População de rua da capital cresce 57% em oito anos

Renata Galdino, Renato Fonseca e Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
26/04/2014 às 07:20.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:18
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Belo Horizonte já sabe quantos e quem são os moradores de rua na cidade. O resultado do Terceiro Censo da População em Situação de Rua, ao qual o Hoje em Dia teve acesso, identificou a presença de 1.827 pessoas nas calçadas, praças, baixios de viadutos, terrenos baldios ou pernoitando em albergues, abrigos e casas de passagem e de apoio.
 
O número de moradores é 57% maior que o do último censo, realizado em 2005, quando 1.164 pessoas viviam nessas condições. O novo levantamento foi feito pela prefeitura em parceria com o Departamento de Saúde Mental da UFMG, no dia 27 de novembro do ano passado.

Apesar do aumento, o professor Frederico Garcia, um dos coordenadores da pesquisa, afirma que a quantidade de pessoas em situação de rua não é considerada alta. “Isso por causa das políticas sociais, como o Bolsa Família, que procuram evitar que a população na rua evolua. No entanto, ainda é preciso melhorar a assistência para eles”, frisa.
 
Um dos fatores que levam o professor a alertar a necessidade de novas políticas públicas é o fato de a pesquisa ter apontado o envelhecimento da população de rua: 67% têm entre 31 e 50 anos.
 
Na avaliação de Frederico Garcia, eles estão indo para as ruas mais tarde, e um dos principais fatores são as brigas familiares. “Antes, as famílias eram coletivistas. Hoje, individualistas. A fragilidade das relações familiares leva mais facilmente à rupturas”.
 
O novo perfil demanda mudança na abordagem por parte da assistência social. “Essa população está exposta a frio, fome, doenças, drogas. Se não for feita prevenção ativa a partir de agora, pagaremos um preço alto lá na frente. É preciso, por exemplo, planejar o atendimento a pessoas acometidas por doenças degenerativas”, observa Garcia.
 
Trabalho

O coordenador garante que a maioria dos moradores de rua quer trabalhar, pois essa seria a condição principal para a saída deles da situação atual. Em 1998, época do primeiro censo, 4% da população de rua trabalhava com carteira assinada. Hoje, o índice saltou para 12,5% – aumento de mais de 200%. “O número poderia ser maior, mas essa turma é estigmatizada. Se falam para um possível empregador que moram em um albergue, ouvem que se aparecer uma vaga entrarão em contato. A ligação nunca acontece”.
 
O professor Frederico Garcia ressalta que mesmo os moradores tendo alguma renda, ainda não conseguem sair das ruas por causa da precariedade do trabalho, como salários baixos que não custeiam o aluguel. “Quase 65% são oriundos de outras cidades mineiras e outros estados, não têm parentes aqui. Chegam à procura de emprego e não sabem onde ir. O tempo passa, eles não conseguem cumprir o intento. Inicia-se um processo de empobrecimento e acabam indo para as ruas”, explica Garcia.
 
Esperado

Para a coordenadora nacional da Pastoral do Povo de Rua, Cristina Bove, já era esperado que o censo identificasse cerca de 2 mil pessoas nessas condições em Belo Horizonte. Segundo ela, a concentração na região Centro-Sul é favorecida pelas “maiores facilidades de eles tirarem o sustento”. Cristina também destaca que a preferência por dormir nas vias públicas, e não nos albergues, se deve às restrições impostas pelos abrigos.
 
Conforme Cristina Bove, o censo será fundamental para a elaboração de políticas públicas específicas, de acordo com o perfil encontrando na capital. “De uma maneira geral, a principal medida a ser tomada pelos governantes é a construção de moradias para essas pessoas. A política habitacional precisa ser revista. Pode se gastar muito menos com habitações do que com a manutenção de albergues”, aponta a coordenadora da Pastoral.
 
Na próxima quarta-feira, a Secretaria Municipal de Políticas Sociais vai repercutir os resultados em uma coletiva para a imprensa.

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