Motorista paga R$ 5,10 em pedágio da MG-050, mas encontra muitos perigos

Gabriela Sales* - Hoje em Dia
18/07/2015 às 08:59.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:58
 (Ricardo Bastos / Hoje em Dia)

(Ricardo Bastos / Hoje em Dia)

Divinópolis – A concessão da MG-050 à iniciativa privada aconteceu há oito anos, mas problemas estruturais que persistem até hoje contribuem para tornar a rodovia a mais perigosa de Minas. Desníveis no asfalto, canteiros de obras paralisadas, sinalização precária e poucos trechos duplicados são algumas da falhas comuns.

A reportagem do Hoje em Dia percorreu nessa sexta-feira (17) 83 quilômetros da estrada – de Juatuba, na Grande BH, a Formiga (Centro-Oeste). Viagem realizada um dia depois de um estudo do governo mineiro enquadrar a MG-050 como a mais letal do Estado. De 2013 a 2014, 110 pessoas morreram na via.

O Anel Rodoviário de Divinópolis, localizado em período urbano, é o trecho mais problemático. O trânsito misto de caminhões, carros, ônibus e pedestres é invariavelmente causa de acidentes e atropelamentos. Dos 16 quilômetros, sete são críticos segundo a Polícia Militar Rodoviária (PMRv).

A chamada “curva da morte” não tem esse nome por acaso. É fechada, em declive e com pista simples. “Motoristas de caminhões em velocidade mais elevada perdem o controle e invadem a contramão, causando acidentes graves”, afirma o tenente Antônio Marques, comandante do 3º Pelotão da PMRv.

Outro lugar considerado perigoso é a entrada do parque industrial de Divinópolis. Muitos trabalhadores cruzam o Anel Rodoviário para ir trabalhar nas empresas instaladas no local ou para acessar bairros no entorno. Os atropelamentos são frequentes, diz o tenente.

Foi instalado um semáforo no Anel, há um ano, para tentar reduzir os acidentes, mas o único resultado foi a formação diária de congestionamentos, que chegam a dez quilômetros.

Cobrança

Surpreendentemente, um dos pontos mais malconservados da MG-050 fica logo depois de uma praça de pedágio em Itaúna (Centro-Oeste). Ao pagar R$ 5,10 para passar, o motorista encontra adiante pistas simples, com ondulações, buracos e sem sinalização.

“Não vemos benefícios que justifiquem esse valor do pedágio. O trajeto todo da MG-050 é perigoso. Há um fluxo grande de caminhões em pista simples”, afirma o economista Henrique Cassiano, de 35 anos, que viaja diariamente pela rodovia a trabalho.


CARO DEMAIS – Após praça de pedágio em Itaúna, estrada ainda em pista simples apresenta ondulações. Foto: Ricardo Bastos/Hoje em Dia

Precária

Em Azurita (Centro-Oeste), o principal problema é a sinalização falha nos trechos em obra. Os locais funcionam no sistema pare e siga, e motoristas gastam até sete minutos para percorrer 500 metros. Enquanto aguardam na fila, moradores aproveitam para vender alimentos e eletrônicos.

No trecho entre Pimenta e São Sebastião do Paraíso, o que preocupa é o excesso de curvas, todas em pista simples e com sinalização falha. “Excesso de velocidade e ultrapassagens em locais proibidos ocasionam batidas de frente”, relatou o tenente Antônio Marques.

Respostas

Por causa dos recorrentes atrasos nas obras, a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) abriu, desde o início da concessão, 55 processos administrativos, sendo 25 deles no ano passado, contra a concessionária AB Nascentes das Gerais.

Entre as obrigações contratuais da empresa está a duplicação, criação de terceira pista, correções de traçado, recuperação do pavimento e construção de pontes, viadutos e passarelas.

A concessionária informou, em nota, que as obras serão finalizadas em dois anos. O investimento até o momento foi de R$ 628 milhões. Ainda serão aplicados R$ 500 milhões. A Nascentes informou ainda que 20 dos 48 quilômetros que deveriam ser duplicados foram finalizados.

Faltou planejamento

Para o especialista em trânsito e presidente da ONG SOS Rodovias, José Aparecido Ribeiro, os problemas estão relacionados com o não cumprimento dos termos previstos em contrato e da falta de planejamento. “Pra que se privatiza? para torná-la mais segura. Ela ficou mais insegura porque não estão fazendo o planejamento. Então, está errado. Isso merece a atenção da Assembleia porque envolve uma concessão”.

Ele explica que é necessária um estudo dos trechos com maior índice de acidentes, como o de Divinópolis, para avaliar a necessidade de mudanças no traçado ou duplicação. Trechos da rodovia no perímetro urbano também merecem atenção. Passarelas, alambrados para evitar que pedestres atravessem no meio de veículos em alta velocidade, e radares de até 70 km/h são indispensáveis, defende o especialista.

“Batidas frontais, capotamentos e atropelamentos podem ser reduzidos com essas medidas”, afirma.

*Com a repórter Letícia Alves

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