Guiados pela escuridão: quando a cegueira não é o maior obstáculo

Renata Evangelista - Do Portal HD
10/12/2012 às 16:43.
Atualizado em 21/11/2021 às 19:18
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

No auge dos seus 115 anos, completados nesta quarta-feira (12), Belo Horizonte sofre com os problemas das grandes metrópoles, principalmente no que se refere à mobilidade urbana. A primeira capital planejada do país não conseguiu se desenvolver para atender seus moradores. Na época de sua fundação, em 1897, tinha previsão de 200 mil habitantes e hoje ultrapassa os 2.395 milhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o órgão, a capital mineira é o sexto município mais populoso do Brasil.

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Se os belo-horizontinos sofrem com a precariedade do transporte urbano, com congestionamentos cada vez mais longos, com o metrô que não consegue atender toda a cidade, imagina quem tem que enfrentar todos esses problemas na escuridão? A realidade dos deficientes visuais que vivem na capital mineira é ainda mais dura. Em questão de acessibilidade, segundo os deficientes, a cidade não está preparada para atender esta parcela da população. As queixas mais comuns são os obstáculos nas vias públicas, a falta de educação de alguns motoristas e os vários buracos encontrados nas ruas.   O deficiente visual Geraldo Domiziano, de 63 anos, aponta como uma dificuldade os telefones públicos que ficam no meio do passeio. Além disso, ele reclama da forma como o piso tátil está disposto nas ruas. "Aquilo é para inglês ver. É comum, no Centro de BH, encontrar aquelas faixas (piso tátil) que terminam em bancas de revista. As pessoas também têm o costume de se aglomerar em cima dela para bater papo".   Domiziano, que é cego de nascença, percorre o Centro da capital quase diariamente para se deslocar de sua casa, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de BH, até a Associação de Cegos de Santa Luzia, que fica no bairro Alto Vera Cruz, região Leste. A instituição, da qual ele integra a diretoria, possui 240 membros e tem a finalidade de atender os deficientes visuais vindos do interior do Estado. Lá, os cegos têm assistência educacional, são conduzidos ao mercado de trabalho, além de servir como moradia para alguns associados.   Apesar dos problemas enfrentados na capital, ele elogia a disposição dos moradores para ajudar os deficientes. "Os belo-horizontinos ajudam e são solidários. Quando precisamos costuma vir dois ou três para nos ajudar". Em contrapartida, segundo ele, são alguns motoristas de ônibus que costumam parar os coletivos em locais não apropriados. "É normal eles pararem os ônibus em frente a poste ou em cima de bueiro, e a gente não tem como reclamar".   Cidade agradável   Apesar dos problemas de acessibilidade, o deficiente visual Marcelo da Silva Morais, de 24 anos, disse gostar de morar em Belo Horizonte porque a cidade é bem agradável para se viver e as pessoas são bem receptivas.   O estudante, que cursa o ensino médio em uma escola normal e gosta de se divertir com os colegas indo aos restaurantes "Paracone" e "La Greppia", a casa de show "Terra de Minas" e o "Museu Abílio Barreto".   Morais, que sofreu um acidente com uma máquina de picar cana quando tinha 11 anos e perdeu a visão dos dois olhos dois anos depois, veio do interior para fazer tratamento médico ainda na adolescência. Aqui na capital, ele comanda, junto com outras três pessoas, a Rádio Radical Web.  http://radioradicalweb.com/.    Mesmo gostando de viver em BH, ele também reclama dos obstáculos encontrados na capital. "Os passeios são muito esburacados, as pessoas deixam carros nas calçadas e a faixa em alto relevo (piso tátil) não ajuda muito", disse.   Normas e exigências   A Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana da PBH informou que o piso tátil segue as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que consta no Código de Posturas. Sobre os buracos nas calçadas, a prefeitura disse que a conservação do passeio é de responsabilidade do proprietário do imóvel, mas que fiscaliza as ruas.   Segundo a Secretaria, os passeios devem ser revestidos de material antiderrapante, resistente e capaz de garantir a formação de uma superfície contínua, sem ressalto ou depressão. Obstáculos físicos são proibidos nos passeios. Postes, lixeiras e demais mobiliários urbanos devem ocupar a faixa reservada para sua instalação, mantendo livre o trânsito de pedestres.   Desde 2007, a adequação das calçadas em relação à acessibilidade é exigida pela Regulação Urbana nos projetos de edificações e isso é conferido no momento da concessão da Certidão de Baixa da Construção. As edificações privadas mais recentes e obras realizadas pelo município – sejam elas viárias, paisagísticas ou de equipamentos públicos, além de intervenções novas, revitalizadas ou de manutenção rotineira –, contam com passeios acessíveis. Alguns exemplos de locais com acessibilidade, com obras em andamento ou já concluídas, são o entorno da Praça Raul Soares, o Boulevard Arrudas, a Praça Sete e ruas adjacentes, além da Savassi e do BRT, informou a PBH.   As demandas referentes à ausência ou má conservação de passeio podem ser registradas nos canais de atendimento da Prefeitura – Central de Atendimento Telefônico 156, BH Resolve (avenida Santos Dumont, 363, Centro) ou via Sac Web do Portal de Informações e Serviços da Prefeitura, disponível no site.

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