Funkeiros mirins cantam 'proibidão' e sequelas na vida adulta são possíveis

Renata Galdino - Hoje em Dia
02/05/2015 às 07:40.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:51

Tendo a internet como palco e ao mesmo tempo ferramenta para reverberar as criações artísticas, cada vez mais, crianças e adolescentes ganham fama na rede ao cantar músicas com conotação sexual. O estilo mais popular é o funk, mais precisamente o chamado “proibidão”. Alguns deles atingem rapidamente o patamar de milhões de visualizações, o que preocupa especialistas. Os cliques de agora podem ter impactos negativos no público infantojuvenil que consome esse tipo de conteúdo.   MC Luanzin, de 12 anos, mora na região Oeste da capital mineira. Tiete de MC Pedrinho, da mesma idade – famoso por letras sexistas –, o mineiro recentemente gravou um vídeo com o que espera ser o primeiro sucesso da carreira. A letra, no entanto, é impublicável.   Mesmo com a pouca idade, Luanzin considera normal cantar músicas com apelo sexual. “É agressiva, mas não tem nada a ver”. A mãe dele, Maria Romilda dos Santos, de 38 anos, não se opõe. “Já falei para mudar para o funk ostentação (que fala sobre luxo), mas ele não quer. A única coisa que peço é para não parar de estudar”.   O MC belo-horizontino é um dos milhares de crianças e adolescentes que almejam o sucesso com o estilo musical. “Vemos nascer um funkeiro mirim a cada quatro minutos na comunidade. É incrível”, conta Luzimar Lopes, coordenador de um projeto social em um aglomerado na cidade.   Perigo Quem está ligado ao cenário do funk afirma que a facilidade em ganhar dinheiro é um dos atrativos. “Em outros casos, o pai é quem incentiva a carreira do filho, sem se dar conta do mal que está causando, expondo a criança à maturidade precoce e trazendo a erotização infantil”, alerta a psicopedagoga Bianca Acampora.    Exemplo disso é a MC Melody, de 8 anos, que vem se destacando por conta dos vídeos em que aparece cantando e dançando músicas consideradas impróprias para a idade dela.   Por causa de uma petição online, com mais de 23 mil assinaturas, o Ministério Público (MP) de São Paulo abriu investigação contra o pai da artista mirim. O órgão alega “violação ao direito ao respeito e à dignidade de crianças”.   O psicólogo Fabrício Ribeiro, professor do Centro Universitário Newton Paiva, reitera que um dos efeitos negativos desse tipo de conteúdo é que a construção da sexualidade, que deveria acontecer em ritmo lento, é atropelada pela erotização. “Acontece há muito tempo, desde as bandas de axé, e agora ganha novo contorno. As crianças hoje não são apenas espectadoras, mas, também, agentes de promoção dessa sexualização”.   Alerta Juiz titular da Vara Cível da Infância e da Juventude de BH, Marcos Flávio Padula afirma que o problema não é o funk. “O que temos que questionar não é a música em si, mas os valores transmitidos por ela, se constroem uma sociedade sadia ou não. A sociedade moderna promove a busca pelo prazer individual, desconsiderando a responsabilidade para com o próximo”.   O magistrado não descarta proibir shows com MCs mirins cantando músicas com teor sexual, caso o MP solicite ou chegue à Justiça notícia de evento considerado inapropriado. Situação semelhante já aconteceu em outros estados.    Do bem Sem apelar para letras pornográficas e pregador do chamado funk consciente, MC Yuri, de 15 anos, morador da zona Norte de BH, comemora: com conteúdo mais leve, um dos hits do jovem, “Bonde da Shineray”, já tem mais de 5 milhões de acessos no YouTube.    MC desde os 10 anos, Yuri se apresenta em escolas, faz shows e não pensa em mudar para o lado mais pesado do estilo musical. “Canto a paz, digo não à criminalidade e às drogas”.

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