Na primeira Semana Santa após tragédia da Samarco, Mariana acolhe atingidos

Agência Brasil
27/03/2016 às 14:40.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:39
 (Léo Rodrigues/Agência Brasil)

(Léo Rodrigues/Agência Brasil)

Fiéis dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu, que perderam imóveis e bens materiais após o rompimento da barragem da mineradora Samarco, fizeram questão de manter a tradição religiosa na Semana Santa, mesmo diante da adversidade. A lama de rejeitos que se espalhou com a tragédia arrasou as duas comunidades e deixou 19 mortos.

Os impactos ambientais atingiram toda a bacia do Rio Doce e destruíram áreas de vegetação nativa. Os antigos moradores foram inicialmente alojados em hotéis na região central de do município e agora estão em casas alugadas. Enquanto aguardam a reconstrução da vila em um novo local, que deve começar ainda este semestre, as despesas são integralmente pagas pela Samarco.

Com a vida de cabeça para baixo, o empresário Sérgio Raimundo Sobreira não desanima. "Não adianta ficar lamentando, é erguer a cabeça e olhar pra frente. Então a Semana Santa é um momento que nos dá força. A gente se apega em Deus e segue adiante", disse.

No dia da tragédia, a mãe e o irmão do empresário, que tinham um armazém de mantimentos e bebidas, ficaram incomunicáveis. "Eu estava no centro de Mariana. De início não acreditei, mas corri para lá. Finalmente, quando já estava no distrito, consegui um contato por telefone com eles, que estavam a salvo", relembrou.

O bispo auxiliar de Vitória, dom Rubens Sevilha, participou das celebrações da Semana Santa de Mariana para o sermão do descendimento da cruz. O religioso fez uma referência à situação vivida pelos atingidos em toda a bacia do Rio Doce. “Que Jesus seja um suporte para que todos possam retomar as suas vidas.”

A Arquidiocese de Mariana vem acompanhando de perto a situação dos moradores de Bento Rodrigues e Paracatu. Como os atingidos estão dispersos em várias localidades da cidade, uma capela no bairro de Barro Preto foi cedida para que se reúnam. No primeiro domingo de cada mês, a capela é reservada para a população de Paracatu; e, no último domingo, é a vez dos moradores de Bento Rodrigues.

Portas abertas
Segundo o arcebispo da Arquidiocese de Mariana e ex-presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio, as portas também têm sido abertas para os movimentos sociais que acompanham os desdobramentos da tragédia, como o Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB). No início desse mês, a Igreja Católica em Mariana sediou uma reunião de movimentos sociais durante o Seminário das Dioceses que compõem a Bacia do Rio Doce. O encontro teve como tema “Bacia do Rio Doce, nossa casa comum: corresponsabilidade de todos frente a vida ameaçada”.

“Estamos insistindo para que os atingidos sejam ouvidos nas decisões que devem ser tomadas. Que eles sejam os protagonistas. Não se pode tomar decisões e depois apenas apresentá-las para execução”, defendeu o líder religioso.

Nilza Nélia Vitor, empregada doméstica e moradora de Mariana, fica feliz com a presença dos conterrâneos atingidos pela barragem. Ela diz que a Semana Santa é um momento propício para que a comunidade os acolha e lhes dê energia.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por