Menos da metade dos partos realizados em Minas em 2017 foram normais

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
27/12/2017 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:27
 (Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

A cada dez mulheres que tiveram seus filhos em Minas Gerais na rede privada de saúde, de janeiro até ontem, apenas quatro fizeram parto normal–o que equivale a 42,25% do total. Para melhorar esses indicadores humanizando o processo, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regulamenta os planos, vai iniciar a fase dois do Projeto Parto Adequado. 

Criada em 2014, a iniciativa busca reduzir a quantidade de cesáreas no país. Na primeira fase, 35 hospitais se dispuseram a mudar a estrutura e a mentalidade da equipe médica e dos pacientes com relação às formas de concepção. Segundo a ANS, 10 mil cesárias desnecessárias foram evitadas desde então. 

Em janeiro, será iniciada a próxima etapa nacional do projeto, com 131 hospitais do país, sendo 15 em Minas Gerais. O Mater Dei foi uma das instituições que aderiu à proposta desde a fase anterior. O resultado foi um aumento das taxas de partos vaginais de 49% para 63%. A meta é fechar o ano em 65%. 

“Nós percebemos que existia um desejo maior por parte das mães pelo parto vaginal. Então, começamos a trabalhar a equipe médica, deixamos a estrutura mais adequada para o processo e passamos a munir nossos pacientes de mais informações a respeito”, afirma o coordenador da equipe de ginecologia do Mater Dei, Carlos Henrique Mascarenhas Silva.

“São muitos tabus quando o assunto é parto normal, como medo da dor. Mas na verdade, boa parte da dor está ligada à violência obstétrica”Polly do AmaralDoula

Indicadores

Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), dos 233.446 partos feitos no Estado, 98.633 foram vaginais. Em Belo Horizonte, dos 48.939 nascidos vivos nas redes pública e privada, 26.053 vieram de concepção normal, o equivalente a 53,2%, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

Doula desde 2008, Polly do Amaral acredita que os altos índices de cesariana tenham várias explicações. “Existe uma cultura que empurra a mulher para a cesárea, questionando a capacidade de ter o controle da situação. Nem todos os profissionais da saúde são preparados para que a mulher seja a protagonista do processo, enquanto ele só assiste. E ainda faltam informações”, diz. 

A funcionária pública Fabiana di Franco Consani, 38, remou contra essa maré e conseguiu ter os dois filhos de parto humanizado no Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte. O mais velho tem cinco anos e a caçulinha nasceu no último dia 15. “Pesquisei muito e pude contar com uma boa equipe além do apoio do meu marido”, conta. 

Além Disso

Apesar de a cesárea liderar os partos, ela envolve muito mais riscos do que o vaginal. “As chances de ter infecção são maiores na cesárea. Além disso, quem opta pelo parto vaginal tem menos risco de ter sangramentos e tem uma recuperação mais rápida”, afirma o coordenador da equipe de ginecologia do Mater Dei, Carlos Henrique Mascarenhas Silva.

O profissional defende que as futuras mães recebam as informações necessárias para que façam uma escolha consciente. “Existem aquelas mães que não se sentem preparadas ou têm receio de ter parto normal. E elas não podem ser obrigadas a fazer o que não se sentem confortáveis”, afirma. 

Em Minas Gerais, há um esforço por parte do governo para reduzir as cesáreas. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, o Estado participa do projeto Rede Cegonha do Ministério da Saúde. “É uma estratégia do Ministério da Saúde que visa implementar uma rede de cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como assegurar às crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis”, disse em nota. 

Após a implantação do programa, foram feitas uma série de ações, entre elas a inserção de enfermeiras obstétricas nas salas de parto e capacitação dessas profissionais. 

  

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