'Gerontolescência’ é risco na meia-idade, alertam especialistas

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
pdumont@hojeemdia.com.br
23/06/2014 às 08:01.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:06
 (André Brant/Hoje em Dia)

(André Brant/Hoje em Dia)

Os 50 bateram à porta e trouxeram visita. Cabelos brancos, pés de galinha, flacidez muscular, só para citar algumas novas “companhias”. Sinais de que o tempo, feliz ou infelizmente, avançou. Temida por muitos e assumida por poucos, a meia-idade não é apenas uma fase de transição, é uma zona de conflito. E para passar por ela ileso, sem aquela sensação de que está velho demais para manter a juventude e o vigor de antes, não há segredos. A dica dos especialistas é pôr o pé no freio e aceitar a idade, sem tentar se esconder numa “carcaça” que não te pertence mais.  “É comum nessa fase as pessoas não aceitarem as rugas e os cabelos brancos. Tem gente que começa a fazer tatuagens, piercing, passa a usar roupas de grife, comprar carros importados caríssimos. Tudo para parar o tempo”, ressalta o geriatra Rubens de Fraga Júnior, conselheiro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). “Não há mal em querer continuar jovem, mas o limite é aceitar a idade que se tem. Saber envelhecer traz benefícios”, completa. Acostumado a lidar com as crises da meia-idade, ele até batizou essa fase da vida como termo gerontolescência. “É a adolescência da velhice”, brinca, fazendo referência às mudanças de comportamento e às dúvidas que surgem entre os 50 e 60 anos. Missão cumprida Com motivo de sobra pra sofrer um colapso ao soprar as 50 velinhas, o engenheiro Cláudio Bax foi mais forte e não se deixou abater. Aliou-se ao esporte e pôs em prática o bom-humor, que já lhe era peculiar, para chegar “inteiro” aos 55 anos, que completa daqui a pouco mais de um mês. A entrada na meia-idade coincidiu com o fim do casamento de 22 anos. Mas não foi esse revés que ditou como o engenheiro se comportaria dali em diante. “Consegui superar. Com uma vida equilibrada, saudável, e, principalmente, com consciência da idade, não sobra tempo para lamentar a velhice, apenas para planejá-la”, ensina. Adepto da medicina anti-envelhecimento, Cláudio tem como lema o dito popular de que “a felicidade é comer a metade, andar o dobro e rir o triplo”. Não fuma, não bebe destilados nem cerveja e passa pelo menos três horas do dia no pique da academia. “Retomei o vigor físico e considero que hoje estou melhor do que antes dos 50”, diz. Projeto de vida Assim como ele, o jornalista – ou seria maratonista? – Ike Yagelovic, de 55 anos, tem disposição de dar inveja a qualquer garotão de 30 e poucos. O segredo? Ele faz projetos. “Quando cheguei aos 47 e percebi que os 20 já estavam distantes, decidi mudar. Lancei um desafio, o Projeto Ike 50. Busquei um personal, um nutricionista e nunca mais parei. Faço um novo planejamento a cada cinco anos. Foi a forma que encontrei de aceitar e viver bem com a idade que tenho”. E, de fato, não há forma melhor de encarar a maturidade. Segundo o geriatra Rubens Fraga, a meia-idade é o momento mais propício para reavaliar o passado e projetar o futuro. “É hora de rever os desejos, traçar novos sonhos e seguir adiante”.

12,5 milhões de brasileiros têm entre 50 e 59 anos, conforme o censo de 2010 do IBGE. A maioria, 7 milhões, está na primeira porção dessa faixa, entre 50 e 54 anos

 Com tempo de sobra para cuidar de si mesma

Única mulher de uma casa onde imperam os desejos masculinos, do marido e dos dois filhos, de 23 e 26 anos, a dentista Cláudia Faria Dias Batista, recém-chegada ao clube dos cinquentões, viu na idade, ou melhor, na maturidade, a oportunidade de se dedicar mais a si mesma.

Com os filhos “criados”, a casa e a vida em ordem, agora é a vez dela. Escolher os dias e horários em que vai trabalhar, passar mais tempo na academia, cuidar melhor da pele e viajar mais são as “demandas” da Cláudia de 51 anos. “Minha vida agora está melhor. Me sinto mais livre, mais tranquila e descompromissada. É como se já tivesse feito o que precisava e agora pudesse fazer o que quiser”, explica. 

E ela nem precisou se esforçar muito para manter o frescor dos anos que passaram. Comumente confundida como namorada do filho mais velho, que trabalha com ela, diz que não faz  questão de parecer mais jovem, mas de estar bonita com a idade que tem. Mais uma prova de que encucar com a meia-idade não é um bom caminho.

“Não tenho essa preocupação, de parecer mais nova, gosto de me cuidar, de ter a idade que tenho, e me orgulho de estar bonita aos 51”, diz. Leonardo MoraisA dentista Cláudia Faria, recém-chegada ao clube dos cinquentões, faz questão de estar bonita com a idade que tem

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