Impasse leva a mudança de pediatras no Hospital da Baleia

RENATO FONSECA - Hoje em Dia
06/05/2014 às 07:17.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:27
 (Dione Afonso)

(Dione Afonso)

Instituição filantrópica considerada referência no atendimento e internações de crianças, o Hospital da Baleia, em Belo Horizonte, corre o risco de passar por uma troca de 100% do quadro de pediatras do Centro de Terapia Intensiva (CTI) até o fim deste mês. Alguns médicos atuam na unidade de saúde há mais de dez anos. A mudança repentina é o resultado de um impasse entre a direção da instituição e os profissionais, que não entraram em acordo salarial.

Enquanto a situação não é resolvida, a população fica no meio do fogo cruzado. Hoje, há 11 pediatras no CTI do hospital. O ideal seria no mínimo 16, segundo os próprios funcionários. A sobrecarga e o desfalque na equipe teriam obrigado os profissionais a reduzir as internações e suspender as eletivas – aquelas agendadas de acordo com uma cirurgia.

O hospital é credenciado no Projeto Municipal de Cirurgias Eletivas, que instituiu uma tabela paga por procedimento. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMAS), que faz os repasses, informou que na última segunda-feira (5) foi realizada uma reunião no Ministério Público (MP) para tratar do assunto. Ficou determinado que nesta terça-feira (6) “os médicos devem manter o atendimento à população, sob o risco de serem ajuizados pelo MP, caso se recusem a atender pacientes”.

NOVA EQUIPE

Na reunião também ficou acertado que o Hospital da Baleia vai contratar uma nova equipe médica para atuar na instituição a partir do dia 24.
“Uma troca assim, da noite para o dia, pode ser muito prejudicial. Não do ponto de vista do atendimento, pois quem chegar vai seguir os mesmos protocolos exigidos. O grande problema é a escassez de profissionais no mercado. É muito pouco provável que o quadro seja totalmente reposto. A não ser que as condições de trabalho melhorem significativamente, o que parece que não vai ocorrer”, afirma o diretor de defesa profissional do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed/MG), Eduardo Filgueiras.

Médicos ouvidos, mas que pediram para não serem identificados, informaram que a carência no quadro de funcionários tem sobrecarregado os profissionais, obrigando plantões extras ao longo da semana. Segundo eles, a instituição paga entre R$ 900 a R$ 1.050 por uma jornada de 12 horas. No mercado, o valor médio seria de R$ 1.200. “Estão sendo necessários vários plantões por um mesmo médico para que não ocorra desfalques. Isso, sem que possamos receber o que temos de direito. Tentamos um acordo e demos prazo até junho, mas fomos comunicados que seremos dispensados”, diz uma pediatra do CTI.

CONDIÇÕES

Os médicos também reclamam da falta de leitos infantis e precárias condições de trabalho. A superintendente-geral do hospital da Baleia, Elis Regina Guimarães, nega qualquer déficit de vagas e problemas de infraestrutura.

“Lamentamos essa situação. Sempre primamos por boas parcerias. No dia 23 de abril tínhamos fechado uma negociação com o coordenador do CTI. Mas os demais médicos não aceitaram e comunicaram a interrupção das internações. Essa interrupção abrupta das atividades nos obrigou a tomar a decisão (contratar nova equipe)”.

Estado vai ampliar vagas de UTI em 2014

A redução das internações no Hospital da Baleia lança um alerta sobre a situação dos Centros de Terapia Intensiva (CTIs) em Minas Gerais. Mesmo sem informar números precisos, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) admite carências em algumas regiões, como o Vale do Mucuri e o Jequitinhonha.
Segundo o subsecretário de Políticas e Ações em Saúde da SES, Tiago Lucas da Cunha Silva, alguns hospitais terão mais vagas nos próximos meses. Ao todo, 155 leitos neonatais e pediátricos para tratamento intensivo serão construídos ou reformados.

Estão sendo investidos R$ 40 milhões nas intervenções. As unidades de saúde que receberão as melhorias foram escolhidas conforme um edital, lançado em 2011.

Em dezembro de 2013, o total de vagas para tratamento intensivo no Estado era de 2.384, sendo 184 pediátricas e 529 para recém-nascidos.
Em nota, a SES informou que houve um crescimento de 70% no total de leitos em Minas nos últimos dez anos. E de 60% nos de UTI pediátrica e neonatal. 

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