Folia de respeito: Carnaval de BH engrossa o coro contra abusos de todas as naturezas

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
10/02/2018 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:15
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

A dimensão alcançada pelo Carnaval de Belo Horizonte nos últimos anos já é mais do que suficiente para mostrar ao resto do país que a cidade entrou de vez no mapa nacional da folia. Mas, se de um lado a alegria, diversidade e ousadia estão escancaradas pelos quatro cantos da cidade, do outro, a luta pelo respeito é uma bandeira hasteada por todos.

Seja nas temáticas abordadas pelos bloquinhos ou nas cores escolhidas para as fantasias, a exigência de uma conduta que se oponha aos abusos – em todos os sentidos – virou palavra de ordem no maior evento de rua de BH.

A adesão em peso das carnavalescas belo-horizontinas ao lema “Não é Não” é uma prova de que comportamentos machistas serão amplamente combatidos durante a festa. Cerca de 5 mil tatuagens temporárias com os dizeres da campanha, iniciada no Rio de Janeiro, já foram distribuídas na metrópole mineira. Flávio Tavares / N/A

"Não vamos tolerar abuso”, garante Cris Gil

Para as mulheres que estão à frente de grandes blocos, a ação não é apenas oportuna, mas também necessária. Cris Gil, uma das coordenadoras do Havayanas Usadas, afirma que a postura do grupo será rigorosa caso seja presenciado algum desrespeito contra mulheres.

“Não vamos tolerar nenhuma situação de abuso e, se houver flagrante, vamos parar o desfile”, garante. A foliã afirma ainda que já passou da hora das pessoas entenderem que a roupa escolhida não é aval para que a mulher seja tocada. “Os machistas precisam entender que estão perdendo esse jogo”, afirma. 

Para a musicista Michelle Andreazzi, integrante do bloco Então, Brilha, a discussão contra o assédio ganha força no Carnaval, apesar de já estar em pauta entre movimentos feministas há mais tempo. O diferencial, defende ela, é a possibilidade de dar o recado de forma amorosa durante a folia. “O que queremos é viver em uma sociedade mais justa. Isso não pressupõe a soberania de um gênero, mas sim um equilíbrio”.

Consciência 

O respeito à cidade também será abordado no Carnaval de BH. Com o objetivo de promover uma folia consciente, principalmente em relação ao lixo, o Bloco Reciclado vai participar da festa pela segunda vez. “Todas as nossas fantasias, adereços, bonecos e instrumentos são recicláveis. Então, queremos atentar para a destinação correta dos resíduos no Carnaval, e o nosso jingle é ‘recicla amor’”, disse o produtor-executivo do grupo, Daniel Bevilacqua. 

A ideia tem dado tão certo que o grupo já se inscreveu no livro dos recordes para concorrer como o “maior cortejo sustentável”. A aferição acontece em 2020 e, até lá, eles esperam atrair cada vez mais foliões. Além disso, o bloquinho também luta contra a homofobia.

A adesão em peso das carnavalescas belo-horizontinas ao lema “Não é Não” é uma prova de que comportamentos machistas serão amplamente combatidos durante a festa 

Inclusivo, evento da capital abraça minorias 

A ala da inclusão também é destaque no Carnaval de BH em 2018. No bloco Chama o Síndico, por exemplo, há um momento reservado para uma bateria composta por jovens com paralisia cerebral e síndrome de down. A proposta foi aprovada pelo público e mais ainda pelos familiares dos deficientes.

A professora Alexa Fabrino elogiou a ideia e marcou presença no primeiro desfile do grupo, na última quarta-feira, ao lado do filho Dante, de 9 anos. “Não há como não participar de um grupo que valoriza essa diferença. É maravilhoso”, elogia.Flávio Tavares / N/A

Chama o Síndico contou com Alexa e Dante

Na avaliação do presidente da Belotur, Aluizer Malab, a campanha mais importante do Carnaval belo-horizontino é a inclusão. Ele lembra que, em conjunto com outros órgãos, várias ações são feitas para o período da festa. 

Para Malab, todas as áreas tem campanhas próprias e importantes para manter a festa bonita, mas ele destaca que a população deve ter consciência do papel do Carnaval para o futuro da cidade como um atrativo turístico. “Isso passa pelo respeito e preservação do espaço público, de não depredar, não deixar lixo nas ruas”, afirma.

Policiamento

Em meio à multidão, o respeito ao próprio organismo por meio do uso moderado de álcool também é uma recomendação, reforça o chefe da Sala de Imprensa da PM, major Flávio Santiago. O militar explica que o consumo excessivo de bebidas é um dos fatores primordiais para brigas e tumultos.

“Há uma tendência que alguns fiquem mais intolerantes, mas a PM estará a postos para coibir qualquer tipo de violência. Seja contra as mulheres, contra a população LGBT ou contra o próprio patrimônio público, que acaba sendo alvo de pessoas que urinam pelas ruas”.

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