Obras não acabam com degradação do hipercentro

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
16/08/2015 às 08:14.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:22
 (Flavio Tavares/Hoje em Dia)

(Flavio Tavares/Hoje em Dia)

Planejadas para garantir bem-estar ao pedestre e dar mais fluidez ao transporte coletivo, as obras de mobilidade urbana vêm contribuindo para renovar o hipercentro de Belo Horizonte. As intervenções, no entanto, não têm sido suficientes para requalificar a área, delimitada pelas avenidas do Contorno, Amazonas, e pela Região Hospitalar. Tampouco para derrubar o estigma de região marginalizada.   Quem mora ou trabalha no local queixa-se de políticas sociais pouco efetivas. Opinião semelhante têm arquitetos e urbanistas. Para eles, a região carece de mudanças mais consistentes, considerando o apelo social.   Desde a criação do Plano de Reabilitação do Hipercentro de BH, em 2007, quando quarteirões fechados da Praça 7 foram esteticamente renovados e a praça Raul Soares reformada, pouca coisa foi sugerida para o local, bastante degradado em função do grande fluxo de pessoas. Todos os dias, passam pela Praça 7 cerca de 330 mil pessoas.    “A requalificação continua necessária, mas num cenário conflituoso, é preciso que haja melhoria física acompanhada de políticas sociais”, avalia o arquiteto e urbanista Rogério Palhares Araújo, que coordenou o estudo no início dos anos 2000. Para requalificar espaços subutilizados ou degradados, Palhares defende a criação de espaços exclusivos para feiras gastronômicas, de mercados a céu aberto e o fechamento de ruas para lazer, a exemplo do que foi proposto para a rua Sapucaí, em 2012.   FORA DO PROGRAMA – A rua Guaicurus não foi contemplada com obras de revitalização. Foto: Flavio Tavares/Hoje em Dia   Mobicentro   Apresentado como projeto de melhoria no trânsito, o Mobicentro é, segundo o secretário da Regional Centro-Sul, Marcelo de Souza e Silva, diretamente responsável pela requalificação da área central. “Temos o Boulevard Arrudas, com o tamponamento do rio, que também está melhorando a região, além de projetos para ocupação debaixo de viaduto”, disse. Não há, no entanto, projetos de melhoria urbanística previstos para a região, segundo ele.   Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Bruno Falci, é preciso urgência no planejamento da reocupação do hipercentro, esvaziado ao longo dos anos. “Temos que manter a ordem e não deixar que a área se deteriore. A partir do momento que a região se tornar segura, organizada, limpa, com pessoas trabalhando licitamente, tudo tende a melhorar”, ressalta.   Quem vive por lá espera mudanças. Manter a qualidade dos serviços é importante, mas fundamental é oferecer qualidade urbana, estética e reconstruir áreas degradadas. “Ninguém se sente bem num lugar abandonado, feio. Todo mundo quer um Centro vivo, seguro, com calçadas bonitas, equilibrado do ponto de vista social”, aponta o presidente da Associação de Moradores e Amigos da Região Central de Belo Horizonte (Amarce), Vitor Diniz.   Problemas recorrentes apontados por moradores são o uso de drogas e álcool por moradores de rua. Alguns utilizam os espaços públicos para fazer necessidades fisiológicas e até manter relações sexuais. Também há sujeira e mau cheiro nas ruas, além das pichações. “Não queremos uma política anti-humanitária, mas eficaz”, reforça Diniz.   A Regional Centro-Sul informou que vai publicar nos próximos dias chamamento público para ocupação debaixo dos viadutos. Em fevereiro do ano passado, a prefeitura anunciou que até o fim de 2016 faria intervenções em quatro elevados. Até agora, apenas o viaduto de Santa Tereza está sendo restaurado.     Revitalização do Barro Preto adiada para abril de 2017   As obras de revitalização do Barro Preto, na região Centro-Sul da capital, ficaram para o ano que vem. Com projeto elaborado em 2009 e aprovado em 2012, as intervenções foram novamente adiadas.   Se os prazos iniciais forem mantidos, as obras serão entregues à população com mais de dois anos de atraso, em meados de 2017. A expectativa era a de que as modificações no Barro Preto fossem iniciadas em setembro de 2013 e concluídas em 15 meses, ou seja, em dezembro de 2014.   No entanto, se começadas em janeiro do ano que vem, só deverão ser finalizadas em abril de 2017. De acordo com o gerente de Projetos Urbanos Especiais da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano, Ricardo Cordeiro e Costa, um novo projeto está sendo estudado para o bairro, que terá a área restaurada reduzida.   “A obra diminuiu um pouco. Estamos finalizando os projetos com um novo escopo para começar as obras e, se tudo der certo, devemos retomá-las no início do ano que vem”, disse.    Investimento   Inicialmente estimadas em R$ 12 milhões, as intervenções previam alargamento de calçadas, travessia elevada para pedestres – como na Praça 7 e na Savassi – arborização, iluminação e instalação de mobiliário urbano.   Um dos bairros mais antigos de Belo Horizonte, conhecido como polo de moda, o Barro Preto recebe, por dia, cerca de 450 mil pessoas.   Iniciada há oito anos, transformação de prédios comerciais em residenciais anda a passos lentos    O uso misto do Centro de BH, harmonizando comércio, serviços e habitação, e contribuindo para a revitalização, caminha a passos lentos. Criado em 2007 com a finalidade de transformar edifícios comerciais abandonados em prédios residenciais, o Projeto Centro Vivo teve pouca adesão da iniciativa privada.   A prefeitura informa que não tem controle sobre os empreendimentos envolvidos no projeto. Passados oito anos, sabe-se, no entanto, que no máximo três foram alterados. Um deles é o Edifício Tupis, localizado na avenida Amazonas.   Apelidado de “Balança mas não cai”, o prédio, lendário, ficou mais de 20 anos abandonado, mas vem sendo restaurado e deve ficar pronto até o fim do ano. As obras são executadas pela construtora Diniz Camargos, que adquiriu mais três prédios na região Central de BH, nas mesmas condições.   O objetivo do Centro Vivo é contribuir para a reocupação da região, esvaziada, principalmente, após a transferência dos camelôs para shoppings populares e de algumas secretarias estaduais para a Cidade Administrativa.   Local atraente   O empresário Teodomiro Braga, diretor da construtora, diz que a iniciativa é vantajosa. “O resultado tem sido positivo para a gente e para a cidade. A prefeitura e o estado investiram no Centro, melhorando a segurança, ruas e praças, e isso torna o local mais atraente para o morador”.   As obras do “Balança mas não cai” foram iniciadas em abril de 2008, mas ficaram parados por questões judiciais relacionadas à venda do imóvel. O prédio terá 60 apartamentos e as três lojas no térreo.   O antigo Hotel Excelsior, na praça Rio Branco, exemplar modernista dos anos 1960, onde funcionou a Minas Brasil Seguros, também deu lugar a um residencial cujas unidades estão à venda. Ao todo são 152 apartamentos e uma escola profissionalizante.   O primeiro edifício restaurado no Centro foi o Chiquito Lopes. O prédio de 13 andares e 167 apartamentos foi adquirido do fundo de pensão dos funcionários da Vale e seguiu o modelo de recuperação, em que apenas parte do prédio original é aproveitada.  

