Enquanto cidades históricas esperam por reformas, portas de igrejas ficam fechadas para turistas

Ernesto Braga
eleal@hojeemdia.com.br
16/09/2016 às 21:03.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:52
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

A pernambucana Daniela Barros, de 31 anos, desembarca em Belo Horizonte a cada dois meses para compromissos da agenda de administradora. Desta vez, ela saiu de Recife para descansar do trabalho. O destino, mais uma vez, foi Minas Gerais. No roteiro estão as tradicionais cidades do ciclo do ouro.

Embora esteja admirada com a riqueza da arquitetura mineira, Daniela vai voltar para casa carregando uma ponta de frustração na bagagem. “A gente vem com uma grande expectativa e encontra muita coisa (atrativos turísticos) fechada. Me sinto meio frustrada, porque a vontade é de registrar tudo”, lamenta.

O depoimento da administradora foi dado enquanto ela fazia selfies em frente à Igreja de São Francisco de Assis, em Mariana. O templo religioso está fechado desde maio de 2012, após problemas na cobertura e estrutura do imóvel serem apontados em laudo do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).

Segunda igreja mais visitada no município da região Central do Estado, a São Francisco de Assis foi contemplada num pacote de 101 restaurações e novas instalações anunciado em agosto de 2013. Por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, estava previsto o investimento de R$ 257 milhões em oito municípios: BH, Mariana, Ouro Preto, Sabará, Congonhas, São João del-Rei, Diamantina e Serro.

Anunciadas há mais de três anos, das 101 intervenções em Minas apenas duas foram concluídas e dez estão sendo feitas

O Iphan conduz 25 intervenções e supervisiona 73, com repasse de recursos federais às prefeituras. Passados mais de três anos, as assessorias de imprensa das administrações municipais confirmaram o andamento de apenas oito obras. O instituto informa que outras duas estão sendo feitas, em Ouro Preto e Sabará.

Valor agregado

À medida que o tempo passa, agrava o estado de degradação dos imóveis que estão à espera da reforma pelo PAC, aumentando o risco de desabamentos com perdas de elementos artísticos. Consequentemente, o custo da revitalização também fica maior.

Segundo a turismóloga Daniele Teixeira, do Núcleo de Destino e Registro do Instituto Estrada Real, o fechamento de atrativos turísticos afasta os visitantes das cidades mineiras. “A boa conservação agrega valor à cidade, contribuindo para o aumento do movimento de turistas e o maior tempo de permanência na região. Todo o trecho turístico sai ganhando quando se junta a beleza natural com a arquitetônica”, destaca a especialista.

“Eu e meus irmãos já passamos por várias cidades históricas mineiras, mas ainda não conseguimos encontrar uma igreja aberta para conhecermos a riqueza que ela tem por dentro” (Deise Pellegrino, moradora de Mairiporã (SP) em visita a Minas na semana passada)

Wesley RodriguesMARCAS DO TEMPO – A necessidade de reforma também é evidente na Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto

Maior contemplada, Mariana tem 8,7% das obras em andamento

Sentado na esquina da praça Cláudio Manoel com a rua de Sant’Anna, no centro histórico de Mariana, Luís Grossi, de 85 anos, observa a restauração da Catedral da Sé, a mais movimentada da cidade. Ele espera ansioso para retomar a rotina de cinco décadas de assistir as missas.

“Tem um ano que ela está fechada para reforma. A obra anda devagar, mas faltou verba e ficou parada um tempo. A gente sente muita falta, porque é um costume participar das celebrações. Mas tem que cuidar, senão cai”, diz Grossi. 

Segundo a Prefeitura de Mariana, a catedral está sendo reformada pelo Iphan. A data prevista para a conclusão não foi informada. A participação do Executivo municipal é na “elaboração do projeto de restauração dos elementos artísticos, que está em fase de finalização”, informa a assessoria.

Vinte e três (19 restaurações e construção de quatro museus) das 101 intervenções em Minas são em Mariana, que concentra a maior quantidade de obras. Mas, além da Catedral da Sé, apenas a restauração dos elementos artísticos da Igreja Nossa Senhora dos Pretos está em andamento.

Atraso é causado por readequações nos projetos, informa escritório do Iphan em Minas 
 

 O Iphan reconhece que é pequeno o número de obras do PAC Cidades Históricas iniciadas em Minas. Por meio da assessoria de imprensa, informou que a maioria “está em desenvolvimento de projeto e/ou análise de orçamento”. 

O instituto ressalta que as restaurações exigem critérios técnicos complexos. Por se tratar em sua maioria de igrejas, “além da parte arquitetônica, sãos restaurados os elementos artísticos”.

De acordo com o Iphan, “os projetos executivos demoram cerca de um ano e meio para serem finalizados, uma vez que as empresas têm que fazer inúmeras readequações para atender às exigências do PAC”.

Quanto ao valor do investimento de R$ 257 milhões para os oito municípios mineiros, anunciado em agosto de 2013, a assessoria não soube informar se houve a necessidade de reajuste devido o passar do tempo. “A princípio, continuamos com os mesmos valores”.

Para evitar o risco de desabamentos, o Iphan informa que “faz vistorias periódicas e, caso haja necessidade de alguma intervenção, busca-se a melhor maneira para executá-la”.Wesley RodriguesOURO PRETO – Dada como obra concluída do PAC Cidades Históricas, chafariz abriga morador de rua

Na capital mineira e Sabará

Em BH, estão previstas as restaurações, pela prefeitura, da Igreja São Francisco de Assis, do Museu de Arte da Pampulha (MAP) e da antiga hospedaria. O Iphan está à frente das reformas da Casa do Conde de Santa Marinha e de três casas da Rede Ferroviária Federal.

A Fundação Municipal de Cultura informou que a reforma da igrejinha da Pampulha está prevista para começar em dezembro. Quanto ao MAP, aguarda resposta do BNDES sobre o projeto, da mesma forma que espera definições do Iphan e Dnit sobre a obra na hospedaria.

Sobre as cinco intervenções previstas em Sabará, a prefeitura informou que aguarda aprovação do Iphan para licitar as restaurações do Solar do Padre Correia e da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Há ordem de serviço para restaurar o Teatro Municipal, aguarda trâmites burocráticos para iniciar a requalificação urbanística da rua Dom Pedro II e está em fase de assinatura de contrato para a restauração do Casarão do Conselho de Arte.Editoria de Arte

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