Livro traz histórias de superação vivenciadas por bebês prematuros

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
27/11/2017 às 17:09.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:54
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

Uma UTI Neonatal é um espaço onde se vivenciam histórias de superação diariamente. Não somente dos pequenos bebês, que lutam para se desenvolver e crescer dentro das incubadoras, mas também de pais e mães, que lidam com o medo e a ansiedade. No mês do Novembro Roxo, campanha que chama atenção para a prematuridade, histórias de famílias que vivenciaram a angústia de verem crianças internadas por nascerem antes de 36 semanas são contadas em livro.

A médica pediatra Tilza Tavares lança nesta segunda (27) o livro “Pequenos Guerreiros: A Força de Vida do Bebê Prematuro” (Folium Editora), que relata como é a vida dos bebês e suas famílias dentro de uma UTI Neonatal, a partir dos depoimentos de mães e pais de ex-prematuros extremos. Com 156 páginas, o livro traz 13 casos de força e superação, vividos dentro das unidades Neocenter, em Belo Horizonte. O lançamento acontece às 18h, na Leitura do Bh Shopping.

Confira entrevista com a médica sobre a realização do livro e o drama vivenciado pelas famílias frente a prematuridade de um bebê:

 Hoje em Dia - Como surgiu o desejo de escrever o livro "Pequenos Guerreiros"? Qual é o objetivo da publicação?

Dra. Tilza Tavares - O processo de entendimento e amadurecimento de um casal prematuro é lento assim como o processo de amadurecimento de seu filho. Ele é feito com muita dor, muita frustação e angústia. Com muitos sentimentos antagônicos. O objetivo do livro é acalentar a alma dessas famílias que estão nessa caminhada em uma UTI neonatal. Coloquei no livro exatamente o que conversamos com os pais. Essa conversa é feita no dia a dia, à medida que as etapas e as demandas vão surgindo. Com o livro entendo que esse sofrimento será amenizado, elas poderão se apegar nos exemplos das famílias que já passaram por esse processo.

 HD - Como foi o processo de construção do livro?

TT - Não existe pessoa melhor indicada para falar sobre o que é ter um bebê prematuro extremo em uma UTI do que uma mãe/pai que passou por isso. Convidei algumas famílias para participarem do livro dando os seus depoimentos. Foram escolhidas de forma aleatória; tiveram os seus filhos em tempos diferentes, com experiências diferentes. Formamos um grupo de WhatsApp e e-mail que denominamos de Mães Guerreiras. Fiz um esboço do conteúdo do livro – coloquei os assuntos que achei mais pertinentes – como se dá o nascimento de um bebê prematuro, o que vem a ser uma UTI neonatal, sobre a importância do leite materno, a importância da participação dos pais nos cuidados, sobre o adeus quando se faz necessário...

 HD - Enviava os capítulos para o grupo e elas ficavam à vontade em escrever o que quisessem, de acordo com a demanda de cada um . O último capítulo foi o capítulo dos meninos – mandaram fotos, desenhos, escritas – a verdadeira prova da teimosia da vida...

TT - Convidei alguns profissionais da área para capítulos específicos – Dr Frederico Amédée Péret, obstetra do alto risco, Dra Cristina de Paula Tofani, pediatra do desenvolvimento e sócia do Grupo Neocenter e a enfermeira Ana Cláudia de Castro para escreverem sobre o aleitamento materno. Começamos no início de abril desse ano. Queria muito que fosse lançado no dia em que comemoramos os 25 anos do Neocenter (instituição com 130 leitos em BH, nos hospitais Otaviano Neves, Santa Fé, São Camilo, Felício Rocho e Vila da Serra).

 HD - Que fatores são imprescindíveis para garantir a sobrevivência de um bebê prematuro?

