Imprudência e alta velocidade elevam em 44% as mortes por atropelamentos em BH

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
02/05/2017 às 19:55.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:22

A combinação da imprudência de pedestres com a alta velocidade dos veículos tem matado cada vez mais no trânsito de Belo Horizonte. De janeiro a novembro do ano passado, os óbitos por atropelamento cresceram 44% na capital, no mesmo período de 2015, passando de 32 para 46. Os dados são da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). 

Vários fatores explicam o aumento das mortes. De acordo com o assessor de comunicação do Batalhão de Trânsito, o tenente Marco Antônio Said, um deles é a pressa dos motoristas, que seguem em altas velocidades pelas vias.

“Posso dizer que 50% das pessoas que morrem no Anel Rodoviário são atropeladas” (Tenente Geraldo Donizete, do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária)

Inclusive, os principais pontos onde ocorre esse tipo de acidente são as avenidas Cristiano Machado e Amazonas e o Anel Rodoviário. Vias de trânsito rápido, nesses locais o condutor acredita ter mais espaço para correr. Também destacam-se a utilização de celulares, tanto pelo motorista quanto pelo pedestre, e a falta de atenção das pessoas que atravessam fora das faixas. 

A falta de grades de proteção em algumas avenidas, como mostrado ontem pelo Hoje em Dia, pode justificar parte das ocorrências de atropelamento.

Tragédia

Amanda Franciele Barroso, de 23 anos, e a filha dela, de 4, foram vítimas da imprudência de um motorista que as atropelou na calçada, no bairro Alto Vera Cruz, Leste de BH. Dois anos depois do acidente, a mãe convive com duas dores. A física, reflexo do joelho fraturado e de escoriações em todo o corpo, e outra impossível de ser mensurada: a morte da filha. Lucas Prates Apesar do impacto, Marcos Antônio quebrou só o dedão do pé; o condutor que o atropelou fugiu e não foi localizado

“Vivo à base de remédios para dor e antidepressivos. Tem dia que penso que não vou mais dar conta de viver”, afirma. O motorista bêbado e sem carteira de habilitação ficou preso um mês, pagou fiança e aguarda julgamento em liberdade. 

ítima)

Já o entregador Marcos Antônio Marcelino, de 46 anos, não sabe quem o atropelou no mês passado. De bicicleta, ele foi atingido por um carro em alta velocidade quando atravessava uma avenida no bairro Céu Azul, em Venda Nova. O condutor do veículo fugiu e não foi localizado.

Apesar de ter sido arremessado a uma longa distância, Marcos Antônio quebrou apenas o dedo do pé. “Até pensei em parar no cruzamento, mas passei direto porque a preferência era minha”.

Feridos

De janeiro a novembro do ano passado, cinco pessoas foram atropeladas por dia na cidade, somando 1.598 casos em onze meses. Em dois anos, foram 3.383 vítimas.

Apesar de altos, os índices estão aquém da realidade. Segundo o tenente Geraldo Donizete, do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária, há alguns casos em que a vítima não aciona a polícia. “Algumas vezes, ela percebe que teve poucos ferimentos, levanta e vai embora. Em outras, o motorista foge e a vítima desiste de fazer ocorrência”.Flávio TavaresPedestres ignoram passarelas e as faixas destinadas a eles, arriscando-se em travessias perigosas pelas vias da cidade

Fragilidade expõe idosos, as principais vítimas dos acidentes

Com os reflexos reduzidos em função da idade, os idosos são as principais vítimas de atropelamentos na Grande BH. Eles representam 43% dos pacientes atendidos por esse motivo no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII que não resistiram aos ferimentos e perderam a vida. 

Ao todo, a unidade de saúde recebeu, em 2016, 1.889 vítimas de atropelamentos. Dessas, 81 vieram a óbito. Em seis anos, de 2011 a 2016, 14.027 pacientes deram entrada no pronto-socorro após serem atingidas por um veículo, e 598 não resistiram.

Para um dos fundadores da Associação Mineira de Medicina de Tráfego (AMMetra), Fábio Nascimento, as mortes entre os idosos têm ligação também com a maior fragilidade deles, que reduzem as chances de suportar os impactos da batida. 

edicina do tráfego)

De um modo geral, o atropelamento por um veículo transitando em uma velocidade de 60 km/h já tem 80% de chances de ser fatal, segundo Fábio Nascimento. Um estudo do Departamento de Trânsito Britânico, publicado pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, confirma essa teoria. Segundo a pesquisa, enquanto o veículo estiver a 64 quilômetros por hora, as chances de a vítima morrer são de 85%. Já quando está a 32 km/h, passa a ser de apenas 5%. 

A explicação está na transferência de energia entre veículo e a pessoa atropelada. “O corpo do ser humano é muito sensível e muitas vezes não resiste a uma pressão muito grande”, afirma Nascimento. As lesões mais comuns em adultos atropelados são em membros inferiores, traumatismo craniano, fraturas expostas e lesões internas em órgãos como o fígado e o baço. Editoria de Arte / Hoje em Dia / N/A

De janeiro a novembro de 2016, 46 pessoas morreram atropeladas em Belo Horizonte

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por