Eliza Samudio: infância marcada por assédios e o sonho de ser modelo

Amanda Paixão - Do Portal HD
01/03/2013 às 10:08.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:16
 (Eliza Samudio/Reprodução)

(Eliza Samudio/Reprodução)

Ela sonhava em ser modelo, mas ganhou a fama ao estampar as páginas policiais de todo o país nos últimos três anos. No entanto, o que muitos não sabem é que a polêmica história protagonizada por Eliza Silva Samudio começou muito antes dela ficar conhecida como a ex-amante do goleiro Bruno Fernandes de Souza.

Nascida em 1985, na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná, Eliza cresceu longe da mãe, Sônia Fátima Silva Moura. Em um documentário feito pelo canal A&E, emissora fechada de TV a cabo, a agricultora, que hoje vive em uma pequena propriedade agrícola de produção de pimenta, em Campo Grande, relata o fim do casamento com o pai de Eliza, Luiz Carlos Samudio, hoje condenado por estupro e foragido da Justiça. Ele teria cometido o crime, em 6 de dezembro de 2003, contra uma menina de apenas 10 anos. 

Sônia conta que, aos quatro meses de gestação, foi pressionada pelo marido a abortar. “Ele não queria a filha, então nos separamos. Fiquei um tempo longe dele e voltamos quando estava praticamente no fim da gravidez”, disse. O divórcio do casal ocorreu um ano depois do nascimento de Eliza, que passou a ser criada pelo pai até os 18 anos.

Na infância, ela era fã de futebol. Por dez anos, jogou como goleira em um time de futebol de salão na cidade natal. “Parei porque não dava dinheiro e também sou muito preguiçosa, não gosto de me exercitar”, contou a ex-modelo a um jornal carioca, em 2009.

Assédio sexual na infância 

A mãe de Eliza lembra que a juventude da filha não foi nada fácil. Sônia revelou que Eliza era assediada e oferecida para favores sexuais pelo próprio pai a amigos dele. Questionada o motivo de ter criado a filha, a agricultora alegou que, além de ter sido bastante agredida por Luiz Carlos, sofria constantes ameaças.
 

Eliza era assediada e oferecida para favores sexuais pelo próprio pai a amigos dele (Reprodução)



“Ele falou que eu poderia ir buscar minha filha, mas ia levá-la em pedaços, porque não iria entrega-la inteira. As pessoas me perguntam porque abri mão dela. Eu preferia ter ela viva”, contou em meio a lágrimas.

Para o advogado que fará a defesa da família Samudio, no julgamento no próximo dia 19, José Arteiro Cavalcante, Eliza era uma sonhadora. “Ela era ligada a mãe, mas não gostava de ficar agarrada a ela, pois a genitora sempre morou no mato. Uma moça que pretende ser modelo, ser artista, não quer ficar no meio do mato”, afirmou. 

Ao completar a maioridade, a jovem de corpo esguio, pele clara e cabelos negros, deixou o lar e foi para São Paulo atrás do sonho que tinha desde os 13 anos: ser modelo. “Dentro de casa, ela já não vivia bem, o pai dela a assediava. Ela fugiu do pai”, disse Arteiro.

Na cidade grande, Eliza viveu em função de uma ideia fixa: encontrar um príncipe encantado no mundo do futebol. "O negócio dela era ir a festas para tentar se aproximar de jogadores", contou Rita Oliveira, que abrigou Eliza em sua casa no Jaguaré, zona oeste de São Paulo, durante três anos. A declaração foi feita ao jornal Folha de São Paulo, em agosto de 2010.

Ela frequentava concentrações, campos de treinamento e festas, porque queria se aproximar e gostava de jogadores de futebol. O contato com atletas, entre eles jogadores de seleção, era mantido através de telefonemas, internet, e até teria rendido passeios internacionais para países como Portugal e Alemanha.

"Ela queria uma relação estável e fantasiava que ia casar com cada jogador com quem se relacionava, mesmo que por uma noite", declarou Rita na publicação paulista.

Eliza Samudio fala sobre envolvimento com Cristiano Ronaldo (Jornal Extra)
 

 


Envolvimento com o mundo pornográfico

Eliza Samudio, entre 2005 e 2009, trabalhou como atriz em produções pornôs com os nomes artísticos “Fernanda Faria” ou “Victória Sanders”, nas quais há cenas de sexo explícito.

Em entrevista, Sônia Samudio contou que as pessoas a perguntam porque a filha fez filme pornô. “Eu falo: quem é você para condenar? Você não sabe das condições que ela estava vivendo. Você não sabe porque que ela fez isso. De repente foi a maneira que ela tirou para sobreviver”, desabafa.

