Hospital da Baleia retoma cirurgias ortopédicas após dois anos de suspensão

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
02/08/2017 às 20:24.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:53
 (Fernanda Carvalho)

(Fernanda Carvalho)

Em poucos meses, Camila Vitória Marques, de 11 anos, poderá realizar um antigo desejo: jogar futebol e disputar corrida com colegas de turma nas aulas de educação física. Com dificuldades motoras por conta de uma paralisia na mão e no pé direitos,a menina passou ontem por uma cirurgia ortopédica pelo Sistema Único de Saúde (SUS), depois de três anos de espera.

Camila Vitória é uma das 60 pacientes pediátricas que serão atendidas em agosto no Hospital da Baleia, em Belo Horizonte. A retomada das cirurgias ortopédicas eletivas na instituição ocorre após os procedimentos terem sido suspensos por dois anos, devido à crise financeira.

Os procedimentos estão sendo custeados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), por meio de um convênio firmado em julho entre a prefeitura e instituição médica.

Previsão

A expectativa é a de realizar 150 cirurgias eletivas e 400 consultas mensais. Do total, 40% são destinadas a crianças e adolescentes. Os casos de urgência – cerca de 50 por mês – já estão sendo atendidos e financiados pelo município.

O convênio tem duração de um ano e poderá ser renovado. O hospital prevê, conforme o ortopedista Wagner Nogueira da Silva, ampliar as oportunidades e realizar até 350 cirurgias ortopédicas por mês para reduzir a fila de espera. 

O número corresponde à quantidade de operações feitas pelo SUS na instituição no primeiro semestre de 2015, antes da suspensão dos procedimentos eletivos. Após a interrupção, o Hospital da Baleia passou a atender somente pacientes que já estavam em tratamento.Fernanda CarvalhoApós a cirurgia, em poucos meses Camila Vitória também poderá escrever no caderno a matéria dada em sala de aula 

“Até julho fazíamos só 80 cirurgias por mês, mas para dar continuidade ao tratamento de pacientes que já estavam conosco. Tem gente que está esperando há quatro anos. A retomada é importante porque conseguimos agilizar o tratamento para pessoas que estão angustiadas esperando por uma solução. A cirurgia proporciona melhora de qualidade de vida e autonomia”, explica Wagner Nogueira.

É o que aguarda Camila Vitória. “Estou ansiosa, mas depois da cirurgia vou poder correr, andar direito, tudo que não consigo hoje”.

Pacientes celebram operação em meio a lágrimas e risos

Quando soube que poderia fazer a cirurgia de remoção de um osteocondroma nos ombros, Inêz Antônia Batista, de 14 anos, não conseguiu esconder a emoção. No consultório, ela chorou aliviada com a possibilidade de se ver livre das blusas fechadas e de deixar as costas à mostra.

A doença consiste no crescimento irregular de um osso nas escápulas, um tumor benigno que não traz dor nem implicações diretas à saúde da adolescente. Porém, prejudica bastante a autoestima dela.

Desde que descobriu o caroço, há mais de um ano, Inêz só anda com os cabelos soltos para que os colegas de escola não consigam vê-lo. Somente as amigas mais próximas sabem da situação. “É uma bolinha nas costas que posso conviver para sempre com ela, mas quero tirar. Não me impede de carregar mochila, por exemplo, mas me incomoda, fico constrangida. Serei muito feliz sem ele, vou poder usar regata, biquíni”, diz empolgada.
A mãe da garota, Núbia Antônia Rigoto, conta que, desde que recebeu a boa notícia, nem conseguiu dormir de tanta satisfação.Fernanda CarvalhoInêz Antônia chorou ao saber que faria a cirurgia 

Esperança

A cirurgia ortopédica também irá mudar a vida da pequena Karla Santos Silva, de 6 anos, que anda pelos corredores do hospital sorrindo para quem cruza o caminho dela. A criança aguarda na fila do SUS para corrigir um desvio no osso da perna que a acompanha desde o nascimento. 

Carla Patrícia dos Santos, avó da menina, mal vê a hora de a neta, agitada e alegre, conseguir dar ainda mais gás às brincadeiras. “Se já é desse jeito agora, imagina depois da operação!”.

Fechamento de unidade é debatida hoje em audiência

A retomada das cirurgias ortopédicas no Hospital da Baleia ocorre em um momento preocupante para quem espera há anos pela operação. Na última semana, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) anunciou o fim da Unidade Ortopédica Galba Veloso, do Hospital João XXIII, que tem capacidade para realizar até 300 cirurgias por mês.

O fechamento seria devido a inconformidades encontradas pela Vigilância Sanitária no local. Hoje, a Promotoria de Saúde, a Fhemig, o Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais e o Conselho Estadual de Saúde se reúnem para discutir o assunto.

Dez pacientes estão internados na unidade. Quatro deles aguardam procedimentos cirúrgicos e seis estão em tratamento de infecção, que serão absorvidos por outras instituições.

Por outro lado, o Hospital Metropolitano do Barreiro irá começar a fazer operações na área. Em agosto serão abertos leitos cirúrgicos para pacientes ortopédicos.

O procedimento também é realizado pelo SUS em outras nove hospitais da capital: da Criança, das Clínicas, Universitário da Faculdade de Ciências Médicas, São Francisco, Santa Casa, Evangélico, Odilon Behrens, Luxemburgo e Madre Teresa.

Questionada sobre os repasses ao Baleia para a retomada das cirurgias ortopédicas, a Secretaria Municipal de Saúde disse ter ajustado o valor do pagamento dos procedimentos acima do estipulado pela tabela SUS. O custeio será feito de acordo com a quantidade de operações realizadas na unidade.

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