(Carlos Henrique / Hoje em Dia )
MARIANA – Embora a lama não tenha atingido Mariana, ela respinga no dia a dia da cidade. A moradora e empresária do setor de turismo de Mariana, Valéria de Almeida Gomes, de 53 anos, é testemunha de como a rotina do município mudou. “A cidade era movimentada. Nos finais de semana muitas pessoas vinham ao centro histórico fazer compras ou passear”, rememora, lamentando a situação atual. “Esse vai ser o pior Natal da cidade. Estamos preocupados, pois atravessamos duas crises e não sabemos se vamos suportar isso”, diz.
A empresária afirma que o movimento de turistas caiu em média 80% em Mariana. “Infelizmente a cidade não explorou o turismo como fonte de renda. E agora temos que nos unir para encontrar alternativas. É na crise que a gente vê a nossa força”.
A cidade, que também depende muito da mineração, tem 20 hotéis e pousadas. A maioria está passando por momentos difíceis. “Nós recebíamos funcionários da mineradora e empreiteiras da região. Com o ocorrido e a mineração parada, os hóspedes foram embora, e não tem muito turista vindo para a cidade. A situação que já não era boa, por causa da crise no país, ficou pior”, afirma o dono de um dos hotéis, que pediu anonimato.
Há 10 anos o senhor José André, de 59 anos, trabalha na Igreja da Sé, localizada na principal praça da cidade, e comenta que nunca viu um período com tão poucos turistas. “Tem muita gente transitando na cidade, mas tudo em decorrência da tragédia. São vítimas, ou pessoas que estão trazendo ajuda”, constata.
VALÉRIA GOMES – “É na crise que a gente vê a nossa força. E os moradores estão muito solidários com as vítimas”
Além disso
Os sinos das igrejas de Mariana soaram por cerca de dez minutos ontem, às 16 horas, no mesmo horário que o mar de lama atingiu o distrito de Bento Rodrigues, há 30 dias. O ato foi acompanhado por um culto ecumênico na Arena Mariana, local que serviu de abrigo para as vítimas da tragédia. Moradores da cidade se uniram aos atingidos pelos rejeitos de minério para lembrar a data e fazer orações para os desaparecidos e as vítimas fatais, em um clima de solidariedade. “Essa celebração foi pensada há uma semana. Uma forma de reunir essa avalanche de solidariedade que chega aqui em Mariana, e levar palavras boas para todos que estão sofrendo com essa tragédia, pois estão todos temerosos com o futuro”, explicou o diácono permanente da igreja católica, Robson Adriano.
HOMENAGEM – O culto ecumênico na Arena Mariana, que serviu de abrigo para as vítimas