Escolas alternativas propõem foco no desenvolvimento humanizado e conquistam pais

Thais Oliveira*
taoliveira@hojeemdia.com.br
07/12/2016 às 19:47.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:59

Davi Correa, de 6 anos, adora a luta marcial gatka e fazer natação na escola. A atividade preferida, no entanto, é, com certeza, a aula de circo. “Aprendo a jogar bolinhas para o alto e pegá-las. Tudo ao mesmo tempo”, explica o garotinho. Ele estuda na escola Miri Piri Brasil, onde o conhecimento vem, principalmente, por meio da experimentação e do brincar. A instituição, porém, não é a única a aplicar metodologia de ensino infantil fora do convencional. Hoje, Belo Horizonte tem opções de escolas que se preocupam em contribuir mais para desenvolvimento pessoal do que cognitivo. 

A ideia chamou a atenção da mãe do Davi, a administradora Maíra Lívia Schembri Correa, de 32 anos. “Meu filho realmente teve uma mudança impressionante porque tinha uma personalidade muito forte. Quando entrou na Miri Piri, ele relaxou, melhorou em relação ao social”, diz Maíra, que matriculou também a filha Luísa, de 2 anos e meio, na mesma escola.

A unidade atende crianças de 2 a 8 anos e tem como referência ensinamentos vindos do Kundalini Yoga e do Sikh Dharma. A diretora Sat Kartar, contudo, afirma que a intenção não é ensinar uma filosofia aos alunos. “Temos uma formação ética e cidadã forte. Queremos experimentar valores para que as crianças sejam autônomas e capazes de incorporar a filosofia que quiserem para as vidas delas”.

Alfabetização tardia

Já no Centro Lúdico de Interação e Cultura (Clic!) o foco está no brincar. A grade curricular não possui, por exemplo, matérias como português ou matemática. Com proposta construtivista – “proporcionando condições para o aluno conhecer o próprio conhecimento” –, por meio das brincadeiras, é que as disciplinas são absorvidas. “Fazemos uma roda com as crianças e elas sugerem como aquele dia será construído. Se elas querem fazer uma receita, terão que pegar os ingredientes e fazer contas. O conhecimento das competências ‘normais’ é intrínseco”, explica uma das diretoras da instituição July Fonseca.FLAVIO TAVARESEXPERIMENTAÇÃO – Davi e a prima Sofia, estudante da mesma escola, participam da construção de um pêndulo

Atendendo crianças de zero a 7 anos, a escola não obriga o aluno que completa o ciclo a aprender a ler. Por isso, a preocupação comum dos pais é se o filho terá dificuldades de acompanhar o ritmo da próxima escola. 

A bancária Cláudia Santana, de 44 anos, que colocou o filho Francisco, de 8 anos, na Clic! passou por esse conflito. Hoje, o menino estuda em uma escola tradicional. Logo de início, ela foi avisada que alunos vindos de escolas “alternativas” demoram um pouco mais para serem alfabetizados. Por outro lado, disseram a Cláudia que, em termos de relacionamento, eles dão um show. “Meu filho começou a ler sem eu ver e nunca precisou de aula particular. É um dos melhores alunos da classe”, diz a mãe coruja, aliviada. 

pais devem ficar atentos ao modelo aplicado 

O Ministério da Educação (MEC) estabelece que o aluno precisa aprender a ler e a escrever até os oito anos. Portanto, as escolas de ensino infantil não estão obrigadas a empregar metodologias que garantam a alfabetização. A pedagoga e professora da UFMG, Mônica Correia Baptista, não vê problemas nisso. “Acho o prazo do MEC razoável”.

A especialista, no entanto, não aprova totalmente o modelo dessas instituições. “Meus filhos estudaram numa escola assim, que forma sujeitos engajados, criativos, antenados e participativos. Mas a escola foi negligente porque há conhecimentos que não são construídos a partir do processo natural. Ensinar a estudar é também colocar limite e entender que nem sempre é algo prazeroso”. 

Atendendo a faixa etária de 2 a 18 anos, o Colégio Rudolf Steiner de Minas Gerais segue uma proposta pedagógica pautada na antroposofia, ou seja, voltada para a humanização do aluno. Contudo, segue as normas do MEC, com procedimentos de avaliação do desempenho do aluno, porém com diferenças. 

“Aqui, as crianças aprendem a preparar pão, mexer na terra, bordado, subir em árvore, andar em perna de pau. Respeitamos o ritmo do crescimento, do desenvolvimento do pensar, do agir do aluno. É uma outra leitura de mundo”, conta a diretora, Cristina Correa.

Problemas no tradicional 

As escolas tradicionais de educação infantil também passam longe da perfeição. Para Mônica Baptista, é uma “atrocidade uma escola que forma alunos para passarem numa prova ou arrumarem um emprego”. “Se as crianças estão soltas, entregues num espaço fantástico, a educação é negligenciada. Se a professora dirige tudo na sala, reproduzindo cópias no quadro, a educação é negligenciada”, adverte a pedagoga.

*Com Malú Damazio

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