Perigo em dobro: estradas mineiras têm problemas de pavimentação e fiscalização

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
18/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:36
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

De um lado, trafegar por estradas com problemas de pavimentação e sinalização deficiente. Do outro, lidar com reflexos da fiscalização reduzida devido à contenção de gastos da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Um duplo desafio a ser enfrentado pelos motoristas que circularem pelas rodovias mineiras durante as férias de julho.

Os fatores podem transformar uma simples viagem em um perigo iminente. Os números não deixam dúvidas. No primeiro semestre do ano, 438 pessoas morreram em acidentes automobilísticos nas estradas de Minas – crescimento de 8% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a PRF-MG.Divulgação/Bombeiros / N/A

Grave acidente matou sete pessoas na BR-116

Como se esses números não fossem bastante, dados do portal do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) apontam que as principais estradas que cruzam o Estado possuem trechos que exigem atenção redobrada.

Um exemplo é a BR-251, em Montes Claros, no Norte de Minas, que tem pista irregular com sinalização ruim e muitos buracos. 

No outro extremo do Estado, em Matias Barbosa, na Zona da Mata, a MG-874 tem trechos com tráfego em meia pista devido a abatimento no lado direito da rodovia, o que obriga o condutor a trafegar por um espaço ainda mais estreito. 

Mas, os problemas não param por aí. Há rodovias em obras, com máquinas ocupando parte da pista, além de trajetos sem asfalto e com buracos. Segundo dados do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais (Deer), 26 obras relativas a ocorrências do período chuvoso ainda estão em andamento. 

O coordenador de engenharia do Dnit, Ronan Lana, explica que 90% da malha rodoviária mineira está pavimentada e que não há atrasos nos serviços de tapa-buracos e demais manutenções das rodovias no Estado. No entanto, ele alega que cada obra tem um orçamento específico. “Nesses casos, podem ocorrer atrasos”, afirma. 

Limitação

A necessidade de controlar gastos também vai impactar a segurança de quem estiver em viagem nas estradas mineiras. A PRF já está há duas semanas com a atuação limitada em todo país, conforme a Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF). 

Apesar de não informar o número de unidades fechadas em Minas, a sede da PRF no Estado, localizada em Contagem, na Grande BH, reduziu o atendimento administrativo, que era de 8h às 17h, para o horário de 9h às 15h. 

Sem previsão

No início do mês, o Hoje em Dia mostrou que agentes da PRF que atuam no posto de Sabará, na Grande BH, não fizeram rondas nos cerca de 100 quilômetros entre Belo Horizonte e João Monlevade. O trecho é a principal saída da capital para o litoral capixaba, pela BR-381, e está desguarnecido devido à falta de verbas.

O porta voz da FenaPRF, Fábio Jardim, afirma que, até o momento, a situação permanece a mesma e não há previsão para chegada de verbas. “Por ser em Minas, o problema é pior porque além de termos a maior malha rodoviária, somos um território de ligação entre outros estados”, completa. 

Mesmo duplicadas, rodovias precisam de mais sinalização

Até ontem, 6.428 acidentes haviam sido registrados nas rodovias mineiras em 2017, o equivalente a uma média 33 ocorrências por dia, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF-MG). Apesar de o total ser menor que o número registrado no mesmo período do ano passado (7.120), diante dos problemas estruturais e de fiscalização das estradas, a situação pode se agravar.

A avaliação é do engenheiro de transportes e trânsito Frederico Cabral da Silva. Ele explica que é difícil definir, entre a falta de policiamento e as más condições das vias, qual o pior problema. O especialista lembra que ambas as situações acontecem junto à imprudência dos motoristas.

Para ele, a prioridade, em um cenário de falta de verbas, deve ser melhorar a sinalização das estradas por toda Minas. “Mesmo que as vias não sejam duplicadas, as sinalizações vertical e horizontal precisam ser melhoradas”, observa. 

Riscos

Silva destaca, ainda, que as BR-262, BR-381 e BR-116 estão entre os trajetos mais perigosos porque agregam, ao longo da extensão, veículos de passeio em viagens de férias e caminhões transportando cargas como minério e madeira. 

“Além disso tudo e sem a devida fiscalização, ainda teremos o aumento do transporte clandestino. E, para piorar, os motoristas com carros sem condição de circulação vão poder transitar livremente”, acrescenta.

Além Disso

A BR-116 registrou, no último domingo (16), mais um grande acidente. Sete pessoas morreram e uma ficou ferida em Itambacuri, no Vale do Mucuri. A batida envolveu três veículos, sendo que um deles pegou fogo. Uma criança está entre os mortos.

O único sobrevivente foi o motorista do caminhão que transportava plásticos. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o condutor contou que um motociclista, que seguia no sentido Governador Valadares, perdeu o controle da direção ao passar por um caminhão-baú.

Ao invadir a contramão, a moto bateu de frente com o caminhão e pegou fogo. Os dois ocupantes morreram na hora. Na sequência, o caminhão tombou sobre uma Parati, matando as cinco pessoas que estavam no veículo. Com o impacto, o carro despencou de uma ribanceira de aproximadamente quatro metros. O trecho chegou a ficar interditado por várias horas.

Na BR-265, em Alvinópolis, no Sul de Minas, a capotagem de uma caminhonete resultou na morte de uma pessoa e deixou outras seis feridas no fim da noite do domingo. Uma mulher que estava na carroceria do veículo foi arremessada e não resistiu aos ferimentos.

Segundo a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o motorista da caminhonete teria tentado desviar de um animal, quando perdeu o controle da direção e capotou na pista.

Até ontem, 1.343 pessoas já tinham ficado gravemente feridas em acidentes ocorridos nas rodovias mineiras, conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

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