Maternidade Hilda Brandão, da Santa Casa, chega ao 1º século como modelo de atendimento à gestante

Renato Fonseca - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
20/03/2016 às 07:54.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:11
 (Reproduçaõ/livro 'Tempo de Nascer, a Obstetrícia em Minas')

(Reproduçaõ/livro 'Tempo de Nascer, a Obstetrícia em Minas')

Precursora no atendimento às gestantes e recém-nascidos da capital e referência em procedimentos de alto risco em Minas. A maternidade Hilda Brandão, da Santa Casa de Belo Horizonte, chega ao primeiro século como modelo de práticas assistenciais, vislumbrando a realização de um antigo sonho – o centro de memórias – e projetando expansões.

Erguido em 1916, o prédio em estilo neogótico abrigou por 90 anos a maternidade – desde 2006 ela funciona no 11º andar da Santa Casa no bairro Santa Efigênia, região Leste de BH. Em média são realizados mais de 320 partos e 1.500 atendimentos por mês, todos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A construção secular, porém, ainda guarda lembranças da época da fundação, como salas usadas para cirurgias, pilares de sustentação e escada do hall principal. Autor do livro “Tempo de nascer, a obstetrícia em Minas”, o escritor e jornalista Manoel Hygino dos Santos conhece como poucos a história da maternidade.

Na publicação, ele narra em detalhes o nascimento e reconhecimento obtidos ao longo dos anos. Manoel Hygino reuniu vasta pesquisa, com depoimentos, documentos e fotos históricas. Vários nomes são lembrados, como o do fundador Hugo Werneck e de Hilda Brandão, esposa do ex-presidente do Estado, Júlio Bueno Brandão.

“Ícones da história da maternidade”, resume ele, que hoje ocupa o cargo de ouvidor da Santa Casa. O livro também relata algumas especialidades do hospital, como o atendimento a siameses, e os relevantes serviços sociais.

"Não foram raras as vezes em que a maternidade recebeu recém-nascidos, de mães desconhecidas, abandonados em vias públicas, à própria sorte”, conta o escritor. “Aqui eles eram acolhidos, medicados e encaminhados para adoção”.

A mais antiga

Funcionária mais antiga da maternidade, a auxiliar de enfermagem Lenir da Silva Azevedo, de 61 anos, dedicou as últimas quatro décadas ao amparo de gestantes e bebês. Aprovada em um processo seletivo ocorrido em 1978, ela perdeu as contas de quantos partos ajudou a fazer. Mas, se recorda com emoção de um em especial, no fim dos anos 90.

“A mulher estava sentindo muitas dores e foi ao banheiro. Quando voltou, ficou parada na porta, em pé. Minutos depois, a criança nasceu, ali mesmo. Não sei como, mas consegui agarrá-la, evitando que caísse diretamente no chão. O cordão umbilical arrebentou e saí correndo com o bebê no colo até o bloco”.

Primeiro emprego com carteira assinada de Lenir – que se aposentou há oito anos –, o cargo dela continuará ocupado por muito tempo, garante. “Enquanto der conta do meu serviço, sem prejudicar ninguém, não arredo o pé. Tô firme e forte”, diz ela, que ainda acrescenta: “Tenho casa, carro e ajudei a pagar a faculdade das minhas filhas graças ao meu trabalho. Colhi muitos frutos aqui”.

Prestes a sair do papel

Engavetado há anos, o antigo sonho de restaurar a construção do século passado, fincada na rua Álvares Maciel, criando o centro de memórias, deve se concretizar neste ano. A informação é do superintendente-geral da Santa Casa, Porfírio Andrade. O imóvel está em obras e o material para compor o acervo, sendo catalogado.

Aparelhos cirúrgicos e mobiliário hospitalar de época, além de fotografias e documentos ficarão expostos. Outro projeto, mas de longo prazo, seria a criação de uma nova maternidade, na área do estacionamento próximo à rua Ceará. Essa empreitada, porém, demanda recursos inexistentes no momento e segue sem previsão.

Referência em partos normais

Atuando há mais de duas décadas na unidade de saúde, o coordenador médico da obstetrícia, Francisco Lírio Ramos Filho, reforça que a Hilda Brandão é destaque nas práticas assistenciais às mães e aos bebês. Dos quase 4 mil partos realizados em 2015, apenas 32% (1.260) foram de cesarianas. O número coloca a instituição em situação bem melhor que a média registrada em Belo Horizonte, que foi de 45% de cirurgias naquele ano, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde.

Outro diferencial, reforça a gerente da maternidade, Cássia Regina Lima, é o acolhimento dado às gestantes. A equipe multidisciplinar conta com a presença de enfermeiras obstetras durante o parto de risco habitual, além de doulas e voluntárias. Todas dão suporte às pacientes. “Ajuda a termos excelentes resultados. A mulher se sente muito mais acolhida”, afirma.

Depoimentos

Manoel Hygino dos Santos - Escritor, jornalista e ouvidor do Grupo Santa Casa

“O trabalho social desenvolvido na maternidade Hilda Brandão sempre foi um diferencial. Os bebês não apenas nascem aqui, eles são acolhidos pelos profissionais”

Edna Gleicieni Alves Pereira - Atendente que deu à luz no dia 14 de março de 2016

 “Desde a primeira consulta até o nascimento do Nicolas Samuel, me senti bastante acolhida. Eu e meu bebê tivemos todo o amparo possível na maternidade. Saí daqui feliz”

Arlete Maria Pereira - Integrante da Associação de Voluntários da Santa Casa

“Assim que pisei no hospital novamente, pensei: gente, minha mãe me teve aqui. Hoje trabalho neste local levando assistência às pessoas que precisam. Nunca imaginei isso”

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