Praga chega à Pampulha: 'guerra ao besouro' mancha cartão-postal de BH

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
28/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:47
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

O besouro metálico, praga que tem motivado a supressão de centenas de árvores em Belo Horizonte, chegou ao principal cartão-postal da capital. Pelo menos dez árvores foram cortadas na orla da Lagoa da Pampulha, nessa quinta (27), a poucos metros da Igreja São Francisco de Assis – marca registrada do complexo moderno projetado por Oscar Niemeyer. A região foi elevada a Patrimônio Cultural da Humanidade há um ano.

O inseto ataca preferencialmente espécies da família bombacaceae (munguba e paineira). Segundo informações da Defesa Civil, cerca de 1.800 árvores estão sendo monitoradas na cidade. Só na regional Pampulha são 150. Caso elas representem alguma ameaça, poderão ser suprimidas. Pelo menos 300 já foram cortadas devido à presença do besouro.

No último dia 17, o complexo moderno da Pampulha celebrou um ano do título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco

A reportagem do Hoje em Dia acompanhou o processo de destocamento de algumas das espécies da orla. O interior dos troncos estava oco, como mostraram os profissionais que faziam o trabalho. Não bastasse a retirada dessa quinta-feira, ao longo dos 18 quilômetros de extensão da orla da lagoa há pelos menos 70 tocos de árvores, que podem ter caído ou sido cortadas.Lucas Prates / N/A

Destocamento aconteceu na Pampulha

Em nota, a Defesa Civil informa que “o objetivo das ações de supressão é de mitigar o risco de acidentes pela queda das árvores que pode matar uma pessoa e/ou destruir patrimônios”.

Para o biólogo e analista ambiental Diego Lara, o fato de o besouro ter chegado à Pampulha preocupa. “O risco que estamos correndo é de a ação atual não ser efetiva e a praga se alastrar em proporções mais difíceis de se conter”, pondera. “Estamos simplesmente cortando árvores. Mas quem nos garante que o besouro não esteja atacando outras árvores? Assim não vamos acabar com o problema”, acrescenta. 

Frequentadores da região questionam os cortes. “Será que não tinha nenhum tipo de remédio para matar esses animais? É triste ver um cartão-postal como esse ser degradado dessa forma”, afirma o aposentado Sérgio da Silva, de 58 anos. 

A policial civil Jaqueline Gonçalves, de 46 anos, que caminha no local três vezes por semana, se espantou quando viu a supressão das árvores. “Para mim, isso aqui é um descaso”, reclama. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente não se pronunciou sobre o assunto.

Além Disso

O corte das árvores se soma aos outros desafios já enfrentados na regional da Pampulha. Após o reconhecimento como Patrimônio Cultural da Humanidade, foram feitas promessas de adequação e melhoria do espaço à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Segundo o Coordenador da Comissão de Políticas Urbanas e Ambientais do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas, Sérgio Myssior, a supressão precisa vir acompanhada de um amplo programa de arborização para não afetar a imagem do local.Lucas Prates / N/A

Larva do besouro metálico pode chegar a 12 centímetros

“Mas o conjunto moderno da Pampulha precisa de muito mais. A revitalização da lagoa, dos edifícios, a resolução do imbróglio do Iate, a formulação dos roteiros turísticos“, afirma. 

A Fundação Municipal de Cultura disse que a retirada das espécies não deverá afetar a consolidação do complexo como patrimônio mundial. Segundo a instituição, as árvores não têm ligação com o título.

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