Estudantes indígenas colam grau no curso de Medicina

Da Redação*
Hoje em Dia - Belo Horizonte
27/12/2016 às 16:23.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:14

Dois alunos indígenas estão entre os cerca de 130 formandos de Medicina que colam grau na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) última sexta-feira (23). Amaynara Silva Souza e Vazigton Guedes Oliveira, o Zig, são da etnia pataxó e vêm das terras indígenas de Carmésia, no Vale do Rio de Doce mineiro, e de Cumuruxatiba, no Sul da Bahia, respectivamente. A colação foi no Salão Nobre da Faculdade de Medicina, no campus Saúde.

Para os estudantes pataxós, adaptar-se à metrópole e à Universidade foi um processo de descobertas e desafios. As dificuldades da transição da vila para o meio urbano envolveram desde a geografia e o clima até o ritmo de vida e a distância da família, mas, segundo Amaynara, foram minimizadas pelo apoio dos colegas. Ela destaca também o papel da Fump para sua permanência na Universidade, garantindo condições que sua aldeia não teria meios de suprir.

Apesar do choque cultural, Zig ressalta a importância da inserção de indígenas no ensino superior. “A oferta de vagas em outros cursos além da licenciatura [o curso de graduação Licenciatura Intercultural Indígena] é um desejo antigo dos nossos povos. Foi uma grande conquista de nossas lideranças junto com a Universidade”, comemora.

Zig refere-se ao Programa de Vagas Suplementares para Estudantes Indígenas, por meio do qual ele e Amaynara ingressaram na Universidade. A iniciativa integra as ações afirmativas para indígenas da Universidade, juntamente com as cotas e a formação de educadores indígenas. Instituído em caráter permanente em agosto deste ano, o programa destina vagas adicionais a membros de comunidades indígenas, garantindo-lhes acompanhamento pedagógico, acesso à Moradia Universitária e aos demais programas de assistência estudantil da UFMG.

O preenchimento das vagas se dá por meio de processo seletivo específico, abrindo oportunidades a estudantes que não tiveram acesso ao ensino regular. Segundo Amaynara [foto], o programa desempenha papel importante na inclusão de indígenas na Universidade: “As vagas suplementares conseguem atender os indígenas que receberam uma educação diferenciada na base e têm dificuldades de entrar na Universidade pelas cotas. No vestibular específico, as questões e o tema da redação estão relacionados ao contexto dos povos indígenas".

Os jovens pataxó aguardam agora os resultados da prova de residência médica para dar continuidade aos estudos. A intenção de ambos é se especializar em medicina de família e comunidade e retornar os conhecimentos obtidos na Universidade para as comunidades indígenas. “Meu objetivo é trabalhar com saúde indígena”, conta Amaynara. Zig pretende ganhar pelo menos um ano de experiência antes de retornar para sua aldeia. “Quero voltar para a comunidade o mais preparado possível”, justifica.

(Com UFMG)*

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