dorina Nowill, na Vila Clementino, onde trabalha na produção de livros para cegos.

Elaine se sustentou por anos cantando nos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Ela quer prestar pedagogia para ajudar pessoas com deficiência visual a terem acesso ao ensino. "É difícil encontrar professores preparados e acesso a materiais didáticos."

Para Beatriz Menezes dos Santos, 20, que tem baixa visão e vai fazer a prova do Enem com fonte aumentada, algumas dificuldades são difíceis de contornar.
"O Enem é uma prova muito longa. Para quem tem problema de visão, ler por muito tempo sempre vai ser cansativo", afirma.

O governo do Maranhão disse ter identificado 35 detentos como os mentores dos ataques. Ao menos 23 deles serão transferidos a presídios federais de segurança máxima, em São Paulo, Rio Grande do Norte e Acre.

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