Um ano depois, Zona Cultural Praça da Estação não emplaca

Criada há pouco mais de um ano para virar referência e estimular manifestações culturais e artísticas, a Zona Cultural Praça da Estação, na área central de Belo Horizonte, não deslanchou. Formada por um conjunto de equipamentos, entre museus, praças e edifícios históricos, sequer recebeu placas indicativas, o que estava previsto para ocorrer até o fim do ano passado.
 
O decreto que instituiu o circuito estabeleceu prazo máximo de 12 meses, a partir da publicação, em junho de 2014, para que fosse criado um plano diretor que gerenciaria o espaço. A primeira reunião do conselho deliberativo, entretanto, criado há cerca de dois meses, só aconteceu no fim da semana passado.
 
O presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas Oliveira, garante que o atraso não terá impacto nas ações propostas para a área. “A Zona Cultural já está instalada, nós já temos uma gerência e as coisas estão acontecendo. Na realidade, a gente quer respeitar a diversidade do local, então não tem muito o que implementar ou alterar”, afirmou.
 
Espaços
 
 A Zona Cultural reúne 25 espaços, entre eles o importante Cine Theatro Brasil Vallourec, na Praça 7, e o Parque Municipal, a maior área verde da capital, com 180 mil metros quadrados. Concentra também locais pouco conhecidos da população, como a casa de shows Nelson Bordello.
 
Os principais objetivos da área que vai da Praça da Estação à Praça da Liberdade, passando pela rua da Bahia, é fomentar a diversidade, preservar e promover o conjunto arquitetônico, histórico e paisagístico do Centro de BH, além de promover a interação entre a comunidade e os visitantes.
 
Sobre a instalação das placas informativas, que trarão detalhes físicos e históricos de cada um dos espaços, o presidente da FMC informou que a demora deve-se à complexidade das informações.
 
“As placas, que na verdade são totens, estão em fase final de confecção. Não são placas simples, são interpretativas, por isso demandam tempo para serem concluídas”, disse Leônidas Oliveira.

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