Ocorrências de estelionato crescem até 25% no fim do ano

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
15/12/2017 às 21:54.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:17
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

A professora Kátia Eburneo mal havia assimilado a perda do filho, em um acidente de motocicleta no Anel Rodoviário de BH, em novembro, quando se viu diante de outro grande desgosto. Ela foi alvo de estelionatários que, utilizando documentos falsos, deram entrada no pedido do Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Dpvat). O benefício é destinado à família da vítima.

O caso não é isolado. De janeiro a outubro, mais de 28 mil estelionatos de várias modalidades foram registrados em Minas, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). Um crescimento de quase 9% em relação ao mesmo período de 2016, quando pouco mais de 26 mil ocorrências foram contabilizadas.

Segundo a Seguradora Líder, 16.690 fraudes no Dpvat foram identificadas de janeiro a novembro em todo país

E é no fim do ano que a população precisa estar ainda mais atenta para não cair no ‘conto do vigário’. Criminalista e conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), Virgínia Afonso frisa que ocorrências de estelionato podem crescer até 25% nesse período.

Em dezembro do ano passado por exemplo, conforme a Sesp, foram 688 casos apenas na capital mineira. O número representa 15% a mais em relação ao registrado no mesmo mês de 2015.

Mais comuns

Os tipos de golpes mais comuns, de acordo com Virgínia Afonso, estão ligados à emissão de falsos boletos ou o envio de links com vírus relacionados a promoções, aluguéis de casas na praia ou ofertas de passagens aéreas. Na maioria dos casos, as vítimas acreditam que estão fazendo um negócio vantajoso.

“O aluguel da casa na praia é clássico. O falsário publica na internet o anúncio com um preço mais baixo do que a média de mercado e pede ao interessado pelo contrato o adiantamento de um determinado valor para fazer a reserva do imóvel. Depois de receber o depósito, o golpista simplesmente desaparece”, explica.Maurício VieiraCriminosos só não conseguiram resgatar o seguro Dpvat porque a professora Kátia acionou a polícia 

Denúncia

Ao suspeitar que está sendo alvo de um golpe, a recomendação é registrar uma denúncia. Foi o que fez Kátia Eburneo.

Os criminosos chegaram a enviar uma documentação à empresa responsável pelo Dpvat, via Correios, com fotos de outras pessoas e assinaturas diferentes da professora. O processo, inclusive, chegou a ser iniciado. Porém, ao constatar que havia algo errado, ela procurou a Polícia Civil e uma investigação foi aberta.

“Me senti impotente, lesada. É um desgaste emocional enorme. Você está se reerguendo e se depara com essa situação. Por isso é importante entrar com os papéis o quanto antes, para evitar esse tipo de risco”, observa a professora.

para o ambiente digital

O número de fraudes cometidas em dezembro chama a atenção. Tanto no recorte estadual quanto nos dados relativos à BH, as ocorrências registradas neste mês superam a média mensal em 2016.

Para especialistas, a elevação está ligada ao aumento do fluxo de dinheiro nesse período. O pagamento do 13º salário, por exemplo, acaba se tornando uma oportunidade para que criminosos entrem em cena. O delegado da Polícia Civil Daniel Buchmuller de Oliveira explica que, nesse contexto, os meios digitais são campo fértil para golpes de todos os tipos. 

“Há links falsos com um vírus chamado Keylogger, onde as pessoas entram, digitam login e senha e têm os dados copiados. Muitas vezes são solicitadas atualizações de dados bancários e as pessoas não percebem que estão caindo em um golpe”, explica Oliveira. 

Foi por meio de uma transação feita em plataforma digital que Virgínia de Castro, advogada da concessionária GTS Automóveis, alega ter sido alvo de um golpe.

Ela afirma que duas transferências bancárias, totalizando cerca de R$ 40 mil, foram feitas a partir da conta da empresa no Santander, sem o consentimento do filho, responsável por movimentar a conta. “Essa operação necessitaria de comprovação com o celular do meu filho. Abrimos uma contestação e o banco simplesmente não deu retorno”, disse. 

Procurado pela reportagem, o Santander afirmou que “os valores contestados serão mantidos, uma vez que as transações foram validadas com as credenciais de segurança fornecidas pela instituição e que já eram de uso habitual do cliente”. Um boletim de ocorrência foi registrado e o caso deverá ser investigado.

Rigor

A Seguradora Líder, responsável pela gestão do Seguro Dpvat, informou por nota que a conclusão do processo referente à professora Kátia Eburneo só depende da apresentação de alguns documentos.

A companhia alegou que está atenta à atuação de grupos estruturados com o objetivo de burlar o benefício e admitiu que “há verdadeiras organizações criminosas, que tentam fraudar o sistema em volumes expressivos, lesando, em última instância, toda a sociedade brasileira”.

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