Obras, tremores e problemas de drenagem derrubaram barragem em Mariana

Alessandra Mendes
amfranca@hojeemdia.com.br
29/08/2016 às 17:36.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:36
 (Alessandra Mendes/Hoje em Dia)

(Alessandra Mendes/Hoje em Dia)

O rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, foi consequência de uma cadeia de eventos, entre os quais problemas de drenagem, obras na barragem e tremores sísmicos registrados no dia do acidente. O relatório, feito pela empresa de advocacia internacional Cleary Gottlieb & Hamilton, foi apresentado na tarde desta segunda-feira (29). Segundo as conclusões do estudo, incidentes registrados desde 2009 explicam o processo de rompimento que, quando do momento dos tremores de terra, já estava bastante acelerado.

Um dos responsáveis pelo estudo, o professor emérito de Engenharia Civil pela Universidade de Alberta, no Canadá, Norbert Morgenstern, explicou como se deu a cadeia de eventos que resultou no acidente. “Obras que levaram ao aumento da liquefação; recuo do maciço que levou lama para baixo do maciço, sujeito a cargas impostas pelo alteamento; com o aumento de carga, gerado pelo abalo, houve a aceleração do processo”, explicou o especialista.

A importância dos abalos foi minimizada pelo próprio profissional, diante dos outros problemas. “A presença da lama foi fundamental para todo esse processo. O recuo do maciço foi construído em cima de lama e areia, e não apenas de areia”, afirmou Morgenstern.

Os tremores registrados no dia do rompimento, três ao todo, também afetaram o maciço do lado direito da barragem, que se manteve estável. O fato de o alteamento da estrutura do lado esquerdo ter sido construído em uma base composta por lama foi determinante, segundo o estudo feito.

Conforme as conclusões apresentadas, “Uma alteração no projeto trouxe um aumento na saturação que introduziu o potencial para liquefação. Como resultado de vários desenvolvimentos, lamas foram depositadas em áreas não previstas na ombreira esquerda da barragem e o alinhamento do maciço foi recuado da sua localização originalmente planejada. Como resultado desse recuo, existiam lamas abaixo do maciço que foram sujeitas ao carregamento que seu alteamento impôs”.

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Encomendado pelas empresas Vale, Samarco e BHP Billiton, responsáveis pela barragem de Fundão, o levantamento foi feito por quatro especialistas em um trabalho que durou cerca de 10 meses.

Apesar de apontar os problemas que resultaram no acidente, o estudo não entrou em questões primordiais como, por exemplo, se a empresa poderia ter feito algo para evitar o rompimento, se as obras de drenagem foram eficazes e suficientes, se a escolha pelo recuo do maciço esquerdo foi uma opção viável e se o empreendimento poderia ter sido paralisado por causa dos problemas registrados e relatados no levantamento.

Presentes na apresentação do estudo, os responsáveis pela Vale, Samarco e BHP Billiton se limitaram a pedir desculpas pelo ocorrido e se comprometeram a trabalhar para mitigar as consequências. Nenhum deles quis responder perguntas sobre os dados apresentados ou sobre as condutas das empresas registradas no documento.

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