Portada secular vai para museu de São João del-Rei

Renato Fonseca - Hoje em Dia
05/04/2014 às 08:20.
Atualizado em 18/11/2021 às 01:57
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

SÃO JOÃO DEL-REI – Após mais de quatro décadas de espera, desde a retirada de um templo religioso mineiro e a ida para o interior de São Paulo, passando por árdua batalha nos tribunais, está definido o destino de um importante fragmento do patrimônio do Estado. A portada da antiga igreja de Bom Jesus de Matosinhos será levada para o Museu Regional, no Centro de São João del-Rei.   A decisão é do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com 12 metros de altura e quase três de largura, o portal de pedra-sabão é o que restou da igreja barroca construída em 1774. O local foi demolido em 1970 por ordem do então pároco, padre Jacinto Lovato, que vendeu os arcos para um fazendeiro de Campinas, falecido.   A determinação do Iphan, no entanto, gera polêmica. De um lado, o órgão do patrimônio garante que o museu é o espaço mais indicado em termos de segurança e preservação da história da peça sacra. Do outro, moradores e comunidade religiosa reivindicam a volta do exemplar da arquitetura do século 18 para o local de origem.   “Não basta criar um espaço e deixá-la exposta. É preciso oferecer condições de preservação. Além disso, no museu haverá um contexto histórico a ser aproveitado. As pessoas vão saber por meio de um profissional capacitado que aquela portada era de um igreja que foi demolida e agora esse material foi recuperado”, afirma a superintendente do Iphan em Minas, Michele Abreu Arroyo.   Porém, ela frisa que o Iphan está aberto a novas discussões junto à comunidade. “Até o momento essa é a decisão, pois não foi apresentada uma que tem total apoio da comunidade e que seja segura para a peça. Caso apareçam sugestões, vamos avaliar cada proposta”, diz.   O presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural confirma que o interesse da população é ver o portal no adro da igreja atual, construída no mesmo local da anterior. Segundo ele, no terreno pode existir ainda parte das ruínas da fundação do bem demolido. “A ideia é construir um memorial”.   Na semana passada, o Ministério Público Federal (MPF) realizou audiência pública para tratar do assunto. Outro obstáculo para a chegada do bem – que ainda está na fazenda paulista – em Minas é o transporte. Uma empresa especializada em restauração deverá ser contratada para trazer a peça a São João del-Rei. Ainda não está definido quem vai arcar com os custos.   Réplica do antigo templo emociona visitantes   Logo na entrada, o imponente portal salta aos olhos do visitante. No interior, a harmonia perfeita entre as pinturas da nave em estilo rococó e os altares laterais, que abrigam São Sebastião e Bom Jesus da Cana Verde. No centro, o que chama atenção são a riqueza de detalhes dos adornos dourados e a imagem do padroeiro.   Construída em tamanho reduzido, uma réplica da igreja original de Bom Jesus de Matosinhos completa 18 anos em 2014. A obra é do escultor Osni Paiva, que é nascido, criado e reside em São João del-Rei. Localizada nos fundos do quintal da casa dele, no bairro Pio XII, a capela se tornou importante ponto turístico da cidade.   “Muitas pessoas vêm aqui para conhecer como era a nossa igreja, datada de 1774, mas que foi demolida em 1970. Alguns moradores e até visitantes que conheceram o antigo templo se emocionam. É um suspiro na história”, conta Osni Paiva.   Ele conta que se inspirou em fotografias da época para “prestar a homenagem”, como faz questão de dizer. O trabalho demorou dois anos para ser concluído. Lá, existe uma peça remanescente da antiga igreja, um pedaço de pedra que fazia parte da entrada principal. O artesão é um dos que engrossam o coro de que o antigo portal deve voltar para a igreja. “Ele é do bairro e deve ficar aqui, não em um museu”.   Com exceção da portada, feita em cimento, e das paredes de alvenaria, o interior da capela é praticamente composto por madeira esculpida. Osni, inclusive, é reconhecido no Estado pelo dom de criar imagens sacras em madeira. Uma das mais recentes e apontadas como a mais importante é a de Francisca de Paula de Jesus (1810-1895), a Nhá Chica, beatificada no ano passado.   “É espetacular o trabalho do Osni. O bairro tem muita história, mas ela vem se perdendo ao longo dos anos. Essa réplica engrandece o patrimônio do município. Muitas pessoas, como eu, não tiveram chance de conhecer a antiga igreja, mas se impressionam quando veem a réplica”, diz Lucas Silveira, morador do bairro Matozinhos.

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