Passividade dos brasileiros gerou a indústria da seca

Do Hoje em Dia
28/09/2012 às 06:21.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:38

As reportagens que estão sendo publicadas pelo Hoje em Dia podem ajudar a aliviar o sofrimento dos castigados pela seca no Norte de Minas, se lidas pelas autoridades confortavelmente instaladas em gabinetes com ar condicionado, em Belo Horizonte e Brasília. O problema é crônico e se repete com certa periodicidade. Essas recorrências acabam por criar uma espécie de carapaça de insensibilidade em quem, por dever de ofício, deveria buscar soluções para as consequências dos fenômenos climáticos nas populações. Soluções imediatas e em médio e longo prazo.

Não há como evitar que ocorram intempéries desse tipo, principalmente no chamado Polígono das Secas. Mas existem, para minorá-las, soluções técnicas, como comprovaram diversos países, entre eles Israel, que recuperou áreas desérticas para a agricultura. Muitas dessas técnicas são conhecidas desde os tempos dos faraós. Mas, em qualquer época, é necessária vontade política para que tais soluções sejam adotadas. A imprensa pode ajudar a criar essa vontade. No Brasil, diante da passividade dos brasileiros, criou-se, na verdade, uma “indústria da seca”.

Além de carrear verbas públicas para bolsos de prefeitos e outras autoridades, essa “indústria” demonstrou grande poder no direcionamento de votos de eleitores que são enganados pelas promessas de soluções ou pelo atendimento imediato das demandas. Por exemplo, com o envio de água em caminhões-pipa. Um enorme dispêndio de dinheiro ou mesmo desperdício de água, como revela uma das reportagens. A decretação de estado de calamidade pública não costuma resolver problemas, mas pode beneficiar os empreendedores da “indústria da seca”, pois dispensa licitações para ações emergenciais de socorro à população.

A construção de barragens pode ser uma solução, mas, há algum tempo, um governador levou a Cemig a investir mais de US$ 100 milhões para a construção de barragens que não eram destinadas à geração de energia, mas a resolver o problema da seca no Vale do Jequitinhonha e Norte de Minas. Não resolveu. Por outro lado, deixar o problema do abastecimento de água nessas regiões carentes por conta da Copasa não é solução, pois esta empresa, com ações negociadas em bolsa, quer mesmo é remunerar bem os investidores.

O fato é que as autoridades que quiserem se debruçar sobre a questão podem aprender muito com os erros do passado, para não repeti-los. E, supostamente, devem encontrar acertos a serem imitados.

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