Especialista compara número de cesarianas a uma epidemia no Brasil

Aloísio Morais - Hoje em Dia
30/09/2013 às 06:45.
Atualizado em 20/11/2021 às 12:53

Uma farra de cesarianas desnecessárias vem sendo praticada por maternidades de Belo Horizonte, conforme números obtidos pelo Hoje em Dia. Enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, no máximo, 15% de partos cirúrgicos, um hospital da capital atingiu 91,8% em 2012. As instituições privadas ostentam, de longe, a maioria dos procedimentos, mas o Sistema Único de Saúde (SUS) também apresenta índices superiores ao ideal.
 
“É uma epidemia, uma calamidade. A cesariana desnecessária pode ser caracterizada como uma lesão corporal, mas, infelizmente, nos últimos anos, nota-se um aumento da prática. Há uma migração do SUS para o setor privado, devido ao aumento do poder aquisitivo de parte da população”, afirma a pediatra Sônia Lansky, coordenadora da Comissão Perinatal da Secretarial Municipal de Saúde.
 
Segundo Sônia, em meio a uma sociedade moderna individualista, pouco crítica e que tem pressa, surge um campo fértil para a disseminação sem controle da cesariana.
 
Convencimento
 
“A prática dá uma ilusão de segurança. A mulher fica refém dos médicos, sendo manipulada com uma indicação não verdadeira. A maioria dos obstetras tem na ponta da língua uma boa desculpa para a cirurgia, que só é confortável para eles”, observa.
 
“Além disso, há uma indústria em torno do nascimento que vai do interesse de laboratórios e fábricas de equipamentos ao dos médicos e hospitais particulares”. Sônia diz que 30% das grávidas chegam a certas maternidades já pensando na operação, mas 90% acabam aderindo à prática por influência dos médicos.
 
Mudanças

 
Mas também é preciso melhorar a qualidade dos partos normais. Conforme levantamento do Instituto Perseu Abramo, de São Paulo, 25% das mulheres sofrem violências rotineiras ao parir por via vaginal. Vários procedimentos não têm justificativa técnica, como corte no períneo, jejum, raspagem de pelos, manobra de kristeller (empurrar a barriga da mãe) e lavagem intestinal.
 
Outra atitude condenável, inclusive por lei, é deixar a grávida sem acompanhante no hospital. Ter companhia antes, durante e após o nascimento do bebê é previsto na Lei Federal 11.108, de abril de 2005.
 
“A mulher também deve ter o direito de escolher uma enfermeira obstetra ou uma doula (leiga treinada para acompanhar o trabalho de parto) e de ter métodos para alívio da dor, como a bola, a escadinha, o cavalinho ou o banho de chuveiro”, diz Sônia, que lamenta ainda não haver regulação sobre a prática das cesarianas no Brasil.

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