TT - Cuidado, cuidado e cuidado… O bebê prematuro não é doente, o mais importante é evitar os eventos associados à assistência, manipulação mínima, ter disciplina, e muita calma. Em uma unidade de terapia intensiva neonatal não cabe muito intervencionismo, não cabe ansiedade, cabe muita análise e parcimônia. Existem as complicações que sabemos que podem acontecer e elas são abordadas nos momentos adequados. Tecnologia conta muito, conhecimento é preciso em qualquer situação da nossa vida. Mas o bebê prematuro extremo exige mais do que isso, exige muita serenidade.

 HD - Quais são as recomendações para as mães que têm crianças prematuras enquanto estão no hospital?

TT - Acreditar sempre, ter fé ... como diz o Lucas Calicchio, pai do Thiago "a fé alimenta a alma e uma alma bem nutrida se fortalece para enfrentar as maiores dificuldades impostas". É preciso entender que o tempo é o único remédio de um bebê prematuro, e o tempo dele é diferente do nosso, por isso é preciso muita calma… O estar com ele é muito importante, participar e vivenciar com ele todas as suas etapas, retirar o leite, por no colo sempre que possível… As frustações da perda de peso, das recaídas , a eternidade de não sair do oxigênio fazem parte e são importantes para o processo de crescimento. Eles perdem uma batalha aqui, ganham outra mais à frente mas o que importa é vencer a guerra. Elas costumam perguntar – vai dar certo, não vai? E a gente responde – já está dando certo…

 HD - E depois do período hospitalar?

TT - A história de um bebê prematuro não termina na sua alta. A história continua. A prematuridade continua acompanhando essas famílias. Do mesmo jeito que ele tem o seu tempo na UTI ele vai ter também na sua vida. Cada um com a sua história, cada um com a sua superação. É importante procurar um pediatra que tenha experiência com bebê prematuro que vai orientar como serão as próximas etapas. Como é preciso "corrigir" a idade de quem nasceu antes da hora, as aquisições se dão de uma forma mais lenta, cada uma no seu tempo.

 HD - Quais foram as principais vitórias/conquistas da neonatologia em seus mais de 60 anos de história?

TT - Foram importantes para a redução da mortalidade o uso do corticoide materno, administração do surfactante para o processo de amadurecimento dos pulmões, o avanço nos equipamentos, como respiradores, incubadoras que mantenham uma umidificação adequada, controle da temperatura e redução da infecção.

 HD - O que mais deixa os médicos impressionados em uma UTI neonatal? Os bebês têm uma força impressionante, né?

TT - É exatamente essa magia, essa força em permanecer vivo… E eles envolvem toda a equipe num movimento único de luta pela vida. A gente comemora cada vitória, cada conquista deles e de seus pais.

 HD - Como será seu novo projeto, que visa apresentar para as escolas as questões vivenciadas por crianças que foram prematuras?

TT - Com os nossos 25 anos, vimos que estamos mais velhos, mais grisalhos, mais tolerantes... E perguntamos como estão os nossos primeiros prematuros. Naquela época com certeza éramos menos experientes, os equipamentos ainda mais precários. Fomos atrás deles, hoje moças e rapazes lindos e felizes. Mas que passaram por um processo de aceitação da sociedade que não foi fácil.

Conversando com as mães que deram os seus depoimentos também vi que o acolhimento por parte das escolas é ainda muito precário. A sociedade de uma forma em geral não sabe o que um bebê de menos de 1.000g passa em uma UTI. É um processo de amadurecimento com muita dor, muito estímulo nocivo a ele ( luz, barulho, dor, manipulação..). Não sabe o que um ser tão pequeno e frágil enfrenta para virar finalmente um bebê após meses ..."Mas era só um prematuro"...

Mas a sociedade não tem culpa. Não foi dado a oportunidade à sociedade de saber como se dá esse processo de amadurecimento de um prematuro extremo. E essa função é nossa, nós temos uma responsabilidade social muito grande de conscientizar a nossa sociedade. E pode estar certa que, se eles forem acolhidos pela sociedade eles serão pessoas muito mais felizes! Vai ajudar muito na continuidade do desenvolvimento deles.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por