Estudo encomendado pelo Greenpeace aponta metais da lama da Samarco em girinos

Da Redação
portal@hojeemdia.com.br
26/07/2017 às 15:13.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:45
 (Greenpeace/Divulgação)

(Greenpeace/Divulgação)

Pesquisadores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, encontraram no corpo de girinos metais pesados da lama de rejeitos da Mineradora Samarco. As conclusões do estudo  "Girinos como bioindicadores da qualidade da água do Rio Doce" foram divulgadas nesta quarta-feira (26). Este é o último dos seis estudos independentes encomendados pelo Greenpeace e financiados com recursos de doações arrecadadas pelo projeto coletivo Rio de Gente.

Segundo os pesquisadores, os girinos estão absorvendo e concentrando em seus organismos altos níveis de metais pesados como Ferro, Bário, Cádmio, Manganês, Zinco, Níquel, Cromo, Alumínio, Cobre e Titânio. Quanto maior a concentração de metais na água, maior a quantidade de metal bioconcentrado nos tecidos dos girinos. 

Anfíbios anuros, como sapos e rãs, possuem duas fases distintas de vida: uma aquática (como girinos) e uma terrestre (quando adultos). Em função das peles permeáveis e extremamente sensíveis, funcionam como bioindicadores da qualidade ambiental do local em que vivem. E devido a esse alto potencial acumulador, os pesquisadores alertam que a tendência é essa contaminação alcançar outros animais na cadeia alimentar. "Os resultados sugerem o comprometimento de uma parcela significativa da comunidade faunística silvestre da região", afirma o relatório.Greenpeace/DivulgaçãoA coleta foi feita em 14 pontos da Bacia do Rio Doce

A coleta foi feita nos meses de setembro, novembro e dezembro de 2016. Com peneiras de 20 cm e 50 cm, os pesquisadores coletaram 1.500 girinos de 24 espécies em 14 pontos da Bacia do Rio Doce, sendo 12 pontos em Aimorés e Mariana, Minas Gerais, e seis municípios no Espírito Santo.  

Mesmo os pontos de amostra que não tiveram contato com o rejeito da barragem também apresentaram girinos contaminados. "Isso pode ser explicado pela contaminação através do lençol freático. Após um pouco mais de um ano, quando foram feitas as coletas deste trabalho, a contaminação pode ter expandido além dos limites da lama", relatam os pesquisadores. Eles destacam que, diferentemente do que estipulava o Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima) da empresa, o estrago foi muito além das áreas de influência previstas tecnicamente. Foram mais de 660 km de desastre, chegando até a foz.

Segundo a coordenadora da pesquisa, a doutora em Zoologia e professora de Biologia da UEFS Flora Acuña Juncá, não há dúvidas de que o ferro absorvido pelos girinos seja produto do desastre, ainda que o mineral seja abundante na região. "O Ferro compõe as rochas e para ficar disponível no meio ambiente é necessário o processamento desse minério. A liberação de concentrações nessa magnitude só é possível em caso de contaminação pontual, proveniente de descarte do resíduo sem nenhum tratamento. Mesmo com o histórico de mineração na área e possíveis contaminações em menor escala no passado, o Ferro não permaneceria disponível para contaminar os girinos da maneira registrada por nós", explica. Ela ressalta ainda que as amostras de sedimentos e de girinos provenientes de todos os pontos apresentaram altos níveis de vários metais e não apenas para Ferro.Greenpeace/DivulgaçãoAnfíbios anuros, como sapos e rãs, possuem duas fases distintas de vida: uma aquática (como girinos) e uma terrestre (quando adultos)

O Ibama registra na região 28 espécies de anuros de sete famílias. O número de espécies coletados em cada ponto de amostra variou de um a sete. O que se observou foi que aqueles pontos contaminados pela lama tiveram uma diversidade menor de espécies.

"Todas as poças sem contato direto com o rejeito apresentaram girinos de Elachistocleis cesarii, indicando que o período de coleta foi mais ou menos coincidente com período reprodutivo da espécie. Nenhuma poça que teve contato direto com o rejeito, entretanto, mostrou a presença de girinos desta espécie", relatam os pesquisadores.

"A pesquisa evidencia a extensão e a complexidade dos impactos do desastre causado pela Samarco, que afetam todo um ecossistema e aqueles que dependem dele. Esperamos que estudos como este aprofundem as discussões e auxiliem a aplicação de políticas públicas a favor da recuperação das áreas degradadas e da reparação aos atingidos", afirma Fabiana Alves, da campanha de Água do Greenpeace.

A barragem Fundão, da Samarco, se rompeu no dia 5 de novembro de 2015. O vazamento provocou uma "tsunami" de rejeitos de minério, que devastou vilarejos e matou 19 pessoas.

* Fonte: Greenpeace

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