Mudanças no trânsito sofrem rejeição de pedestres e motoristas, mas especialistas aprovam

Letícia Alves e Raquel Ramos - Hoje em Dia
18/03/2015 às 08:44.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:23
 (Eugenio Moraes/Hoje em Dia)

(Eugenio Moraes/Hoje em Dia)

Desde o início das obras do Move, há pouco mais de um ano, 13 intervenções foram feitas em Belo Horizonte para melhorar o trânsito. Apesar disso, grande parte das mudanças não agradou a motoristas e pedestres. Especialistas, no entanto, defendem as intervenções, mas alertam que, em pouco tempo, se mostrarão obsoletas diante do crescimento da cidade.

Além das obras concluídas, o hipercentro ganhará, até julho, mais seis alterações na circulação, no escopo do programa Mobicentro, pacote de obras que visa priorizar o pedestre. Haverá alterações na sinalização e no sentido da circulação nas avenidas Afonso Pena, Amazonas e Assis Chateaubriand e nas ruas Tupinambás, São Paulo e Curitiba.

Para o professor de engenharia de transporte e trânsito da Fumec Márcio Aguiar, as mudanças têm curto prazo de validade, uma vez que grande parte foi implementada para abrir espaço ao Move, que ele considera não ser solução definitiva para a mobilidade. “Daqui a alguns anos, teremos problemas porque não estamos trabalhando na causa. O que precisamos é de um sistema onde o trânsito não interfira nele, como o metrô subterrâneo ou monotrilho”.

As alterações promovidas até agora também são consideradas paliativas na avaliação do especialista em engenharia de transportes Ronaldo Gouvêa. “Não adianta tapar o sol com a peneira. Em pouco tempo, o sistema estará saturado”, diz. Mesmo assim, Gouvêa considera que as mudanças foram necessárias para acomodar o tráfego no hipercentro. “A BHTrans está fazendo o que é possível”.

O especialista também destaca que as intervenções não privilegiaram o pedestre, que, muitas vezes é vítima de acidentes, principalmente na área central. “As obras não foram feitas de forma completa. As travessias de pedestres ainda estão deixando a desejar em vários pontos”, afirmou.

Em enquete realizada pelo Portal Hoje em Dia, quase metade dos participantes (46%) considera que o trânsito na cidade piorou após as intervenções para a passagem do Move. Para 35%, a situação continua a mesma. Já 20% considera que o tráfego está melhor.

Prioridades

A proposta da BHTrans de priorizar o transporte público e os pedestres, mesmo que isso tenha impacto negativo no trânsito de carros, tem o apoio do especialista em trânsito Silvestre de Andrade Filho.

“Foram definidas prioridades e, por causa disso, os carros perderam espaço. É uma consequência natural retirar espaços do automóvel. Não tem outro jeito”, afirma.

Andrade destaca a necessidade de intensificação da fiscalização para punir os motoristas que invadem as faixas exclusivas, atrapalhando a fluidez.

Para muitos, o que mudou foi o endereço dos congestionamentos no hipercentro da cidade

Muitos motoristas e pedestres ainda não se acostumaram com as novas formas de andar, nem mesmo observaram melhorias em decorrência das mudanças. A principal reclamação é a de que o trânsito que existia em algumas vias foi desviado para outros pontos da cidade.

Exclusiva para ônibus do Move, a avenida Paraná não apresenta mais engarrafamentos. Por outro lado, ruas vizinhas ficaram visivelmente mais cheias por veículos obrigados a mudar de rota. “Os ônibus que ainda não foram integrados ao novo sistema de transporte ficam parados na Curitiba. Parece que a rua não tem espaço para comportar todos eles”, diz a vendedora Adriana Trindade.

Outras pessoas acostumadas a caminhar pela avenida notam um alto número de atropelamentos. O último acidente do tipo foi registrado em 25 de fevereiro, quando um ônibus da linha 66 atingiu dois pedestres, na esquina com rua Carijós. “Há imprudência das duas partes, mas talvez a sinalização precise ser intensificada”, sugere a comerciária Shirley de Paula.

Mais críticas na Santos Dumont, que também se transformou em corredor do Move. Segundo Graciano Silveira Mendes, proprietário de uma loja na avenida, as medidas não foram suficientes para resolver um antigo problema no local: os congestionamentos no fim da tarde. “Assim que anoitece, forma-se uma fila de coletivos”.

Como reflexo das modificações na rua Goiás, que teve o sentido invertido em função do Move, motoristas reclamam que, agora, a Guajajaras fica frequentemente parada. “Antes, os carros que saíam da Afonso Pena ou Carandaí, subindo a Guajajaras, podiam virar à direita na Goiás, o que dissolvia o trânsito. Como a conversão passou a ser proibida, todos os veículos têm que subir pela mesma rua, que, obviamente, ficou lotada”, disse o taxista Deoclesio Oliveira.

A alteração viária na avenida Carandaí com Afonso Pena, próximo ao Palácio das Artes, também não foi bem aceita. No local, dois canteiros centrais foram construídos, dividindo a pista em três.

“Quando a gente desce e pega a Pernambuco para a Carandaí, o trânsito fica confuso e complicado. Tem dado muito congestionamento ali”. Segundo a BHTrans, não há possibilidade de alteração no trânsito do local.
 

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