Pesquisa mostra diferença de rendimento entre universitários que usam maconha e não usuários

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
09/08/2018 às 15:23.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:51
No caso concreto que motivou o julgamento, a defesa de uma pessoa detida com três gramas de maconha pede que porte de maconha para uso próprio deixe de ser considerado crime (Arquivo HD)

No caso concreto que motivou o julgamento, a defesa de uma pessoa detida com três gramas de maconha pede que porte de maconha para uso próprio deixe de ser considerado crime (Arquivo HD)

Universitários que fumam maconha tendem a ter um rendimento inferior em relação àqueles que não usam a droga. Essa é a principal conclusão de uma tese de doutorado apresentada pelo economista Alvaro Alberto Ferreira Mendes Junior na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

De acordo com os dados apurados pelo pesquisador, 50,7% dos estudantes que fumam maconha semanalmente passaram direto em todas as disciplinas, enquanto que entre os não usuários a proporção é de 66,1%. Entre os entrevistados que apresentam um índice de risco alto ou moderado de dependência, a proporção dos que passaram direto nas disciplinas foi de 49,6%.

Para Alvaro, o desempenho acadêmico inferior entre os usuários da maconha pode ter explicações biológicas e sociais. Um estudo internacional publicado em 2012 indica que os jovens que fumam a droga tendem a apresentar uma queda de 8 pontos no QI, além de demonstrarem perdas no aprendizado e na retenção da memória.

“Por outro lado, a cannabis está imersa no que se chama de uma 'subcultura' específica, que tende a rejeitar padrões morais da sociedade de estudo e trabalho. As duas forças (biológica e social) tendem a agir juntas para derrubar o desempenho dos estudantes”, explica Alvaro, que prepara a transformação da tese em um livro.

Os dados usados estão presentes no “I Levantamento nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras”, feito através de uma parceria da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) do Ministério da Justiça e o Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (GREA/FMUSP), sediado na USP - a partir de entrevistas com estudantes de cem instituições de todo o país – sendo 51 públicas e 49 privadas.

Alvaro levou em conta também a classificação socioeconômica dos entrevistados e verificou que indivíduos de classes mais favorecidas tenderam a apresentar uma maior probabilidade de consumo nos últimos 12 meses. “Quanto maior a renda do universitário, maior a probabilidade de consumo. Por exemplo, os alunos que pertencem às classes A ou B, por exemplo, estão associados a 120% mais chances de consumo de cannabis quando comparados às classes C, D ou E”, afirma o economista, que é professor na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro.

Embora o estudo revele que a chance do uso da maconha seja maior entre estudantes mais abastados, pesquisas internacionais indicam que o risco de dependência é mais alto entre aqueles das classes C, D e E. “O impacto de frequências de consumo maiores entre os mais pobres pode ser explicado pelo que é chamado na literatura como 'tensões sociais'. Eles se referem a um conjunto de experiências negativas que implicam no afastamento das normas sociais e dos valores morais estabelecidos na sociedade. Em cenários sociais adversos, o consumo de cannabis seria uma forma de um indivíduo ganhar respeito entre os pares, principalmente em ambientes nos quais os padrões morais não estão plenamente difundidos”, explica o pesquisador.

Lobby pela legalização

Outra conclusão do estudo é que o lobby pela legalização da maconha é conduzido sobretudo por usuários, representantes da contracultura, fundações internacionais e especialistas atrelados a um dos movimentos anteriores. “Nesse sentido, não tende a existir uma preocupação altruísta dos proponentes da legalização em buscar a melhor política pública possível sobre a Cannabis”, afirma o pesquisador.

Para esta conclusão, ele usou os dados do II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II LENAD), que mensura as associações do consumo com as chances de um entrevistado apoiar políticas de legalização. A pesquisa, realizada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), visou um público mais vasto e não apenas de universitários.

Vale lembrar que a pesquisa não leva em conta as possibilidades medicinais da cannabis, temática debatida mundialmente – tanto que a venda da droga com finalidade terapêutica é permitida em parte de países como Estados Unidos e Canadá. O canabidiol (medicamento à base de cannabis), por exemplo, é usado para o controle de doenças neurológicas graves. Também não é raro encontrar a recomendação médica do uso da maconha para pessoas em tratamento de câncer – porque a droga evitaria náuseas e vômitos, além de estimular o apetite.

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