Estudantes em risco por falta de faixa de pedestres

Izabela Ventura - Hoje me Dia
28/11/2013 às 08:17.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:25
 (Eugênio Moraes)

(Eugênio Moraes)

Estudantes se esquivam dos carros. Pais puxam os filhos pelo braço, correndo do perigo de atropelamento. Assim é a rotina de entrada e saída nas escolas que não têm faixas de pedestre próximo às portas.
  Esse problema até poderia ser minimizado se um projeto de lei aprovado no Congresso Nacional não tivesse sido vetado pela presidente Dilma Rousseff. A proposta previa que as faixas fossem obrigatórias perto de instituições de ensino. Mas a presidente alegou que a medida “impõe gastos ao poder local”, destacando ainda que cabe aos municípios legislarem sobre o trânsito.

Talvez a proposta não fosse realmente aplicável em boa parte dos municípios brasileiros, mas viria a calhar em BH.

Mas serviria para poupar vidas, como a de um garoto de 9 anos, atropelado e morto na porta da Escola Municipal Juscelino Kubitschek, na rua Aderbal Rodrigues Vaz, no bairro Lindeia (Barreiro), em BH.

O acidente foi em abril deste ano, mas está fresco na memória de professores e colegas. “Eu não o conhecia, mas fiquei triste. Poderia ter sido comigo”, disse Brenda Mendes, de 11 anos.

Depois do acidente, que nem foi totalmente esclarecido – o motorista fugiu e não foi identificado –, a rua virou mão única e recebeu duas faixas de pedestre e grades de proteção entre o passeio e o asfalto.

Investimento

O “gasto público” daria tranquilidade aos pais e alunos que hoje se arriscam para atravessar a pista em frente à Escola Estadual General Carlos Luiz Guedes, na mesma rua do Lindeia.

Crianças correm entre os carros no trecho que não tem faixa de pedestres. O único dispositivo a favor dos alunos é um quebra-molas, instalado após solicitação da escola. A via, segundo a diretora Maria de Lourdes Oliveira, tinha uma faixa, que sumiu após um recapeamento.
A rua é perigosa para os alunos desde a época em que a dona de casa Vanda Aparecida de Jesus buscava a filha mais velha, que já fez 30 anos. Atualmente, ela passa aperto com o caçula, Wuirley Lucas, de 10, e conta que a situação melhorou apenas uma vez, há uma década, quando agentes de trânsito passaram dois meses ajudando as crianças a fazer a travessia. Era período eleitoral.

“Tento atravessar mais à frente, longe do movimento. Seguro firme na mão do meu filho, mas me preocupo com as crianças afobadas, que passam correndo”.

Sem qualquer segurança para crianças pequenas

No Sagrada Família, zona Leste de BH, a falta de faixa de pedestres preocupa pais e professores de duas escolas infantis na rua Godofredo de Araújo: Beabá e Pequenos Gênios, ambas para crianças de até 6 anos.

Há poucos dias, a Beabá funcionava na rua São Roque. Lá, as diretoras conseguiram com a prefeitura a instalação da faixa e de uma placa que indica travessia de crianças. Mas o tráfego intenso e a falta de respeito de motoristas, que ignoravam a sinalização, levaram as educadoras a buscar uma via mais tranquila.

No novo endereço, a inexistência da faixa voltou a preocupar. “O dispositivo deixaria os alunos mais seguros”, avalia uma das diretoras, Raíssa Wallesca. Na escola Pequenos Gênios, a direção pede, há mais de três anos, uma faixa de pedestres, mas não foi atendida.

“É importante em qualquer lugar, e imprescindível onde crianças atravessam”, diz a servidora pública Isabela Ventura, de 39 anos, mãe de um dos alunos.

Mobilização vai defender aprovação do projeto

O projeto de lei vetado pela presidente Dilma tornava obrigatória a pintura de faixas de pedestres no raio de um quilômetro a partir de escolas públicas e privadas de áreas urbanas. Previa também a construção de passarelas ou passagens subterrâneas para dar mais segurança a alunos e pedestres. Para justificar o veto, Dilma alegou, além dos gastos do poder público, que o texto não trazia “a consideração de critérios técnicos, nem das necessidades concretas para sua implementação” e “não levava em conta a vontade da população envolvida”.

O senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) critica a decisão e avisa que vai mobilizar o Congresso para derrubar o veto, que considera absurdo. “Isso mostra que o governo está alheio a qualquer iniciativa de apoio aos municípios em casos de mobilidade urbana”, diz, lembrando que a política de mobilidade foi uma das reivindicações da população nas manifestações de junho deste ano. Consciência

Consultor em transporte e trânsito, Silvestre de Andrade Filho é a favor da instalação das faixas perto das escolas, em pontos que conduzam os alunos a locais seguros para a travessia. Mas avisa que de nada adiantam os dispositivos se os motoristas não os respeitarem. “Os condutores devem obedecer às regras de trânsito e a faixa tem o poder de regulamentar a travessia, definindo a prioridade do pedestre”.

O presidente da ONG SOS Mobilidade Urbana, José Aparecido Ribeiro, adverte que também é necessário um trabalho de educação no trânsito com as crianças. “Muitos alunos andam no meio da rua, ou avançam próximo aos carros”. O veto do PL deverá ser apreciado pelo Congresso em dezembro. 

BHTrans promete visitar locais

A BHTrans vai verificar a necessidade de reforço na sinalização no entorno da Escola Estadual General Carlos Luiz Guedes, no Barreiro, e checar a viabilidade de implantar a faixa de pedestre.

O caso da rua Godofredo de Araújo, no Sagrada Família, também será analisado, com a possibilidade de pintura na pista da inscrição “devagar/escola”. No entanto, a BHTrans adverte que, antes de solicitar a faixa, as escolas devem pedir o recapeamento de vias calçadas à PBH. A Sudecap informou que não há previsão de recapeamento nessa rua.

Depoimentos   Maria Lourdes Oliveira - A diretora da E.E. Gal. Carlos Luiz Guedes já pediu, sem sucesso, faixas de pedestre em frente ao colégio “O risco de acidentes perto dessa escola é iminente”

Ketlen Cristina da Silva - Estudante de 9 anos da E. E. Gal. Carlos Luiz Guedes
“Passa muito carro nessa rua, temos medo de atravessar. Seguro firme da mão de um adulto”

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