Embora muitos blocos circulem por bairros próximos da avenida do Contorno, a periferia ganha cada vez mais espaço no Carnaval da capital e região metropolitana. Há desfiles arquitetados pela própria comunidade e outros cuja rota varia ano a ano, propiciando experiências únicas de encontros de diferentes classes sociais e culturas.
Um dos blocos mais celebrados do Carnaval de Belo Horizonte, o Pena de Pavão de Krishna trafegou pela periferia nos três últimos cortejos – passou pela Ventosa, na região Oeste, pela Pedreira Prado Lopes, na região Noroeste, e pelo bairro Castanheiras, em Sabará, na região metropolitana.
Há três anos, a comunidade do bairro Cabana, na região Oeste, voltou a celebrar o Carnaval. No ano passado, 3 mil pessoas participaram. Em 2017, o bloco “Xandão e os Cabaneiros” toca nos quatro dias do feriado
“O Pena sempre procurou ocupar espaços diferenciados da cidade com a ideia de levar o Carnaval para locais que não são costumeiramente frequentados por blocos. Entramos em contato com a comunidade antes, para falar sobre como é o nosso Carnaval, e o retorno é sempre muito positivo”, conta o músico Gustavito, um dos organizadores do bloco.
Segundo ele, essas comunidades pedem o retorno do Pena e os foliões sempre têm que explicar que o endereço do desfile muda a cada ano. “Mesmo assim, voltamos ao Castanheiras e o pessoal estava tão empolgado que decidimos fazer um pré-Carnaval lá, a partir das 10h de domingo”, completa.
Gustavito adianta que o cortejo de 2017 acontecerá no bairro Morro Vermelho, em Caeté, na região metropolitana. “A partir deste ano, o bloco vai abraçar temáticas e, dessa vez, vai ser sobre a preservação das águas. Essa região de Caeté está sendo muito afetada pela mineração. Existem projetos para construção de barragens de rejeitos no local”.
Memória
A proposta de interação social é muito forte também no bloco Mamá na Vaca, que percorre as ruas do bairro Santo Antônio, na região Centro-Sul de BH, no sábado que antecede o Carnaval. A concentração costuma ser na comunidade Vila Estrela. “É o momento em que se cria a noção de vizinhança entre as várias classes presentes no Santo Antônio. É a celebração de um bairro”, afirma Guto Borges, regente do bloco.
Segundo ele, houve uma grande aproximação entre os integrantes do Mamá com os blocos caricatos Vila Estrela e Invasores. “Existe uma geração que acreditava não haver Carnaval em Belo Horizonte. É preciso resgatar a memória de quem sempre fez Carnaval na cidade. Nossa intenção é reverenciar o bairro e quem sempre fez samba ali”, completa.
Pelas nascentes
Moradores do Jardim Europa, em Venda Nova, decidiram levar para o Carnaval as demandas do bairro. Criaram o Bloco do Portão no ano passado, com o nome inspirado na luta para que a prefeitura mudasse a portaria do centro cultural da região.
“Este ano, o tema do Carnaval é a luta pelas nascentes da região, que foram completamente tampadas. Acreditamos que o Carnaval é uma boa maneira de chamar a atenção para nossos problemas”, afirma o analista de projetos Vagner Silva. O bloco sai dia 25 na avenida Luxemburgo.