A história do entorno do Lagoinha, na região Noroeste de Belo Horizonte, está protegida. Parte do bairro de mesmo nome, passando pelo Bonfim e chegando no limite com o Carlos Prates, foi tombada pelo patrimônio municipal. A partir de agora, há regras para novas construções na área, e casas em processo de proteção que sofreram reformas clandestinas deverão ser adequadas.
O perímetro tombado passa também pela Pedreira Prado Lopes – que se torna o primeiro aglomerado tombado na capital mineira –, pega o lado direito da avenida Antônio Carlos, no sentido Centro, passa pelo Bonfim e chega ao Carlos Prates. A proteção concedida também atinge edificações importantes da região, como a Santuário de Nossa Senhora da Conceição, o Mercado da Lagoinha e o Hospital Odilon Behrens.
“A história de Belo Horizonte começou por aqui. A Lagoinha foi o primeiro bairro operário da então nova capital de Minas, e estamos felizes com o resultado”, disse Teresa Vergueiro, presidente do Movimento Viva Lagoinha, iniciativa que luta pelo reconhecimento da importância histórica da localidade. Cristiano Machado
O imóvel onde Teresa mora, datado de 1945, é um dos cerca de 400 que agora estão sendo analisados pela Diretoria de Patrimônio, vinculada à Fundação Municipal de Cultura (FMC), para também receber a proteção. Desses, 104 já tinham processo aberto antes da concessão do tombamento. O restante foi indicado na última quarta-feira. “Faremos reuniões com os moradores para que entendam melhor sobre esse processo. Há muita vantagem em ter a edificação tombada. Vamos explicar tudo a eles”, garantiu.
Opiniões divididas
Uma das pessoas que vai precisar dessa orientação é Belarmino Dias[/TEXTO], de 59 anos, dono de uma mercearia na rua Além Paraíba com rua Serro há 13 anos. Ele diz não estar muito bem informado sobre o tombamento do bairro, mas acredita que a medida será ruim, pois teme que fique mais difícil realizar reformas. “Eles (órgãos responsáveis) parecem não dar a assistência necessária para manter e conservar os imóveis tombados. Aqui no bairro parece que só uma casa foi reformada, e as ruas continuam mal cuidadas”, afirma.
Já o Padre Rodrigo, que há seis meses está na região do Santuário Nossa Senhora da Conceição, está esperançoso. Para ele, uma coisa é certa: o local precisa de revitalização. “É uma valorização da história e da arquitetura do bairro, que ficou abandonado por muito tempo”, comenta.
O presidente da FMC, Leônidas Oliveira, tranquiliza os mais receosos com o processo de tombamento. “Não significa engessamento. Traz ganho para toda a cidade, principalmente na região do Lagoinha, que tem um significado muito importante para a história de Belo Horizonte”, avalia.
Condições
Com o tombamento, regras para novas construções no perímetro da Lagoinha, Bonfim e Carlos Prates deverão ser respeitadas. A altimetria, por exemplo, é uma delas. A definição levará em conta a proximidade de bens culturais, topografia e visibilidade da Serra Curral. “Varia de 7 a 27 metros, dependendo da área onde será erguida a edificação”, explica o diretor de Patrimônio Cultural, órgão vinculado à Fundação Municipal de Cultura, Carlos Henrique Bicalho.
Outra diretriz apresentada é a restauração dos imóveis que foram reformados clandestinamente e tiveram a construção original modificada. As estruturas genuínas deverão ser recuperadas. Porém, Bicalho afirma que são menos de dez unidades nessa situação. “Vamos averiguar e tomar as medidas necessárias”.<EM><QA0>
História
De acordo com a FMC, a região da Lagoinha foi a área para onde imigrantes que não conseguiram se instalar nas proximidades do perímetro urbano foram morar nos primeiros anos da nova capital. Muitos deles, inclusive, vieram trabalhar nas obras de construção da cidade.
Entre as décadas de 1910 e 1920, foi instalado no local um ramal férreo, que permitiu o surgimento de estabelecimentos comerciais.