Mesmo com a subnotificação, 15 assaltos são registrados por hora em Minas

Alessandra Mendes
amfranca@hojeemdia.com.br
03/10/2016 às 19:41.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:05
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Pelo menos 15 assaltos são registrados por hora em Minas Gerais, neste ano. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), entre janeiro e agosto foram anotados 86.855 crimes deste tipo em todo o Estado. O número é 18% maior do que o total de casos ocorridos no mesmo período do ano passado, quando 73.290 queixas de roubo foram feitas.

E o aumento pode ser ainda maior, já que muitas vítimas não procuram a polícia para registrar o crime. Entre os motivos pelos quais a pessoa resolve não fazer a ocorrência, e acaba contribuindo para a subnotificação do roubo, está a sensação de que tal atitude não irá ajudar a resolver o problema.

impotência

Justamente por essa razão, um auxiliar administrativo de 19 anos, que prefere não se identificar, acabou preterindo o registro policial após ter sido assaltado no fim de julho no Barro Preto, na região Centro-Sul de BH.

“Quando isso acontece com a gente, a sensação é de impotência. Com a pressa de ir de um compromisso para o outro, e porque achei que não ia adiantar nada, resolvi não fazer o boletim de ocorrência”, diz o rapaz.

A vítima foi abordada por dois homens em plena luz do dia após descer de um ônibus na movimentada avenida Amazonas. “Me cercaram, pegaram meu celular e me ameaçaram, por isso não fiz nada. Toda a cena foi presenciada por muitas pessoas que estavam na rua, mas ninguém fez nada. Tenho diversos conhecidos que relatam nas redes sociais que foram assaltados recentemente. Estamos cada vez mais acuados”, lamenta o auxiliar administrativo.

Para Frederico Marinho, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, a subnotificação é um retrato da falta de confiança da população nas forças policiais. “Não temos a exata noção de quão ruim está o cenário. Sabemos que, por causa dos casos não registrados, é pior do que dizem os números, mas não sabemos quanto pior. Para reverter a situação, é preciso mudar o paradigma adotado pela gestão da segurança no Estado”, diz.

Especialista defende retorno da gestão integrada contra a violência

Na avaliação de Frederico Marinho, pesquisador do Crisp, a solução para a escalada dos assaltos em Minas passa pelo retorno de políticas de integração e combate ao crime. “A partir do momento em que o programa de Integração da Gestão em Segurança Pública (Igesp) foi abandonado, os crimes contra o patrimônio começaram a aumentar. O crescimento do roubo em Minas é resultado da ausência dessa política, que prevê a ação conjunta dos órgãos da segurança com o Ministério Público e o Judiciário”, aponta o especialista.

Isso explica também, segundo ele, porque o índice de homicídios no Estado se manteve praticamente no mesmo patamar, enquanto os crimes contra o patrimônio subiram. “A vigência do programa Fica Vivo mostra como esse tipo de política é importante. Os números estão neste patamar porque o trabalho para prevenir e reduzir os assassinatos nas áreas com maior incidência foi mantido”, ressalta.

Só em Belo Horizonte, a Polícia Militar fez mais de 10 mil reuniões comunitárias, com moradores de todas as regiões, para avaliar e combater com eficiência os problemas de cada parte da cidade

Entre janeiro e agosto deste ano, foram registrados 2.630 homicídios em todo o Estado. No mesmo período do ano passado, foram 2.569 mortes. Em Belo Horizonte, apesar de os crimes contra o patrimônio, em especial o roubo, terem seguido a alta registrada em Minas, os homicídios caíram 2%, passando de 391, em 2015, para 381 em 2016.

Operações policiais

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que para combater a criminalidade “tem desenvolvido diversas operações em todo o Estado, que são constantemente acompanhadas pela mídia, principalmente ligadas à apreensão de armas de fogo, contribuindo para a redução de homicídios”. 

A corporação afirma que tem investido em reuniões comunitárias para maior conhecimento da PM sobre os problemas locais, e nas redes de proteção de vizinhos, comércios e escolas.

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