Medo da febre amarela e falta de estrutura impedem acesso do público a vários parques de BH

Tatiana Lagôa e Raul Mariano
horizontes@hojeemdia.com.br
04/05/2017 às 20:33.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:24

O risco de contágio por febre amarela não é o único motivo para o fechamento de vários parques em Belo Horizonte. A falta de estrutura, de funcionários e seguranças também são entraves para a reabertura desses locais. Já são quase 90 dias com as opções de lazer reduzidas na capital. E, pelas perspectivas, o acesso a elas irá demorar ainda mais.

Levando em conta a expectativa da prefeitura, os equipamentos públicos ficarão inativos por, pelo menos, mais dois meses. Em alguns casos, a solução deverá vir só no fim do ano. 

A situação é facilmente percebida por quem passa por esses espaços antes abertos diariamente para a população. Brinquedos infantis, em outros tempos cheios de crianças, agora estão vazios, como no Parque Jacques Cousteau, no Betânia, Oeste da cidade.

A área está fechada desde 22 de fevereiro, com previsão de abertura apenas na primeira quinzena de julho. A situação incomoda a comunidade. “Ele não abre nunca. Quero poder trazer meus netos de novo”, reclamou Bernadete Ferreira, de 60 anos, moradora do Betânia. 

A reportagem percorreu cinco pontos fechados para constatar a real situação deles. Além do Jacques Cousteau, foram visitados os parques Ecológico Francisco Rêgo, das Mangabeiras, da Serra do Curral e o Mirante das Mangabeiras, além do zoológico, que só tem funcionado nos fins de semana.Lucas PratesServidores se dividem entre o Mirante do Mangabeiras e os parques das Mangabeiras e Serra do Curral

No Parque Ecológico, só teias de aranhas gigantescas foram encontradas nas portas fechadas. Os funcionários do espaço foram realocados para o zoológico, onde a empresa contratada para prestar serviços teve o contrato finalizado. 

“Estamos aguardando o resultado da licitação (para a contratação de uma nova empresa). A vencedora será responsável pelos 140 funcionários no zoológico. A partir daí, os funcionários do parque voltarão às respectivas funções e o local será reaberto”, explica Homero Brasil, presidente interino da Fundação Zoo-botânica.

Aviso

Nos portões fechados dos parques Serra do Curral e das Mangabeiras, incluindo o Mirante, o visitante encontra dois recados. O primeiro, datado de 22 de fevereiro, diz que a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) recomendou a interdição para a realização de trabalhos de prevenção da febre amarela.Lucas PratesParque da Serra do Curral foi fechado após macaco ter sido encontrado morto

O outro, de 12 de abril, alega que os locais ficarão fechados também para a manutenção dos equipamentos. Trabalho que ainda não foi iniciado, conforme funcionários ouvidos pelo Hoje em Dia

Nesses três locais, fontes que preferiram não ser identificadas disseram que faltam funcionários. “Os trabalhadores do Parque das Mangabeiras estão revezando entre o da Serra do Curral e o Mirante”, conta um servidor. O rodízio vale para faxineiras, responsáveis pela manutenção das áreas verdes e equipamentos, além dos seguranças. 

A Fundação Municipal de Parques alega que o principal motivo para a não reabertura dos parques das Mangabeiras, Serra do Curral e Jacques Cousteau é a determinação da SMSA, depois que macacos mortos com suspeita de febre amarela foram encontrados nesse locais.

aúde

Revitalização de espaços de lazer abandonados vai levar tempo; insegurança ronda as áreas

Não bastassem os portões fechados nos principais parques de Belo Horizonte, ainda falta estrutura adequada para uso de outra parcela dos equipamentos abertos ao público. Segundo a Fundação de Parques Municipais (FPM), existem áreas que foram completamente abandonadas nos últimos anos e vão demandar tempo para serem revitalizadas.

“Há pelo menos 20 parques que ficaram esquecidos. É o caso do Guilherme Lage (bairro São Paulo), por exemplo, que está abandonado há cerca de oito anos. Além dele, o do Dona Clara, próximo ao córrego do Onça, e o Belmonte, na região Nordeste de BH”, explica o presidente da FPM, Sérgio Augusto Domingues.
De acordo com ele, nesses locais a população possivelmente vai esperar bem mais tempo para usufruir de uma infraestrutura revitalizada. “Vamos fazer um mutirão, uma força-tarefa para recolher todo lixo de lá. Mas, para isso, precisamos de pelo menos mais uns seis meses”.

Até agora, 11 laudos deram negativo para febre amarela em macacos encontrados mortos na capital, segundo a prefeitura

Lucas Prates / N/A Funcionários do Parque Ecológico foram deslocados para o zoológico

Vigilância

Enquanto nenhuma solução é encontrada, a insegurança assusta até mesmo os funcionários desses parques. Uma profissional, que não quis ser identificada, chegou a pedir transferência do local onde atuava. “Lá só tinha uma pessoa capinando e outra no administrativo, além de mim”, conta a servidora. Ela diz que nem mesmo a população circula pela área, situada na região do Barreiro, hoje tomada por usuários de drogas. 

Além do pequeno contingente de trabalhadores da segurança atuando em alguns parques, outro fator que influencia é a retirada de guardas municipais em parte deles. 

Agentes da Guarda Municipal afirmaram que o efetivo destinado aos parques foi amplamente reduzido neste ano, devido ao surgimento de operações que demandaram um maior número de policiais no Centro e nos ônibus da capital.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, ainda não há casos de febre amarela contraídos em Belo Horizonte

A corporação, no entanto, afirma que “as mudanças tiveram como foco a viabilização de uma nova forma de atuação, onde os agentes passaram a permanecer sempre em duplas nos espaços onde a presença é fixa, sendo essa definida com base nas estatísticas criminais mais elevadas”.

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