Número de moradores de rua cresce 70% em BH em dois anos: pelo menos 3 mil vivem sem teto fixo

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
10/02/2017 às 20:13.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:51

O crescimento da população de rua em Belo Horizonte não é apenas uma impressão, mas uma constatação da Secretaria de Políticas Sociais da PBH. O órgão já considera que, pelo número de atendimentos prestados, há pelo menos 3 mil pessoas morando nas ruas da capital – um aumento de quase 70% em relação aos 1.827 moradores contabilizados no último censo, realizado em 2014.

Conforme a Secretaria de Políticas Sociais, o maior desafio da prefeitura é definir um parâmetro de qualidade para os serviços prestados em BH

Os principais motivos para essas pessoas irem para as ruas, de acordo com a pasta, são os conflitos familiares, seguidos do envolvimento com drogas. Uma repetição do que foi verificado no último levantamento, quando 52,2% dos entrevistados disseram que foram para as ruas depois que a relação em casa se tornou problemática. 

O comportamento dos moradores também não é mais o mesmo. Secretária de Políticas Sociais, Maíra Colares explica que a mobilidade dos grupos também está maior. “Percebemos que eles não ficam mais em guetos, mas circulam por vários pontos da cidade, o que aumenta a percepção de que há mais gente nessa condição”, explica.Flávio Tavares / N/ADANDO UM JEITO – Bancos, varais e barracas são usados pelos moradores de rua para se abrigar nas calçadas da cidade

É o caso de Jeanne da Silva, que há mais de um ano vive nas ruas da região Centro-Sul. Grávida de oito meses da pequena Pérola Vitória, ela cresceu no Taquaril, Leste de BH, e já trabalhou como cabeleireira, faxineira e cozinheira. 

“Aqui não há de onde partir para definir se um atendimento é humanizado” (Maíra Colares, secretária de Políticas Sociais

Ao lado do companheiro Aquiles Rodrigues, Jeanne teme perder a guarda da filha caso não providencie uma moradia. Ela alega conviver diariamente com a necessidade de encontrar um novo local para dormir, já que o convívio com comerciantes e moradores dos bairros é quase sempre conflituoso. 

“Já chegaram a me oferecer casa, mas eu teria que ficar separada do meu marido, por isso não aceitei. O pior são os fiscais da prefeitura, que estão sempre levando nossas coisas embora. É muito difícil”, diz.

“Paramos em um patamar de planejamento em que não desenvolvemos novas soluções (sociais). Não tenho muita esperança de que isso se resolva, mas sim que se torne pior” (Regina Helena Alves, historiadora)

Segundo a PBH, o recolhimento de objetos está baseado na norma de regulação urbana. O que não é permitido é a retirada de objetos pessoais, como cobertores. O que pode ser levado pelos fiscais são objetos que obstruem a via, conforme prevê o Plano Diretor.Wesley Rodrigues / N/A“Já chegaram a me oferecer moradia, mas eu teria que ficar em uma casa separada do meu marido, por isso não aceitei. O pior são os fiscais da prefeitura, que estão sempre levando nossas coisas embora. É muito difícil” (Jeanne da Silva, de 29 anos)

 Wesley Rodrigues / N/A“Minha mulher foi embora com meu filho para o Vale do Jequitinhonha depois que eu fiquei desempregado. Sou alcoólatra em tratamento e sempre trabalhei como jardineiro. As ruas de Belo Horizonte estão cheias de moradores vindos de outros Estados. Isso piora ainda mais o problema” (Evandro Henrique, de 41 anos)

Leia mais sobre a situação dos moradores de rua na edição de amanhã.


 

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