Ainda no documentário exibido pelo canal A&E, o advogado Cláudio Daledone revela que Eliza não tinha um registro se quer na carteira de trabalho, e já havia filmado pelo menos quatro filmes pornográficos. Para ele, que já representou Luiz Henrique Ferreira Romão, o “macarrão”, um dos acusados do caso Bruno, ela era uma profissional do sexo.

Com trajes curtos, Eliza faz video sensual
 


Eliza e Bruno se encontram

Com alguns trabalhos no Rio de Janeiro, a jovem conheceu o goleiro Bruno Fernandes em maio de 2009, quando ele defendia o gol do Flamengo. Em outro vídeo postado na internet, Eliza relata que uma amiga dela a apresentou ao atleta durante uma festa na casa de outro jogador de futebol. “Eu cheguei, ele estava sentado, sem camisa e por sinal tem um porte físico atraente. Até então eu fiquei na minha. Falei para uma amiga nossa 'tô passando mal', ele é muito bonito, pelo menos de corpo. Aí ele chegou em mim e falou que queria ficar comigo. Eu falei com ela que era para deixar rolar. Aconteceu, a gente se envolveu”, disse Eliza.

Começo de um drama
 


Três meses depois, a ex-modelo estava grávida do atleta. A gravidez foi anunciada publicamente e atribuída a Bruno. No mês de outubro daquele ano, Eliza registrou uma ocorrência contra o jogador. Ela foi sequestrada pelo amante e levada até uma casa no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, onde foi mantida em cárcere privado. Lá, ela foi obrigada a ingerir um líquido, tomar comprimidos, possivelmente abortivos, conforme apontou o delegado Edson Moreira, responsável pelas investigações.

Na época, Eliza procurou a imprensa e contou sobre o que havia acontecido. No vídeo feito pelo jornal carioca Extra, a ex-modelo contou que foi ameaçada caso não fizesse aborto do filho que esta esperando. “Eles falaram assim: sexta-feira você vai abortar a criança. Se você for à delegacia ou em qualquer lugar, mato você, mato sua família, mato suas amigas, porque eu sei onde está cada uma delas, sei o nome de cada uma delas”, lembrou Samudio.

Depois dessa agressão, ela saiu da cidade fluminense e foi para São Paulo, onde teve apoio de familiares, das amigas e conseguiu ter Bruninho. Nesse período, Eliza já havia entrado com um processo de reconhecimento de paternidade conjugada com pensão alimentícia.

Tentativa de um novo mundo

Foi durante a gestação que a modelo decidiu dar um rumo diferente na vida, dizendo que voltaria a estudar e trabalhar assim que seu filho ficasse maior, contou uma mulher que morava com Eliza. A jovem preferiu não se identificar. “Dizia que não queria ser uma mulher à toa. Que iria fazer faculdade, mas ainda não tinha decidido qual curso iria fazer, e compraria uma pick-up”, revelou.

Sobre a personalidade, ela contou que Eliza era “carente, mas alegre e de personalidade forte. Lutava pelo o que queria. Além disso, era muito fechada quando o assunto era a família ou a sua infância. Ela falava muito pouco, dizia que se dava bem com a madrasta. Um dia percebi que tinha alguma coisa errada, mas evitei comentar esse tipo de assunto com ela”, contou.

A amiga disse ainda que o desejo de Eliza, caso acontecesse alguma coisa com ela, era que Bruninho não fosse entregue ao avô. Ela era apaixonada pelo filho.

“Ela ligava para contar que ele deu alguma risada. Estava sendo uma supermãe. Ela nunca abandonaria o filho, pois era a vida dela”, afirmou.

A última vez a amiga teve contato com Eliza foi em 4 de junho de 2010, quando disse que iria encontrar Bruno na concentração do Flamengo, pois queria levar Bruninho ao médico já que o menino estava doente. Depois dessa data, foi vista com o goleiro Bruno em seu sítio, em Esmeraldas, na Região Metropolitana.

Morte por esganadura

No dia 24 de janeiro de 2013, após determinação da juíza do Tribunal do Júri de Contagem, Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, o Cartório do Registro Civil de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, emitiu a certidão de óbito de Eliza Samudio.

No documento consta que a ex-namorada do goleiro Bruno foi morta por esganadura em 10 de junho de 2010, na rua Araruama, também em Vespasiano, na casa do réu Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que vai a julgamento no dia 4 de março de 2013.

De acordo com o conselho de sentença, o júri entendeu que a morte da jovem foi confirmada em depoimentos durante o julgamento que culminou na condenação de Luiz Henrique Ferreira Romão - o Macarrão -, e Fernanda Gomes de Castro.

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